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Daniel Guth, da Ciclocidade

Qual o número de usuário de bicicletas no Brasil? Esse número foi ampliado nos últimos anos? Ou isso não ocorreu? E quais as barreiras para ampliar o uso da bicicleta como alternativa de transporte nas cidades brasileiras? No artigo “Migração modal: por que estamos perdendo ciclistas diariamente”, Daniel Guth (Ciclocidade) parte de uma contextualização histórica da bicicleta e da mobilidade urbana no Brasil a partir de marcos legais, do mercado e do acesso à bicicleta para tratar do exemplo concreto da cidade de São Paulo. Nessa perspectiva, entre outros aspectos, Guth chama a atenção para a necessidade de se solucionar a falta de respeito dos condutores de veículos motorizados e a falta de segurança no trânsito. Por fim, destaca o imperativo enfrentamento de barreiras físicas e simbólicas originadas da dominação da motorização no país e na cidade de São Paulo.

O artigo “Migração modal: por que estamos perdendo ciclistas diariamente” integra o livro “Mobilidade por Bicicleta no Brasil”, lançamento do LABMOB (PROURB/UFRJ), ONG Transporte Ativo e Observatório das Metrópoles.

A partir da análise dos dados da pesquisa de Perfil de quem usa Bicicleta em São Paulo (2015), combinada com os dados da Pesquisa de Mobilidade (Metrô, 2012), o artigo aponta a queda na produção e no consumo de bicicletas básicas, populares, para trabalhadoras e trabalhadores. Daniel Guth afirma que é preciso, no entanto, estudar com mais precisão a localização de grupos que migraram da bicicleta para os meios de transporte motorizados afim de compreender as motivações (até de cunho sociológico) para tal fenômeno.

“Tensionamentos urbanos como a generosa oferta de estrutura urbana para a circulação de automóveis e motocicletas, a baixa oferta e/ou qualidade do transporte público coletivo e as altas tarifas deste, as inúmeras exclusões e o induzido espraiamento das cidades – que segregam, distanciam e enclausuram milhões de brasileiros em situação de suburbanização -, ao mesmo tempo em que a possibilidade de aquisição de um automóvel ou de uma motocicleta é publicizada como medida de inclusão e ascensão social, escanteiam as expectativas, ao menos para o curto e médio prazos, de contenção da migração modal e da perda diária de ciclistas, especialmente nas periferias. Em que pese o fato de que houve, de 2013 a 2016, um enorme avanço na implementação de infraestrutura cicloviária na cidade de São Paulo”, afirma Guth.

A análise aponta também que se, por um lado, a popularização da infraestrutura cicloviária foi elevada ao patamar de uma das principais medidas para responder aos anseios desta nova agenda contemporânea da mobilidade urbana, por outro lado os interesses difusos liderados pela agenda da motorização do paíscontinuam dominando a pauta das políticas e dos investimentos públicos, fazendo com que a frágil e histórica cultura da bicicleta no país esteja no limiar de sua própria extinção.

“Os benefícios das infraestruturas cicloviárias, contudo, são inúmeros e devem ser objeto de maior investigação, tanto por acadêmicos, quanto por profissionais da área, ativistas e pelo próprio poder público. Já há um arcabouço de conhecimentos e dados acumulados para conduzir melhores políticas – seja para as estruturas existentes já implantadas, seja para outras, vindouras. No entanto é preciso destacar que a política de implantação de infraestrutura cicloviária, quando e se isolada, não parece ser suficiente para conter a migração modal dos meios ativos de deslocamento para os meios motorizados de deslocamento — individuais, especialmente”, aponta o pesquisador.

De acordo com Guth, para tornar a bicicleta um meio de transporte cada vez mais democrático e acessível, será preciso solucionar a falta de respeito dos condutores de veículos motorizados e a falta de segurança  no trânsito que, combinados, representam, por exemplo, 60% dos principais problemas enfrentados por quem usa bicicleta na cidade de São Paulo.

“Portanto, se não enfrentarmos a dominação da motorização no país e na cidade de São Paulo, da ganância por cada vez mais espaço pelos grandes gastadores de energia, se a agenda por cidades mais humanas, com conexões diversas e dimensionadas à escala humana e se a implantação de políticas cicloviárias não carregar todo este acúmulo, nossos esforços terão sido, possivelmente, em vão; e amargaremos, em um futuro próximo, ter de reconstruir das cinzas a rica e diversa cultura da bicicleta que vinha se desenvolvendo, no Brasil, desde a década de 1950”, defende.

Faça o download do livro “Mobilidade por Bicicleta no Brasil”.