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Já está disponível o número 25 da Revista Cadernos Metrópole, que debate o tema dos grandes projetos urbanos, resultado do surgimento da chamada governança empreendedorista e da visão das cidades enquanto mercadoria. Nos treze artigos desta edição, as reflexões partem de experiências como de Barcelona, Lisboa e Buenos Aires para mostrar a transformação das cidades em projetos especulativos, através do rearranjo das coalizões urbanas e da reconfiguração de seus territórios.

Este processo, segundo argumenta o professor Orlando Alves dos Santos Júnior, na Apresentação do Cadernos nº 25, pode ser observado “nas cidades, com efeito, um novo ciclo de mercantilização que combina as conhecidas práticas de acumulação urbana baseada na ação do capital mercantil local, com as novas práticas empreendidas por uma nova coalização de interesses urbanos na direção da sua transformação em commodity. A expansão e crescente hegemonia da visão das cidades como mercadoria conspira contra a visão das cidades como sociedade urbana, democrática, justa e sustentável”.

Vale lembrar que a Revista Cadernos Metrópole, de periodicidade semestral, tem como enfoque o debate de questões ligadas aos processos de urbanização e à questão urbana, nas diferentes formas que assume na realidade contemporânea. A revista publica textos de pesquisadores e estudiosos da temática urbana, que dialogam com o debate sobre os efeitos das transformações socioespaciais no condicionamento do sistema político-institucional das cidades e os desafios colocados à adoção de modelos de gestão baseados na governança urbana.

Confira abaixo a apresentação escrita pelo professor Orlando Júnior e acesse a página dos Cadernos Metrópole.

Apresentação

O presente número do Cadernos Metrópole é dedicado à discussão dos grandes projetos urbanos. Há muitas evidências de que as cidades vivem hoje um momento de grandes transformações que coloca a necessidade de atualizar a questão urbana contemporânea e pensar novos modelos de planejamento e gestão que respondam aos desafios decorrentes dessas mudanças. As metrópoles no Brasil e no mundo parecem estar sendo incluídas nos circuitos mundiais que buscam novas fronteiras de expansão diante da permanente crise de sobreacumulação do capitalismo financeirizado. E o Brasil aparece com atrativas fronteiras urbanas exatamente em razão do ciclo de prosperidade e estabilidade que atravessa, combinado com a existência de ativos urbanos passíveis de serem espoliados e integrados aos circuitos de valorização financeira internacionalizados. Pode-se observar nas cidades, com efeito, um novo ciclo de mercantilização que combina as conhecidas práticas de acumulação urbana baseada na ação do capital mercantil local, com as novas práticas empreendidas por uma nova coalização de interesses urbanos na direção da sua transformação em commodity. A expansão e crescente hegemonia da visão das cidades como mercadoria conspira contra a visão das cidades como sociedade urbana, democrática, justa e sustentável.

Essas transformações permitiriam afirmar a emergência de uma nova governança que pode ser melhor compreendida a partir da identificação esquemática daquilo que vem sendo denominado empresariamento urbano, que se constitui na lógica emergente impulsionada pelo surgimento do complexo circuito internacional de acumulação e dos agentes econômicos e políticas organizados em torno da transformação das cidades em projetos especulativos fundados na parceria público-privado, conforme descreveu David Harvey. Integraria esse circuito uma miríade de interesses, protagonizados pelas empresas de consultoria em projetos, pesquisas, arquitetura, de produção e consumo dos serviços turísticos, empresas bancárias e financeiras especializadas no crédito imobiliário, empresas de promoção de eventos, entre outras empresas. Tais interesses teriam como correspondência local as novas elites locais portadoras das ideologias liberais que liderariam a competição por recursos para viabilizar os seus projetos e legitimar as suas práticas.

