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Crianças jogam bola na periferia

Crianças jogam bola na periferia

Neste artigo os pesquisadores Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro e Rita Barradas Barata analisam a associação entre atividade física, grau de vulnerabilidade social e vizinhança na área central de São Paulo. Foram estudados os níveis de atividade física de adultos moradores em setores censitários vulneráveis e não vulneráveis relacionando esse comportamento com o contexto do bairro e com características sociodemográficas dos indivíduos.

A distribuição dos níveis de atividade física foi diferente para os dois grupos, predominando, no grupo vulnerável, as pessoas ativas no trabalho sem relação com as condições de vizinhança. Já no grupo não vulnerável a atividade física estava dividida entre lazer e trabalho, e a maioria é pouco ativa. Nesse grupo há associação entre atividade física e gênero, não ter carro e sensação de segurança à noite no próprio bairro.

O artigo “Saúde: vulnerabilidade social, vizinhança e atividade física”, de autoria de Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro e Rita Barradas Barata, é um dos destaques do dossiê “A Saúde na Cidade”, presente na edição nº 36 da Revista Cadernos Metrópole.

Abstract

The article examines the association between physical activity, social vulnerability level and neighborhood in São Paulo’s downtown. Physical activity levels were studied in adults living in vulnerable and non-vulnerable census tracts, and physical activity practice was related to neighborhood characteristics and to the individuals’ sociodemographic variables. The distribution of physical activity levels was different for the two groups: in the vulnerable group, active people at the workplace predominated, unrelated to neighborhood conditions. In the non-vulnerable group, physical activity is divided between leisure and work, and most are somewhat active. In this group, there is an association between physical activity and gender, not having a car and sense of security at night in one’s own neighborhood.

INTRODUÇÃO

Por Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro Rita Barradas Barata

O padrão de urbanização acelerado imprimiu às grandes metrópoles periféricas algumas características comuns, tais como a precariedade da expansão da área urbana e a transformação permanente dos espaços intraurbanos geralmente marcados por processos de segregação socioespacial e por impactos negativos sobre o meio ambiente.

As décadas de 1980 e 1990 modificaram substancialmente a região metropolitana da Grande São Paulo. De uma região basicamente industrial até a década de 1970, ela passou a ser um polo de atividades concentradas no setor terciário e quaternário da economia, alterando o processo de uso do solo e a divisão socioespacial do trabalho, que no período anterior havia determinado a ampliação da periferia da cidade e a formação de anéis concêntricos em torno do centro expandido (Bousquat e Nascimento, 2001).

Durante todo o século XX, a história da urbanização de São Paulo foi marcada por um processo de periferização da pobreza e pela criação e abandono de diversas centralidades (Iglesias, 2002). Na primeira metade do século XX, a urbanização da cidade separou as elites econômicas, que ficavam nas chamadas partes altas da cidade (Campos Elíseos, Higienópolis, Avenida Paulista), e alguns segmentos profissionais, que ficavam nos bairros operários habitados predominantemente por imigrantes europeus (Brás, Bom Retiro, Barra Funda, Belém, Mooca, Pari).

A partir da década de 1960, a expansão das periferias pobres se deu em todas as direções com maior adensamento nas zonas sul e leste do município, onde se concentraram as grandes levas de migrantes nacionais chegados para trabalhar na indústria automotora e de bens duráveis. Progressivamente, com as transformações econômicas, novos “centros” foram se delineando na cidade, abandonando o centro histórico que passou por gran- des transformações (Iglesias, 2002).

Como as outras grandes metrópoles mundiais, São Paulo enfrenta os problemas decorrentes dessas transformações econômicas que resultaram em profunda modificação do mercado de trabalho, gerando desemprego estrutural de parcela considerável dos trabalhadores não qualificados e crescimento das relações informais e da precarização das condições de trabalho. Territorialmente, esses processos se refletem em segmentação e diferenciação dos espaços urbanos com desigualdades marcantes no provimento dos serviços essenciais, tais como saneamento, limpeza urbana, transporte viário, habitação e urbanismo. O cenário urbano é fortemente marcado pelos contrastes sociais e pelas desigualdades entre a extrema riqueza e a extrema pobreza, geralmente segregadas espacialmente, mas em certas situações, como no distrito do Morumbi, convivendo lado a lado (Barata; Ribeiro e Cassanti, 2011).

A região central de São Paulo, constituída por 11 dos 97 distritos que compõem a cidade, é um exemplo típico de território marcado por extrema heterogeneidade no qual coexistem diferentes grupos sociais com perfis demográficos e socioeconômicos bastante diversos. Alguns bairros, como Higienópolis, ainda conservam parte da população mais rica da cidade, enquanto outros, como o Brás e o Bom Retiro, sofreram profundas transformações com a presença cada vez maior de migrantes estrangeiros. A área central concentra grande parte dos moradores em situação de rua, que estão entre os grupos mais marginalizados da cidade (Prefeitura do Município de São Paulo, 2001). Na última década, a população em situação de rua cresceu 65%, e 55% dela se concentra na região central da cidade (Fundação Seade, 2015).

Os distritos que constituem a zona central reúnem 4,25% da população de São Paulo, cerca de 492 mil habitantes, população equivalente à de um município de grande porte. A população é estacionária, com 14,5% de idosos e 14,5% de jovens (ibid.). A renda per capita média é muito variável entre os distritos. Quatro deles apresentam valores inferiores à média municipal, e os demais apresentam renda per capita variando entre 1,36 e 3,36 vezes a média municipal, em valores nominais de 2010 (ibid.).

A saúde é resultante de um processo multidimensional envolvendo condições de vida e contextos sociais nos quais os grupos sociais vivem (World Health Organization, 2007). O perfil epidemiológico, ou seja, as necessidades de saúde dos diferentes grupos sociais, depende de um conjunto amplo de determinantes estruturais e intermediários, além das características individuais.

Dentre os determinantes estruturais, merece destaque o contexto socioeconômico e político definido pelas condições de governança; políticas macroeconômicas; políticas sociais relacionadas ao mercado de trabalho, moradia e ocupação do solo urbano; políticas públicas relacionadas a educação, saúde e proteção social e os valores culturais da sociedade. Esse contexto, por sua vez, determina a estrutura de classes sociais, as relações de gênero e etnia e a estratificação por educação, ocupação e renda. Os determinantes intermediários referem-se às situações materiais de vida, os comportamentos e os fatores biológicos e psicossociais que podem favorecer a manutenção da saúde ou facilitar o surgimento das doenças. Os contextos de vulnerabilidade social correspondem a esse nível intermediário de determinação. O próprio sistema de saúde é considerado um dos determinantes intermediários, uma vez que sua forma de organização e as ações que ele desenvolve podem contribuir para reduzir ou para intensificar as desvantagens produzidas pelos determinantes estruturais. As condições e características de vizinhança também fazem parte dos determinantes intermediários, podendo afetar vários comportamentos relacionados com a saúde.

 

Acesse o artigo completo na Revista Cadernos Metrópole nº 36.

 

Publicado em Artigos Científicos | Última modificação em 16-06-2016 14:51:24