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Dando sequência às comemorações pelos 15 anos do Observatório das Metrópoles Núcleo Maringá, vinculado à Universidade Estadual de Maringá (UEM), ao longo da última semana foram organizadas lives no canal do Observatório das Metrópoles no Youtube. A primeira, no dia 21 de maio, abordou a trajetória e as perspectivas futuras do núcleo, já a segunda, ocorrida no dia 26, tratou das pesquisas atualmente em desenvolvimento, além do anúncio da transição da coordenação do núcleo que ocorrerá em agosto.

Na primeira live, com participação de Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro (coordenador nacional da rede) e Ana Lúcia Rodrigues (coordenadora do núcleo), o destaque foram os quinze anos de história, pesquisas e reflexões que fazem do Núcleo Maringá um dos mais consolidados da rede do Observatório das Metrópoles.

Nosso objetivo sempre foi a diminuição da desigualdade, da injustiça urbana e da injustiça social com as quais convivemos o tempo inteiro”, pontuou Ana Lúcia Rodrigues.

A atual coordenadora também falou sobre a institucionalização do núcleo.

“Quinze anos atrás existia uma conjuntura inicial que foi determinante para a nossa consolidação, inclusive com uma identidade local, contribuindo para o desenvolvimento regional. Quando o núcleo iniciou suas atividades as pessoas foram se reunindo e, de lá para cá, nos firmamos como um espaço que é referência para muitos temas”. 

Para o coordenador nacional do Observatório, o núcleo possui um protagonismo fantástico na discussão da agenda pública da região, participando, por exemplo, do Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial de Maringá e o ConCidades Estadual:

Essa é uma das experiências mais bem sucedidas dessa aventura intelectual e acadêmica. Destaco a capacidade da coordenadora Ana Lúcia de mobilizar e manejar as relações humanas e sociais. Ver e tentar superar a fragmentação da universidade com empenho e capacidade de liderança. Aprendemos muito com o trabalho feito em Maringá, sobretudo porque o município está colocado neste polígamo do dinamismo que até então era industrial, dessa descentralização que vinha ocorrendo a partir de São Paulo para o sul. Ensinou muito o processo de uma cidade de porte médio, o poder de polarização na escala regional”, destacou Ribeiro.

Na oportunidade, também foi abordada a crise decorrente da atual pandemia, os desafios da pesquisa acadêmica diante desse contexto e as perspectivas futuras.

Percebemos com clareza esta tragédia que estamos vivendo sem capacidade de coordenação. É um paradoxo da sociedade brasileira, onde nosso projeto pretende conhecer as várias facetas do planejamento urbano, habitação, saneamento e a própria economia. Um dos desafios do Observatório é tentar trabalhar através da articulação interna na universidade, áreas diferentes em torno desse laboratório que são as metrópoles brasileiras. Produzir conhecimento comprometido com novos quadros, de modo que ajude a construir uma política na complexidade metropolitana, com a finalidade de transferir resultados e formular alternativas na interação dialógica com os atores”, observou Ribeiro.

No encerramento da transmissão, Ribeiro disse que tem esperanças de que a tragédia da pandemia possa criar uma sensibilidade nova na sociedade. “O direito à cidade é o direito à vida e isso vai permanecer entre nós durante muito tempo. Tenho esperança que o aprendizado civilizatório seja possível a partir dessa tragédia e o direito à cidade seja percebido como direito à vida individual, coletiva, biológica e à vida moral”, finalizou o coordenador nacional do Observatório das Metrópoles.

Já a segunda live contou com a participação dos pesquisadores Ricardo Töws e William Borges, além de Ana Lúcia Rodrigues. Borges assumirá a coordenação do núcleo a partir de agosto e falou sobre as expectativas e planos para a próxima gestão.

O Observatório tem uma estrutura engajada e as expectativas são ótimas porque posso contar com uma equipe preparada. O desafio fica maior neste cenário de pandemia, já que precisaremos nos unir ainda mais com a rede, pois estaremos nesta luta”, afirmou Borges.

Para a atual coordenadora do núcleo, ver todas as realizações ao longo de 15 anos é uma alegria. “É muito bom poder conversar com dois pesquisadores que compõem o núcleo e que estão desde os primeiros momentos conosco”, ressaltou. Ricardo Töws é professor de geografia e atua na discussão urbana, regional e metropolitana. Já o pesquisador William Borges é professor de administração pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Durante a live, o pesquisador William Borges falou sobre linha de pesquisa “Regimes Urbanos“. Segundo ele, é preciso construir um panorama das condições dos municípios a partir de indicadores sobre estrutura produtiva, capacidade de gestão, cultura política, entre outros, no intuito de buscar uma correlação que explique melhor onde são estabelecidas as coalizões nos regimes urbanos na região metropolitana.

