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O INCT Observatório das Metrópoles promove o lançamento do livro “Estudos Urbanos Comparados: oportunidades e desafios da pesquisa na América Latina”, resultado do projeto de cooperação internacional “Para além das metrópoles globais: análise comparada das metrópoles secundárias no Brasil (Curitiba) e na Argentina (San Miguel de Tucumán)“. Organizado pela profª Olga Lúcia Firkowski, a publicação aponta para a intensificação das transformações urbanas ligadas à globalização, processo que tem gerado a reestruturação das metrópoles latino-americanas e o aprofundamento da precariedade das condições de moradia, de trabalho e de vida para grande parte dos seus habitantes.

O lançamento oficial do livro “Estudos Urbanos Comparados: oportunidades e desafios da pesquisa na América Latina” ocorreu, na última segunda-feira (16 de maio de 2017), no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e contou com debate “América Latina e suas conjunturas atuais” com a participação dos convidados Profª. Drª María Mónica Arroyo (Geografia-USP) e do pesquisador Dimas Floriani (UFPR, CASLA).

O livro também será lançado, no dia 24 de maio, durante o XVII Encontro Nacional da ANPUR (ENANPUR), que acontece em São Paulo.

Segunda a profª Olga Lucia Firkowski, coordenadora do Núcleo Regional Curitiba do Observatório das Metrópoles, o livro é composto de duas partes. A primeira intitulada A pesquisa comparada: elementos teórico-conceituais, reúne em quatro capítulos as contribuições dos convidados que proferiram palestras e participaram de mesas-redondas durante a realização do Colóquio em Estudos Urbanos Comparados – CEUC, em Curitiba, Paraná, entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro de 2015.

Na parte 2, estão alguns textos selecionados relativos ao projeto de cooperação desenvolvido entre Brasil e Argentina, mais especificamente no âmbito do Edital no 029/2012 do Programa CAPES-MINCYT, Processo Seletivo 2012, na modalidade Grupo de Pesquisa Conjunto, realizado entre os anos de 2013 e 2015. Tal cooperação se deu entre o Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná e o Observatório de Fenómenos Urbanos y Territoriales da Facultad de Arquitectura y Urbanismo – Universidad Nacional de Tucumán, na Argentina, que desenvolveram o projeto “Para além das metrópoles globais: análise comparada das dinâmicas metropolitanas em metrópoles secundárias no Brasil (Curitiba) e na Argentina (São Miguel de Tucumán)”.

“O conteúdo do livro aponta para questões que se apresentam diante do quadro de intensificação das transformações metropolitanas na América Latina ligadas à globalização, que tendem a aprofundar a precariedade das condições de moradia, de trabalho e de vida de grande parte dos habitantes, integrando, por exemplo, a produção imobiliária formal da moradia dos setores populares aos mecanismos de acumulação financeira, reforçando uma urbanização excludente na região”, aponta Olga Firkowski no texto introdutório da publicação.

“Nesse sentido, o avanço de modelos econômico-políticos neoliberais indica a tendência à continuidade da instalação de milhões de latino-americanos em espaços urbanos precários, informais, sem a regularidade urbanística necessária às condições mínimas de habitabilidade e sem acesso formal à propriedade fundiária urbana. Com isso, reforça-se potencialmente a tendência de mercantilização do território, de privatização do fundo público e de vulnerabilização e segregação socioespacial”, completa a professora.

ESTRUTURA DO LIVRO

O livro “Estudos urbanos comparados: oportunidades e desafios da pesquisa na América Latina” se propõe a registrar o conhecimento produzido tanto por ocasião do Colóquio quanto da realização da pesquisa comparada.

A Parte 1 é composta por quatro capítulos: o capítulo 1, intitulado Oportunidades e desafios da pesquisa urbana comparada, de autoria de Maria Encarnação Beltrão Sposito, oferece uma reflexão acerca do sentido e pertinência do termo comparação no âmbito das Ciências Sociais e, principalmente, da Geografia. Sposito parte dos questionamentos “A comparação é um método? É uma metodologia? Um conceito? Um princípio? Um procedimento?” e estrutura seu texto a partir de quatro planos de aproximação sobre o tema: i) todos que trabalham com pesquisa empírica estão envolvidos com algum tipo de comparação; ii) a comparação é um procedimento intelectual e não um método; iii) há fundamentos que orientam o raciocínio e propiciam a articulação entre o real e o abstrato; iv) os conceitos são orientadores do procedimento intelectual da comparação. Em seguida, aponta os conceitos que tem adotado nas pesquisas que desenvolve.

O capítulo 2, intitulado La comparación como recurso en las teorías urbanas latinoamericanas: trayectos recientes de una metodología invisible, de autoria de Rodrigo Hidalgo, Daniel Santana e Abraham Paulsen, parte do pressuposto de que a comparação é uma ferramenta metodológica importante para o campo dos estudos urbanos, a despeito de ser uma “metodologia invisível” na maior parte dos textos. Para comprovar o argumento de que a comparação está sempre presente nos textos, mas não é, por si só, objeto de reflexão, os autores dedicam-se a um exercício de bibliometria, por meio da análise de 212 textos publicados em 13 livros da Série Geolibros, entre 2003 e 2014, identificando categorias transversais que foram objeto de comparação (globalização, neoliberalismo, metropolização, gentrificação, governança, reestruturação produtiva, produção imobiliária, mobilidade e planejamento), além das áreas de estudo e as escalas que são mais recorrentes nas análises comparadas.

