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As metrópoles regionais do Nordeste mantêm, ainda hoje, um alto padrão de segregação e desigualdade social, caracterizando seus territórios como periféricos e desiguais.  Salvador, por exemplo, permanece como um espaço de baixas remunerações, com 70,9% dos trabalhadores recebendo até dois salários mínimos. Recife passa por uma dinamização econômica a partir de meados dos anos 2000, porém permanece a condição de metrópole regional incompleta, periférica e desigual. E Fortaleza mantém, ainda hoje, um quadro de macrocefalia na estruturação da sua rede urbana, marcada por disparidades socioespaciais, concentração de investimentos públicos e privados.

A Rede Nacional INCT Observatório das Metrópoles promoveu, no período de 9 a 11 de dezembro de 2015, o Seminário Nacional As Metrópoles e as transformações urbanas: desigualdades, coesão social e governança democrática. O evento, realizado no Rio de Janeiro, reuniu o Comitê Gestor do Observatório e os coordenadores regionais para debater e consolidar uma síntese analítica sobre as mudanças e permanências relativas às principais regiões metropolitanas brasileiras.

O evento também serviu para o lançamento oficial da Coleção Metrópoles: transformações na ordem urbana. Lançada em parceria com a Editora Letra Capital e com apoio da FAPERJ, da Capes e do CNPq, a coleção é mais um resultado da Rede Nacional de Pesquisa INCT Observatório das Metrópoles que há mais de 15 anos vem consolidando um trabalho em rede multidisciplinar, de produção de conhecimento científico, de metodologias e ferramentas para a pesquisa da questão metropolitana.

A seguir alguns pontos da análise-síntese das metrópoles regionais do Nordeste, como também disponibilizamos as Apresentações (em formato pdf) divulgadas no seminário nacional.

METRÓPOLES REGIONAIS DO NORDESTE

Metrópoles brasileiras na ordem urbana: Salvador

Gilberto Corso e Inaiá Moreira de Carvalho, do Núcleo Salvador – com Luiz Cesar Ribeiro no lançamento da Coleção Metrópoles: transformações na ordem urbana

A equipe do Núcleo Salvador do INCT Observatório das Metrópoles, coordenado pela Profª Inaiá Moreira de Carvalho, apresentou uma síntese-analítica sobre a metrópole baiana durante o Seminário Nacional As Metrópoles e as transformações urbanas: desigualdades, coesão social e governança democrática.

A base para a produção da síntese foi o livro Salvador: transformações na ordem urbana, elaborado por uma equipe interdisciplinar de especialistas mas escrito em uma linguagem acessível, suas reflexões contribuem não apenas para uma melhor compreensão da realidade pesquisada como para uma visão mais ampla das características e das condições de vida nesse grande centro brasileiro.

Veja a Apresentação do Núcleo Salvador.

SÍNTESE-ANALÍTICA. Segundo Inaiá Moreira de Carvalho e Gilberto Corso Pereira, as mudanças urbanas da última década vêm reproduzindo e reforçando os padrões de segregação e as desigualdades que se conformaram historicamente na metrópole de Salvador.

“Em relação à estrutura produtiva e ao panorama ocupacional, a metrópole baiana continua pobre, segregada, com uma inserção periférica no quesito força de trabalho no país. É verdade que, a partir de 2004, o emprego tem crescido, com um avanço em termos de sua formalização. As taxas de desemprego caíram, o peso dos ocupados por conta própria e dos trabalhadores sem carteira assinada recuou, a remuneração dos trabalhadores experimentou certa recuperação, e a proporção de moradores pobres e indigentes também se reduziu. Mas, ainda assim, as referidas taxas ainda representam quase o dobro da média nacional, elevando-se ainda mais fora do núcleo metropolitano e entre as mulheres, os negros, os jovens e aqueles menos escolarizados”, argumenta Inaiá e completa:

“A maioria dos ocupados se encontra vinculado a atividades que não se destacam pela geração de postos de qualidade, como o comércio, os serviços tradicionais e a construção civil. A metrópole de Salvador se mantém como um espaço de baixas remunerações, com 70,9% dos trabalhadores percebendo até dois e apenas 10% acima de cinco salários mínimos. A precariedade ocupacional se mantém bastante expressiva na região, assim como os níveis de pobreza e de indigência da população”.