O Observatório tem essa causa, essa frente para trabalhar e fomentar a base territorial e metropolitana. O objetivo parte do conceito de compreendermos as formas que operam os regimes urbanos. Formas de operação e impactos na vida das pessoas. Precisamos pensar no crescimento e desenvolvimento, bem estar social e urbano. O engajamento é encontrar de que forma ocorre a operação de uma espécie de regime urbano, dando destaque às coalizões”, explicou Borges.

O pesquisador Ricardo Töws chama a atenção para a questão da abordagem interdisciplinar. “O Observatório possui um espectro de pesquisadores das mais diversas áreas trabalhando com o urbano e com olhar interdisciplinar. É uma oportunidade única de aprender e praticar a interdisciplinaridade”, disse. Töws  também participa da pesquisa “Regimes Urbanos”, tendo como principal objetivo entender o processo de mercantilização e financeirização das cidades.

Buscamos entender a inflexão que ocorre a partir de 2016 e que teve muitos impactos. A provisão pró-mercado, tentar compreender a operação urbana consorciada, são questões que envolvem a financeirização e mercantilização da cidade. Entender a multiplicidade e pensar este processo em Maringá como experimento, trazendo o discurso do marketing urbano e do planejamento urbano”, relatou Töws.

No encerramento, Borges destacou que o compromisso como pesquisador é enfrentar a desigualdade, estreitando esse diálogo com a sociedade e o governo. “Precisamos disseminar essa urgência de produzir espaços urbanos menos desiguais”, concluiu.

Seguindo o calendário de eventos em comemoração pelos seus 15 anos, ocorreu no dia 04, quinta, a terceira e última live do Núcleo Maringá. Para debater as pesquisas desenvolvidas pelo núcleo, participaram da transmissão a próxima vice-coordenadora, Celena Tonella, a pesquisadora Fabíola Cordovil e a atual coordenadora, Ana Lúcia Rodrigues. “Estamos encerrando esta fase de comemoração com as lives, nesta terceira roda de conversa com pessoas que construíram os 15 anos do Núcleo Maringá”, observou Ana Lúcia.

Conforme Celene Tonella, a primeira pesquisa desenvolvida no Observatório por ela tornou-se um livro, a respeito dos conselhos gestores de políticas públicas na região metropolitana de Maringá. O livro foi intitulado “Poder local e políticas públicas: papel dos conselhos gestores”, publicado em 2006. “Esta pesquisa serviu para dar grande relevância ao potencial transformador dos conselhos e era uma pesquisa nacional da rede”, pontuou. Atualmente, a pesquisadora está focada no trabalho das entidades associativas de nível nacional, sem fins lucrativos.

No momento atual tento ler este perfil associativo na região metropolitana de Maringá. As entidades analisadas são prestadoras de serviços em saúde, habitação, educação, assistência profissional, sindicatos, entre outros. O associativismo cresceu em Maringá e diminuiu em cidades de menor porte da região metropolitana”, advertiu.

A pesquisadora Fabíola Cordovil faz parte da equipe do Observatório desde 2004 e, segundo ela, foi onde encontrou um espaço de debate e reflexão, tanto em arquitetura e urbanismo, como também em geografia, tema de seu mestrado. Ela participou como consultora da elaboração dos planos diretores participativos de Doutor Camargo, Presidente Castelo Branco e Ângulo, entre 2005 e 2006.

Foi um desafio enorme, onde tivemos que incluir instrumentos que foram pensados e elaborados para grandes metrópoles em municípios absolutamente rurais. Foi um desafio entender estes instrumentos e tentar articular com a política urbana daquela realidade, de até dez mil habitantes”, indicou.

A pesquisa atual que ela vem desenvolvendo são questionamentos sobre mobilidade urbana no aglomerado e na região metropolitana de Maringá.

Estamos tentando entender o fenômeno da dispersão urbana, verificando essas tendências, embora a polarização seja muito forte. Como esse território está se colocando diante da expressiva frota de veículos individuais e como interagem nos diversos municípios da região”, questionou.

Ao final da transmissão, Ana Lúcia comentou que o Observatório das Metrópoles está preparando um grande dossiê produzido pelos 16 núcleos, que irá mostrar a realidade da pandemia do novo coronavírus no Brasil, inclusive a partir da Região Metropolitana de Maringá.