Essas novas elites buscariam a representação política através do uso das técnicas do marketing urbano, traduzido em obras exemplares que expressariam o seu projeto de “nova cidade”, o que seria facilitado pela fragilidade dos partidos políticos. A política urbana passaria a centralizar-se na promoção de grandes projetos urbanos, sobretudo vinculados a investimentos de renovação de áreas urbanas degradadas e na atração de médios e megaeventos, prioridades estas que permitiriam legitimar tais elites e construir as alianças com os interesses do complexo internacional empreendedorista. Na maioria dos casos, no plano da política, essa orientação se materializaria na constituição de grupos de gerência técnica diretamente vinculados aos chefes do executivo e compostos por pessoas recrutadas fora do setor público, que não passariam pelo controle das esferas institucionais de gestão tradicionais.

Essa lógica vinculada à governança empreendedorista lideraria e hegemonizaria a nova coalizão urbana, integrada também por parcelas das lógicas de governança que vigoraram até então, fundadas no clientelismo, no patrimonialismo e no corporativismo ou neocorporativismo, resultando em um padrão de governança urbana bastante peculiar, onde o planejamento e a regulação pública, que nunca vigoraram plenamente no caso brasileiro, seriam substituídos por um padrão de intervenção por exceção, com os órgãos da administração pública e canais institucionais de participação crescentemente fragilizados.

Os artigos apresentados neste número trazem reflexões em torno desses processos que contribuem para desvendar essa lógica empreendedorista e identificar os novos desafios postos para as cidades e, especialmente, para as metrópoles, onde esse processo seria mais efervescente.

Sumário

Governança metropolitana nas Américas
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 15-44 [mais detalhes e download] Robert H. Wilson, Peter K. Spink, Peter M. Ward

La ampliación de la centralidad histórica en Santiago de Chile
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 45-68 [mais detalhes e download] Jorge Rodríguez Vignoli

Criatividade e governança na cidade. A conjugação de dois conceitos poliédricos e complementares
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 69-92 [mais detalhes e download] João Seixas, Pedro Costa

Planejamento urbano, espaço público e criatividade. Estudos de caso: Lisboa, Barcelona, São Paulo
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 93-122 [mais detalhes e download] Luís Balula

Um grande projeto entre o mar e as colinas: a renovação urbana da cidade italiana de Gênova
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 123-143 [mais detalhes e download] Clarissa M. R Gagliardi

Dinâmicas espaciais dos grandes eventos no cotidiano da cidade: significados e impactos urbanos
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 145-161 [mais detalhes e download] Heliana Comin Vargas, Virgínia Santos Lisboa

O Projeto Sapiens Parque: impactos socioeconômicos e ambientais em Florianópolis
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 163-184 [mais detalhes e download] Beatriz Francalacci da Silva

Grandes proyectos y sus impactos en la centralidad urbana
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 185-212 [mais detalhes e download] Beatriz Cuenya

Projeto urbano e operação urbana consorciada em São Paulo: limites, desafios e perspectivas
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 213-233 [mais detalhes e download] Angélica A. T. Benatti Alvim, Eunice Helena Sguizzardi Abascal, Luís Gustavo Sayão de Moraes

A economia política da urbanização contemporânea
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 235-256 [mais detalhes e download] Ricardo Carlos Gaspar

El proceso de ennoblecimiento y la salida negociada de los innobles en Buenos Aires
Cadernos Metrópole, Vol. 1, 2011 (n.° 25), 257-278 [mais detalhes e download] María Carman

Contradições e políticas de controle no espaço público de Barcelona: um olhar sobre a Praça dels Àngels
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 279-302 [mais detalhes e download] Ana Carla Côrtes de Lira

Reflexões sobre a atuação governamental na promoção da segurança pública
Cadernos Metrópole, Vol. 13, 2011 (n.° 25), 303-325 [mais detalhes e download] Betânia Peixoto, Letícia Godinho de Souza, Eduardo Cerqueira Batitucci, Marcus Vinicius Gonçalves da Cruz