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Revitalização urbana? Mobilidade urbana sustentável? Privatização do espaço público? Oportunidade de novos negócios? Função social? Expulsão de moradores? O Porto Maravilha é o projeto de revitalização urbana mais radical já realizado na cidade do Rio de Janeiro. Passada quase uma década do seu lançamento, fica a pergunta: valeu a pena?  Pra quem? O INCT Observatório das Metrópoles e a Universidade SUPSI/Suíça lançam o curta-metragem “Valeu?” com o propósito de oferecer uma ferramenta que auxilie professores do Ensino Médio a estimular o debate com alunos em sala de aula a respeito de temas como democracia e cidadania a partir de uma realidade concreta, de uma política pública que transformou parte do território da cidade do Rio.

O vídeo “Valeu?” é resultado do projeto “Urban Regimes and Citizenship”, realizado pela Rede INCT Observatório das Metrópoles e pelo Department of Business, Economic, Health and Social Care (DEASS) da Universidade SUPSI, de Lugano, Suíça.

Segundo o professor Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, a intenção de produzir o vídeo era oferecer um instrumento de discussão, destinado aos alunos do Ensino Médio, sobre o tema da cidadania e sua relação com a cidade, a partir da análise de uma ação urbana, no caso o Porto Maravilha.

“Escolhemos o Porto Maravilha para ser o tema desse vídeo com o objetivo de levar para a sala de aula uma questão que se tornou pública, que todos ficaram sabendo com algum grau de informação, já que todo um aparato midiático foi usado para divulgar a operação na zona portuária. O objetivo era produzir um vídeo didático de discussão, de reflexão sobre o direito à cidade e as questões que perpassam o urbano. Por isso, o vídeo é mais aberto, propõe um certo dialogismo, uma profusão de vozes, muitas vezes desconexas e opostas nas suas avaliações sobre a experiência da Operação Urbana do Porto Maravilha”, explica Luiz Cesar e completa:

“A equipe do Observatório das Metrópoles acredita que é fundamental fazer uma formação nas escolas públicas sobre os temas da cidadania e do direito à cidade. E para isso precisamos como universidade desenvolver produtos que dialoguem diretamente com a juventude, fale sua língua. E mais do que oferecer uma visão fechada sobre o tema, queremos provocar reflexão. E uma reflexão não só abstrata sobre o que é democracia etc, mas perguntar para o jovem como ele avalia uma política pública que alterou a dinâmica da cidade, que foi concebida e divulgada como o maior projeto urbanístico do Rio. Como o jovem vê isso? Como ele é afetado? Como ele pode formular pensamento crítico sobre temas relacionados à cidade?”, aponta Ribeiro.

Uma realização da produtora Ideias Visuais, o vídeo “Valeu?” não foi concebido para ser um documentário sobre o Porto Maravilha, com apresentação de detalhes sobre concepção, objetivos, valores etc. A ideia era mais a produção de um material de audiovisual que pudesse colocar muitas vozes para falar sobre o processo de revitalização urbana da zona portuária, atores envolvidos, perspectivas sobre como transformar a cidade e pra quem.

De acordo ainda com Luiz Cesar Ribeiro, o vídeo também não se propôs a fazer uma denúncia ou avaliação crítica da operação urbana do Porto Maravilha — algo que a Rede INCT Observatório das Metrópoles vem fazendo desde 2009 ao monitorar todos os impactos, metas e valores concernentes ao projeto.

Nesse sentido, “Valeu?” tem um claro papel pedagógico, visto que busca não priorizar um lado só da história. “Isso nos levou a fazer um vídeo que polemizasse, que construísse a narrativa por meio de visões diferentes e conflitantes sobre esse processo. Desde dar voz à população que usa aquele lugar, turistas, trabalhadores locais, pessoas que usam aquele local para lazer; ativistas e defensores de causas sociais naquele território etc. Também demos espaços para as autoridades públicas darem sua visão, e a voz também da autoridade acadêmica — que explica o que é esse processo de empreendedorismo urbano, seus efeitos, pontos positivos e negativos. Desse modo, temos uma narrativa que polemiza confrontando visões diferentes sobre essa mesma realidade, a partir dos seus lugares específicos. Autoridade falando como autoridade; autoridade acadêmica falando como autoridade acadêmica; população geral falando a partir de suas perspectivas; população organizada falando a partir dessa maneira”, explica Ribeiro. 

Para o pesquisador nicaraguense Humberto Mário Meza, pós-doc do INCT Observatório das Metrópoles e um dos responsáveis pela pesquisa sobre o Porto Maravilha para o vídeo “Valeu?”, foi muito estimulante e desafiador participar de um processo que o objetivo de traduzir informação técnica e especializada numa linguagem coloquial, necessária para o debate. “A gente sempre procurou que o produto do nosso trabalho conduzisse para algo que estimulasse a discussão, o que nos demandava discutir e afinar um roteiro que levasse em conta a visão dos cariocas, turistas, moradores e cidadãos com a visão dos burocratas e representantes do poder concedente no mesmo nível”, explica Meza e completa:

“Em resumo, a ideia sempre foi aproximar o Porto Maravilha ao cotidiano das pessoas e como isso impacta quem frequenta ou mora lá. Pensar no impacto dos empreendimentos na vida das pessoas é uma dimensão fundamental para a cidadania e para o direito das pessoas usufruírem da cidade. Posso dizer que o vídeo alcançou o objetivo de mostrar a diversidade dos fatores envolvidos nessa operação urbana. Nossa maior curiosidade é saber agora se alcançaremos esse objetivo e que tipo de reação iremos a suscitar em quem assistir essa produção”.

O INCT Observatório das Metrópoles está agora validando a metodologia em parceria com os técnicos da Secretaria Estadual de Educação para levar o vídeo “Valeu?” para as escolas públicas do Rio de Janeiro.

Veja o vídeo abaixo:

FICHA TÉCNICA

Duração total: 16:40 minutos

Realização: Ideias Visuais

Coordenação Acadêmica: Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro (IPPUR/UFRJ) e Filippo Bignami (SUPSI)

Pesquisa: Humberto Meza (Observatório das Metrópoles), Ana Paula Carvalho (PUC-Rio) e Niccolò Cupinni (SUPSI)

Apoio: CNPq, FAPERJ e SNSF

Texto produzido por Breno Procópio, Assessor de Comunicação da Rede INCT Observatório das Metrópoles