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Você já sofreu ou presenciou algum tipo de preconceito ou discriminação racial na cidade de São Paulo? No último dia 13 de novembro, a Rede Nossa São Paulo e o IBOPE Inteligência, em parceria com o Sesc São Paulo, realizaram o evento “Viver em São Paulo: Relações Raciais na Cidade” onde foram apresentados os resultados da pesquisa de percepção dos paulistanos sobre o tema.

Sobre a pesquisa:

A pesquisa é realizada pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope Inteligência, com a parceria do Sesc São Paulo. Uma das perguntas a ser respondida pela pesquisa é se, na percepção dos paulistanos, existe ou não diferença no tratamento de pessoas negras ou brancas em diversos espaços públicos da capital paulista.

Outro questionamento presente no levantamento é se as pessoas negras têm as mesmas oportunidades que as brancas no mercado de trabalho.

A pesquisa indaga ainda se, nos últimos 10 anos, o preconceito e discriminação contra a população negra aumentou ou diminuiu na cidade.

Sobre o evento:

“O racismo é estrutural. Não existiria racismo se as cidades não fossem construídas para produzir desigualdades”. Segundo Silvio Almeida, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Mackenzie, o racismo e a desigualdade andam juntas no Brasil. Por isso, não basta críticas ao racismo, “têm que criticar a desigualdade”.

Silvio Almeida e Luciana Araujo (jornalista, militante do Movimento Negro Unificado e da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo) participaram do debate que ocorreu no lançamento da pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais na Cidade?“. Confira o vídeo completo do evento: clique aqui.

As declarações de Almeida foram feitas no debate sobre os dados do levantamento, que foi promovido pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência, em parceria com o Sesc São Paulo.

Apresentada pela diretora de políticas públicas do Ibope Inteligência, Patrícia Pavanelli, a pesquisa de percepção revela, por exemplo, que dois terços dos paulistanos (66%) acreditam que pessoas negras têm menos oportunidades no mercado de trabalho do que as brancas.

Confira aqui a apresentação da pesquisa.

“Perceber o problema, não significa que isso gere uma ação contrária ao racismo”, explicou Almeida, ao analisar os números do levantamento.

Para o professor da FGV, não existe democracia possível num país com esse grau de racismo e desigualdade.

Ao mencionar a atua situação política, ele afirmou que o “problema” da eleição – que resultou na escolha de um candidato que coleciona declarações racistas – não foi o WhatsApp ou as “fake news” (notícias falsas). “O problema é a falta de um sistema educacional de qualidade, que desenvolva o sentido crítico das pessoas”, explicou Almeida, antes de complementar: “Com o atual sistema educacional, estamos sujeitos a qualquer tipo de manipulação”.

O professor defendeu a necessidade de a sociedade brasileira repudiar qualquer tipo de violência que venha a ser cometida contra qualquer segmento da sociedade, sejam negros, mulheres, homossexuais…

E, ao final, alertou o povo negro a ficar muito atento ao debate político e às propostas de ajustes econômicos que estão sendo colocadas.

Já a outra participante do debate, Luciana Araujo, destacou a visão da mulher sobre o problema. “As primeiras feministas do Brasil foram as mulheres negras, que resistiram aos estupros do homem branco e à separação das famílias, tendo em vista que seus filhos eram vendidos”, registrou ela, que é militante do Movimento Negro Unificado e integrante da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo.

Em sua fala, Luciana denunciou que o serviço de atendimentos às mulheres vítimas de violências sexual no Hospital Municipal do Jabaquara está sendo desmontado pela Prefeitura de São Paulo.

Ela abordou a violência cotidiana que atinge os negros das periferias e das favelas, e que só vira notícia quando assusta ou atinge pessoas que vivem em regiões nobres da cidade, além da questão das cotas no ensino superior: “Há uma parcela da classe dominante que não aceita que o outro tenha o direito de estar na universidade”.