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“Sem o auxílio emergencial, a pobreza teria chegado a 28% da população das Regiões Metropolitanas, em agosto de 2020”. Com esta afirmação, o pesquisador do Observatório das Metrópoles Núcleo Porto Alegre e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Andre Salata, explica o contexto extremamente negativo identificado no “Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 02 – Edição especial COVID-19”, que nesta edição faz uso da PNAD-COVID19 para analisar de modo mais completo como andam as desigualdades nas metrópoles em meio à crise provocada pela pandemia.

A iniciativa, uma parceria entre o Observatório das Metrópoles, a PUCRS e o Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), é coordenada por Salata e pelo professor do IPPUR/UFRJ e coordenador do Núcleo Rio de Janeiro do Observatório, Marcelo Ribeiro. “A principal conclusão do estudo é que está muito claro que o auxílio fez efeito, protegeu os mais pobres e cumpriu o papel de salvaguardar a renda dos mais vulneráveis, isso fez com que pobreza caísse, o que pode passar a ideia de um cenário positivo. Porém, o cenário é extremamente negativo, pois ocorreu uma forte perda de renda na população”, assegurou Salata.

Informações publicadas no Boletim mostram que, no conjunto das Regiões Metropolitanas, em agosto de 2020, 40,4% dos domicílios receberam auxílios emergenciais; nesses domicílios, os auxílios correspondiam, em média, a 43,2% dos rendimentos totais; e em 31,1% destes domicílios os auxílios representavam mais da metade dos rendimentos. Para Salata, é preocupante analisar os dados e ver o que teria acontecido sem o auxílio emergencial. “O Estado ainda não encontrou um caminho, sem o auxílio a pobreza teria aumentado muito. O governo está apostando que a renda do trabalho irá aumentar, no entanto, o que acontece sem o auxílio é uma situação social muito crítica”, pontuou o pesquisador.

Conforme Marcelo Ribeiro, sem o auxílio, as desigualdades teriam aumentado e as distâncias entre os grupos teriam se ampliado. “Seria drástico. É a perda de renda que nivela o nível baixo de rendimento, mesmo considerando aqueles que receberam o auxílio de 600 reais”, informou. Segundo ele, o primeiro número do boletim apresentou uma diminuição em todos os estratos, o que mostra que, de um modo geral, há uma perda de nível de renda que se traduz na redução da renda média. “Neste período de pandemia, a perda só não foi maior porque houve o auxílio. Essa simulação é importante porque, à medida que o governo está sustentando que não terá mais transferência de renda, mostra o quão dramática a situação das pessoas de baixa renda pode ficar a partir do mês de janeiro”, ressaltou Ribeiro.

Enfrentar a pobreza é elemento importante para combater a desigualdade

A crise agravada pela pandemia requer uma ação do governo de socorro à população mais vulnerável. “É difícil, de modo tão rápido, uma recuperação da economia e do mercado de trabalho. Uma política de transferência de renda é capaz de reduzir de forma efetiva a própria taxa de pobreza que existe em nossa sociedade. Dados apontam que seria fundamental pensar em mecanismos de redução da desigualdade, enfrentando a situação de pobreza”, observou Ribeiro. Segundo o pesquisador, é primordial que o Estado possa realizar gastos que sejam capazes de retomar uma demanda efetiva, pois as empresas não estão investindo.

“Os empresários ficam com medo de realizar investimentos, houve queda nas exportações. Os gastos de consumo feito pelas famílias dependem do nível de rendimento que essas famílias possuem, mas esse tipo de gasto também deixa de ocorrer. É preciso que o governo reaqueça a economia e há a necessidade social que precisa ser enfrentada, com uma atuação mais ativa do Estado”, afirma Ribeiro. Para ele, um setor específico que poderia prover um reaquecimento da economia é o da construção civil. “Tem um efeito positivo porque acaba incorporando mão de obra com menor formação acadêmica, que geralmente é a população de mais baixa renda”, analisa.

Cenário futuro

Conforme Salata, parece que o governo está apostando em uma retomada muito rápida do trabalho. “Nos leva a crer que é uma aposta um tanto quanto arriscada, pois a economia não dá sinais claros de uma retomada veloz. É necessário que a sociedade discuta rapidamente o que será feito após dezembro, quando o auxílio termina”, acredita. Segundo os autores do estudo, a redução pela metade do auxílio nesse período já provocou um efeito significativo, haja vista que a taxa de desocupação aumentou e o mercado de trabalho não está incorporando tanta gente. “Com a manutenção do auxílio, mesmo pela metade, foi possível minimizar os efeitos da pandemia, porém, sem essa proteção, haverá uma situação drástica e as pessoas vão perder a chance de sobrevivência”, conclui Ribeiro.

Confira na íntegra o “Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 02 – Edição especial COVID-19

Acesse aqui as tabelas e gráficos do estudo.