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Infraestruturas das Copas: Alemanha, África do Sul e Brasil

Um dos artigos de destaque da Revista Cadernos Metrópole nº 30 avalia se as infraestruturas – estádios e sistemas de transporte – construídas para as Copas da Alemanha, África do Sul e Brasil constituem legado positivo para os países-sede. O trabalho aponta que no caso do Brasil, os investimentos em sistemas de transporte não atendem as reais necessidades da população; e, diferentemente da Alemanha, na África do Sul os estádios estão em grande parte subutilizados e com dificuldade para serem mantidos.

O artigo “Infraestruturas nas Copas do Mundo da Alemanha, África do Sul e Brasil”, de Regina Meyer Branski, Elisa Eroles Freire Nunes, Sérgio Adriano Loureiro, Orlando Fontes Lima Jr , é um dos destaques do Dossiê: “Mobilidade urbana nas metrópoles brasileiras”, da Revista Cadernos Metrópole nº 30.

 

Abstract

Brazil will host the FIFA World Cup in 2014, which is a worldwide event that occurs every four years and is responsible for moving a large number of people. The preparation to host the World Cup requires high investments in infrastructure that often remains underutilized after the event. The objective of this research is to evaluate whether the infrastructure (stadiums and transport systems) built for the Germany, South Africa and Brazil World Cups are positive legacies for the host countries. The methodology was case study, which was developed from secondary data. The study showed that (1) in Brazil, investments in transportation systems do not meet the host cities’ real needs, and (2) unlike what happened in Germany, in South Africa stadiums are underutilized, and there are difficulties to maintain them. The perspectives to Brazil are not good and there are great chances that the country will face problems that are similar to those of South Africa.

INTRODUÇÃO

O Brasil será a sede da Copa de Futebol em 2014, um dos maiores eventos esportivos do mundo. De acordo com a Fédération Internationale de Football Association (Fifa), quase 31 milhões de pessoas já assistiram pelo menos um dos 708 jogos realizados na Copa do Mundo desde 1930, uma média de 44 mil pessoas por jogo (Fifa, 2012). Sediar uma Copa significa disponibilizar infraestrutura adequada para a realização de 64 partidas de futebol e hospedar e garantir o deslocamento, durante um mês, de 32 equipes, suas comitivas e torcedores vindos de todas as partes do mundo. Assim, a preparação para receber esse evento demanda dos países um volume significativo de recursos investidos na construção e/ou reforma dos estádios e, também, em sistemas de transporte (mobilidade urbana e infraestruturas como rodovias, aeroportos, portos e ferrovias).

A Fifa argumenta que a Copa traz para as cidades vários legados positivos como crescimento do turismo, capacitação da mão de obra e melhorias nas infraestruturas, além de divulgar a imagem do país para o mundo (Fifa, 2012). Mas, vários autores discutem se há de fato ganhos efetivos para os países que sediam grandes eventos (Cornelissen e Swart, 2006; Lee e Taylor, 2005; Matheson e Baade, 2004; Matheson, 2009, etc.). De modo geral, os autores observam que há poucos casos de sucesso e muitos relatos de problemas e dificuldades enfrentados pelos países. Entre as razões para os maus resultados estão:

• o custo final das obras quase sempre superior ao previsto. Na Copa 1994, nos Estados Unidos, houve prejuízo de 9 bilhões de dólares ao invés do lucro estimado de 4 bilhões (Matheson e Baade, 2004). No Japão e Coréia do Sul, na Copa de 2002, os custos das obras de infraestrutura foram bem superiores aos previstos inicialmente. No Brasil, o custo atual estimado está quase 300% maior que o previsto em 2007 (Brasil, 2012);

• número de turistas menor do que o esperado. Embora a Fifa afirme que haverá um crescimento no turismo, o número de visitantes pode ser equivalente ao de outros períodos, ou até mesmo inferior como ocorreu, em 2002, na Coreia (Lee e Taylor, 2005). Isso acontece porque muitos turistas usuaisevitam viajar na Copa (Matheson, 2009), mas também porque muitos deles pertencem à população local. Na África do Sul, por exemplo, mais de 60% da renda obtida na Copa foi resultado do turismo realizado pelos próprios sul-africanos (Cottle, 2011);

• e, finalmente, prejuízos decorrentes do mau uso das infraestruturas. Dos dez estádios, preparados pela Coreia para a Copa, somente cinco são utilizados com regularidade (Cornelissen e Swart, 2006). E muitos dos investimentos em transporte não priorizam as reais necessidades das populações locais, mas sim os interesses dos organizadores do evento (Essex e Chalkley, 2004; Higham, 1999; Kassens, 2009; Pillay e Bass, 2012).

Sediar a Copa do Mundo, portanto, diferentemente do propagado pela Fifa, não garante ao país um legado positivo. E, até mesmo as infraestruturas, consideradas por muitos como o legado mais importante, merecem uma análise mais criteriosa. O objetivo do trabalho é avaliar se as infraestruturas – estádios e sistemas de transporte – construídas para as copas da Alemanha, África do Sul e Brasil constituem um legado positivo para os países-sede. Cabe esclarecerque, além de certa imprecisão, as informações levantadas não tem o mesmo grau de profundidade para os três países estudados. Mesmo assim, sua sistematização permite estabelecer comparações e buscar o entendimento do papel dos legados nas copas em diferentes contextos.

O trabalho está organizado em quatro seções, além da introdução e conclusão: exigências impostas aos países sede pela Fifa, metodologia, sistematização das informações sobre estádios e sistemas de transporte e avaliação dos legados deixados para os países-sede. A metodologia utilizada foi estudo de casos a partir de dados secundários.

Para ler o artigo completo “Infraestruturas nas Copas do Mundo da Alemanha, África do Sul e Brasil”, acesse a edição nº 30 da Revista Cadernos Metrópole.

 

Leia também:

Dossiê: Mobilidade urbana nas metrópoles brasileiras

 

 

Última modificação em 17-04-2014 18:24:30