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Copa em três tempos: lições e legados do megaevento no Brasil

By 18/09/2014janeiro 23rd, 2018Notícias

Copa em três tempos: lições e legados do megaevento no Brasil

O Boletim Copa em Discu$$ão, editado pelos Núcleos Curitiba e Porto Alegre do Observatório das Metrópoles, apresenta o seu último número com uma análise das lições e legados da Copa do Mundo no Brasil. Destaque para temas como requalificação e revitalização urbana de Curitiba, áreas de acesso restrito, obras inacabadas e retomada das lutas urbanas.

Leia a seguir o Editorial do Copa em Discu$$ão nº 32, assinado pela professora Olga Firkowski.

 

Editorial

Ano III, n. 32, Curitiba, 17 de setembro 2014

www.copaemdiscussao.com.br

A Copa terminou, o que ficou depois da Copa??? A agitação dos preparativos deu lugar ao recolhimento das estruturas temporárias, dos tapumes, embora ainda sejam observadas placas de trânsito indicando a Fan Fest, a arena, dando as boas vindas aos turistas, dentre outras. As obras foram concluídas total ou parcialmente no mesmo compasso da maioria dos jogos das oitavas de final da Copa: nos últimos minutos do segundo tempo ou mesmo na prorrogação.

Que lições tirar para o futuro? Quais as fragilidades? Qual o peso das instituições? Qual a força dos movimentos sociais?

A grande expectativa acerca das mobilizações prometidas por distintos segmentos para o período da Copa, não se efetivou, mesmo porque a segurança foi redobrada, inclusive com o exército monitorando as ruas em várias cidades brasileiras. Novidades na paisagem urbana de Curitiba: novas faixas preferenciais de ônibus surgiram, sinalizadas em verde e amarelo; às vésperas do início dos jogos, o corredor Aeroporto-Rodoviária virou um imenso canteiro de obras, nunca tantos trabalhadores e máquinas foram vistos simultaneamente em ação: asfaltamento de vias, placas de sinalização de trânsito e indicando uso de bicicleta são vistas ao longo de toda sua extensão; caminhões com grama e palmeiras, modificaram a toque de caixa o canteiro central que restou na Av. das Torres.

Não se trata de defender se a cidade ganhou ou se a cidade perdeu. Há ganhos e há perdas, sempre. Talvez o ideal fosse avaliar que segmentos sociais e econômicos ganharam e quais perderam. No processo de viabilização da Copa no Brasil, ganharam os grupos hegemônicos e perderam os grupos hegemonizados ou, como muito bem afirmou Milton Santos, ganharam os homens e as firmas do tempo rápido e perderam os homens e as firmas do tempo lento: ganharam os homens e setores afinados com as dinâmicas mais globais da economia e perderam os homens e setores que estão à margem dessas dinâmicas, embora para esses tenha sobrado a genuína paixão pelo futebol, pois passaram longe das novas arenas, tendo em vista os altos preços dos ingressos.

Traduzindo, podemos afirmar que ganharam as grandes empresas, que acompanham a FIFA pelo mundo em suas ações, ganharam as empresas nacionais e locais mais bem preparadas para responder às exigências pautadas em padrões internacionais, perderam os pequenos comerciantes e os vendedores ambulantes cuja permanência não foi permitida no entorno da Arena; as empresas menores que não conseguem responder às exigências formais de contratação pública.

Assim, sempre há ganhadores e sempre há perdedores, resta dimensionar que jogo de forças queremos priorizar em nossa sociedade, quem queremos empoderar e quem queremos refrear. Essa é uma questão que merece ampla reflexão, sobretudo porque, passada a Copa, estamos em período eleitoral…

Com o final da Copa, também encerramos a publicação desse Boletim. Foram três anos de trabalho constate, o primeiro número foi editado em agosto de 2011, agradecemos aos colaboradores, organizadores e bolsistas que sempre tiveram uma contribuição a oferecer para a qualificação das leituras sobre esse evento em Curitiba, Porto Alegre e no Brasil. Agradecemos aos leitores, sem os quais os textos não teriam significado…

As reflexões sobre a relação megaevento e cidade no Brasil não terminam por aqui, elas se desdobram ainda tendo em vista as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Esperamos que as informações, dados e análises apresentadas ao longo desses 3 anos no Boletim Copa em Discussão possam servir de parâmetro e de registro daquilo que vivenciamos nesse período e que incentivem novas buscas pela compreensão qualificada dos processos que se desenvolvem em nossas cidades e permitam descortinar o jogo de forças entre os agentes envolvidos.

Obrigada pelas contribuições e pela leitura!

Olga Firkowski

 

Acesse a última edição do Boletim Copa em Discu$$ão.

 

Publicado em Notícias | Última modificação em 18-09-2014 02:48:07