Já em relação à estrutura urbana, segundo o professor Gilberto Corso Pereira, a RM de Salvador vem sendo afetada, nos últimos anos, por mudanças que têm se mostrado comuns às grandes metrópoles e a outras cidades do Brasil e da América Latina. Entre essas mudanças, destacam-se: uma expansão para as bordas e para o periurbano, assim como o esvaziamento, a decadência ou a gentrificação de antigas áreas centrais; a edificação de equipamentos de grande impacto na estruturação do espaço urbano; e a difusão de novos padrões habitacionais e inversões imobiliárias destinadas aos grupos de alta e média renda, com a proliferação de condomínios verticais ou horizontais fechados, que ampliam a autossegregação dos ricos, a fragmentação e as desigualdades urbanas, assim como revelam uma afirmação crescente da lógica do capital na produção e reprodução das cidades.

“No seu conjunto, as mudanças e os processos vêm reproduzindo e reforçando os padrões de segregação e segmentação e as desigualdades que se conformaram historicamente na metrópole de Salvador”, explica Gilberto Corso.

Faça no link a seguir o download do livro Salvador: transformações na ordem urbana.

Metrópoles brasileiras na ordem urbana: Recife

Maria Ângela de Almeida Souza, Lívia de Miranda e Jan Bitoun do Núcleo Recife do Observatório das Metrópoles no lançamento da coleção “Metrópoles: transformações na ordem urbana”

A equipe do Núcleo Recife do INCT Observatório das Metrópoles, coordenado pela Profª Maria Ângela de Almeida Souza, apresentou uma síntese-analítica sobre a metrópole pernambucana durante o Seminário Nacional As Metrópoles e as transformações urbanas: desigualdades, coesão social e governança democrática.

A base para a produção da síntese foi o livro Recife: transformações na ordem urbana, discute as transformações na ordem urbana da Região Metropolitana do Recife, no período 1980-2010, à luz do debate atual sobre as metrópoles contemporâneas, visando um estudo comparativo das metrópoles brasileiras.

Destaca a profunda inversão de conjuntura por que passa a RM Recife, que, de estagnação e perda relativa de influência regional, nas décadas de 1980 e 1990, passa a vivenciar uma intensa dinamização econômica, especialmente a partir de meados dos anos 2000, com a implantação de grandes empreendimentos industriais e imobiliários em áreas distantes do polo. Processo este que não reverte a condição de metrópole regional incompleta, periférica e desigual, que define a metrópole do Recife desde a sua constituição.

Veja a Apresentação do Núcleo Recife.

SÍNTESE-ANALÍTICA. Uma profunda inversão de conjuntura caracteriza o processo de mudança na metrópole do Recife, nas últimas décadas. De estagnação e perda relativa de influência regional, nas décadas de 1980 e 1990, a região passa a vivenciar uma intensa dinamização econômica e promessa de reindustrialização, especialmente a partir de meados dos anos 2000. Permanece, contudo, a condição de metrópole regional incompleta, periférica e desigual, que a caracteriza desde a sua constituicão.

De acordo com Maria Ângela de Almeida Souza, Recife é vista como uma metrópole incompleta seguindo a conceituação de Milton Santos (1982) que afirmava: “As metrópoles incompletas resultam de uma transformação quantitativa e qualitativa das grandes cidades já existentes sob o impacto das modernizações, que são direta ou indiretamente responsáveis pelas transformações da demografia, do consumo e da produção, na cidade e na região. Em que pese à sua incapacidade de proceder à macro-organização do território, as metrópoles incompletas não dispõem da totalidade dos meios necessários a essa dominação, sendo então obrigadas a completar-se alhures. Podem fazê-lo quer no próprio país, quando este já dispõe de uma metrópole completa […], quer no estrangeiro […].” ( SANTOS, 1982, p. 60).

Já o termo periférica diz respeito à inserção de Recife na “periferia marginalizada conformada pelos estados do Nordeste”, o que a caracteriza como metrópole periférica no contexto mais amplo de um país da semiperiferia da economia mundial.

Historicamente desigual, a metrópole do Recife pode ser definida, em certa medida, como o foi a metrópole de São Paulo, também de acordo com Milton Santos: “Nela se justapõem e superpõem traços de opulência, devidos à pujança da vida econômica e suas expressões materiais e sinais de desfalecimento, graças ao atraso das estruturas sociais e políticas. Tudo o que há de mais moderno pode aí ser encontrado, ao lado das carências mais gritantes”. (SANTOS, 1990, p. 13)

Aspectos das mudanças e permanências que caracterizam a  Região Metropolitana do Recife, nesta nova etapa de expansão do capitalismo brasileiro são destacados, de modo sintético, nos itens a seguir.