Como pensar o urbano na América do Sul? é o título do capítulo 3, de autoria de Rosa Moura. Nele, a autora apresenta questões acerca das especificidades do urbano na América do Sul, orientadoras de trabalho em desenvolvimento na linha de pesquisa Rede Urbana e Território, em sua escala continental, coordenada pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada – IPEA. A base de dados trabalhada é aquela fornecida pela Divisão de População das Nações Unidas (2014), que oferece informações sobre as aglomerações urbanas com população superior a 300 mil habitantes em 2014.

A autora conclui que o urbano na América do Sul é “diverso, concentrado, denso, móvel, desigual, conectado, excludente, por vezes disperso; organizado em sistemas de cidades que interatuam, que enfrentam fronteiras nacionais e geográficas. Um urbano que desafia a teoria urbana, por exigir novos enfoques de ordem epistemológica, e que traz a reboque políticas públicas descontextualizadas e geridas com pouca austeridade”.

No capítulo 4, José Ricardo Vargas de Faria apresenta algumas Notas sobre estudos urbanos comparados: breves considerações sobre as propriedades de posição, situação e trajetória na comparação entre metrópoles, a partir da leitura atenta dos textos apresentados em uma das mesas do Colóquio, qual seja, Resultados de pesquisas urbanas comparadas. No referido capítulo, o autor tece considerações sobre a natureza da comparação estabelecida entre as metrópoles de Curitiba no Brasil e Tucumán na Argentina, permitindo aos leitores que se apropriem do conjunto de temas tratados na mesa e na pesquisa comparada que deu origem ao próprio Colóquio.

A Parte 2 do livro, também formada por quatro capítulos, apresenta os resultados de algumas das pesquisas realizadas em conjunto pelas equipes brasileira e argentina.

No capítulo 5, Curitiba/Brasil e San Miguel de Tucumán/Argentina: possibilidades e limites de pesquisa comparada, Olga Lucia Castreghini de Freitas-Firkowski e Marta Delia Casares apresentam texto reflexivo acerca das motivações da pesquisa comparada entre Curitiba e Tucumán, além de considerações a respeito da inserção de ambas as metrópoles nas suas respectivas redes urbanas nacionais. Tal texto possibilita compreender as origens do trabalho em conjunto, os temas prioritários de pesquisa e os desdobramentos decorrentes.

Políticas habitacionales en las metrópolis de Tucumán – Argentina y Curitiba – Brasil. Elementos para un abordaje comparado (2000 – 2010) é como se intitula o capítulo 6, escrito por Natalia Paola Czytajlo, Madianita Nunes da Silva e Marta Casares, que analisa as políticas habitacionais nas metrópoles estudadas. São enfatizados dois programas nacionais/federais: o Programa Federal de Construcción de Viviendas, na Argentina, e o Programa Minha Casa Minha Vida, no Brasil, por meio da inserção de indicadores relativos à localização, número de empreendimentos e unidades habitacionais, financiamento e inversão. Os resultados evidenciam questões associadas ao déficit habitacional, ao direito à moradia e ao acesso à cidade, bem como aos processos de metropolização nos casos estudados.

O capítulo 7, intitulado Produção das favelas e villas e estruturação das metrópoles de Curitiba – Brasil e Tucumán – Argentina, de autoria de Madianita Nunes da Silva e Natalia Paola Czytajlo, analisa a produção desses espaços de moradia a partir da década de 1990, período marcado pelo crescimento da informalidade em toda a América Latina. As autoras constatam que a produção das favelas e villas desempenha um papel preponderante na atual fase de estruturação espacial das metrópoles estudadas, identificando-se a emergência de novas relações entre centro e periferia e o aprofundamento da heterogeneidade e da fragmentação socioespacial. Além disso, concluem que o período foi marcado pela ampliação da dificuldade de acesso à terra urbanizada e formal por parte das classes populares, com aprofundamento das desigualdades socioespaciais. De acordo com as autoras, a análise comparada permite afirmar que as produção das favelas e villas constitui um dos fenômenos relevantes para a compreensão da metropolização latino- americana na atual fase da urbanização.

Finalmente, no capítulo 8, El paisaje en los processos de planificación. Desafíos emergentes para las metrópoles de Tucumán y Curitiba, María Paula Llomparte Frenzel e Patricia Alejandra Herrero Jaime tomam a paisagem como uma dimensão de análise nos processos de planejamento, por meio de uma leitura diacrônica-valorativa dos planos urbanísticos tanto de Curitiba quanto de Tucumán. Concluem que a paisagem não é uma dimensão explícita nesses planos, mas uma dimensão interpretativa presente nas propostas de espaço público e áreas verdes, no manejo de recursos naturais, dentre outros. Afirmam, ainda, que a gestão da paisagem demanda a elaboração de instrumentos particulares para o reconhecimento de sua diversidade, a visibilização dos valores nela contidos, a valorização da paisagem degradada etc.

Faça o download do livro Estudos urbanos comparados: oportunidades e desafios da pesquisa na América Latina.