– Mudanças na espacialização das atividades econômicas e do mercado de trabalho criam novos polos de desenvolvimento, reforçando a perda de representatividade relativa do município polo na região e seu perfil terciário.

– Mudanças e permanências na organização social do território reproduz e reforça os padrões de desigualdade social e de oportunidades que conformaram historicamente a metrópole do Recife.

– O setor imobiliário empresarial conduz mudanças significativas na organização social do território metropolitano, permanecendo a concentração fundiária na periferia e o padrão segmentado em termos sociais e espaciais da produção de moradias.

– Mudanças nas formas de representação popular e de mobilização social, especialmente em torno da moradia, expressam novos padrões de governança urbana.

Faça no link a seguir o download do livro Recife: transformações na ordem urbana.

Metrópoles brasileiras na ordem urbana: Fortaleza

Renato Pequeno e Clélia Lustosa do Núcleo Fortaleza do Observatório – com Luiz Cesar Ribeiro no lançamento da Coleção “Metrópoles: transformações na ordem urbana”

A equipe do Núcleo Fortaleza do INCT Observatório das Metrópoles, coordenado pela professora Maria Clélia Lustosa e Eustógio Dantas, apresentou uma síntese-analítica sobre a metrópole cearense durante o Seminário Nacional As Metrópoles e as transformações urbanas: desigualdades, coesão social e governança democrática.

A base para a produção da síntese foi o livro Fortaleza: transformações na ordem urbana, lançado em julho de 2015 oferecendo a análise mais completa sobre as três décadas de mudanças urbanas da quinta maior região metropolitana brasileira.

Veja a Apresentação do Núcleo Fortaleza.

SÍNTESE-ANALÍTICA. Segundo os professores Renato Pequeno e Maria Clélia Lustosa, as transformações urbanas da metrópole Fortaleza se inserem em um cenário de globalização da economia nas últimas décadas, atestados por um permanente processo de reestruturação produtiva, o qual ganha formas diversas desde a implementação de políticas governamentais inseridas num espectro que abrange do neoliberalismo ao neodesenvolvimentismo.

Nesse sentido, a metrópole de Fortaleza apostou, nesse período, em um programa de desenvolvimento urbano com foco no conceito de cidade estratégica, estimulando a competitividade entre as cidades, em detrimento do desenvolvimento regional e da cooperação intermunicipal.

O processo de industrialização, por exemplo, ocorrido no estado nas últimas décadas, apesar da dispersão industrial por municípios com função de centro regional, tem reforçado o crescimento da importância da Região Metropolitana de Fortaleza e alterado profundamente sua configuração espacial em função do porte e da quantidade de empreendimentos do setor secundário instalados no período. Por um lado, nota-se a presença de concentrações industriais nos municípios da RMF periféricos à capital, com destaque para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém; por outro, as antigas localizações do setor secundário presentes no tecido urbano da capital passam a ser alvo de processos de renovação urbana.

 

No âmbito do turismo, é evidente sua expansão sobretudo com as facilidades e os serviços implementados na capital e nos atrativos dispersos ao longo do litoral, bem como as infraestruturas que viabilizam a conexão de Fortaleza aos destinos do turismo de sol e mar, inclusive extrapolando os limites político-administrativos da região metropolitana.

 

“A intensificação destes fluxos ganha maior intensidade em razão do histórico processo de implantação de loteamentos para segunda residência à beira-mar das famílias de classes mais abastadas desde os anos 1960. Somados, estes processos corroboram a evidente especulação imobiliária que ameaça permanentemente comunidades tradicionais e suas práticas culturais. Com isso, a RMF cada vez mais tende a ser estendida ao longo do litoral, inclusive com a recente incorporação de novos quatro municípios à região metropolitana em 2014, no caso: Paracuru, Paraipaba, São Luís do Curu e Trairi”, explica Renato Pequeno na apresentação do estudo.

 

Para além da predominância de Fortaleza, algumas dinâmicas merecem ser aqui enfatizadas na escala do estado: a concentração da população nos municípios de médio porte e nos centros regionais; o crescimento das taxas de urbanização nos municípios; o maior crescimento demográfico nos municípios situados ao longo do litoral, nas proximidades da RMF e mesmo daqueles periféricos a Fortaleza.

Faça no link a seguir o download do livro Fortaleza: transformações na ordem urbana.

Última modificação em 17-12-2015 16:45:26