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Sobre Nordeste, gênero, cultura e outras invenções

By 20/02/2013dezembro 11th, 2017Entrevistas

Sobre Nordeste, gênero, cultura e outras invenções

O entrevistado da edição nº 11 da Revista e-metropolis é o historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior, professor da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenador do grupo de pesquisa “Cartografias espaciais contemporâneas: história, produção de subjetividades e práticas institucionais”. Durval nos fala sobre o seu livro “Invenção do Nordeste e outras artes”, por meio do qual tematiza a “nordestinidade” e tenta entender a região como uma construção histórica.

Na entrevista concedida à Revista e-metropolis, Durval Muniz falou também sobre a presença da filosofia de Michel Foucault em seu pensamento, sobre gênero, cultura e outros temas presentes em suas atuais reflexões.

 

ENTREVISTA

Gostaria de iniciar por tua aproximação à filosofia de Michel Foucault, que é perceptível em teus escritos e participações em eventos que discutiram a obra desse filósofo. Como se deu esse contato com o pensamento foucaultiano? Como esse contato influenciou e influencia o teu pensamento e tuas pesquisas sobre cultura, masculinidade, subjetividade, identidade e sobre o Nordeste?

Eu entrei em contato com o pensa¬mento de Michel Foucault quando fiz o mestrado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no final dos anos 80. Foucault veio ao Brasil na década de 70, mas na historiografia o grande impacto de sua obra se dá com a publicação de Vigiar e punir. Na UNICAMP fiz um curso muito interessante, com o professor Ítalo Tronca, em que li História da Loucura na Idade Clássica e fiquei absolutamente encantado. Fiquei fascinado com o tema da história da loucura e depois com o estilo, a forma de escrever de Foucault. Foi algo de grande impacto sobre mim. Eu tive uma formação marxista, e uma formação marxista a partir da sociologia, de uma sociologia paulista, a partir das obras de Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, que têm uma escrita pesada, conceitual, abstrata… Quando entrei em contato com Foucault, a primeira coisa que me fascinou foi a escrita, além dos tipos de fontes utilizados. Isso chamou muito a minha atenção. E nesse mesmo curso, o do Ítalo Tronca, estudávamos a obra de Edward Thompson, historiador inglês marxista, que tinha, porém, uma escrita diferente, mais literária.

A minha dissertação de mestrado é um reflexo disso, desse momento da UNICAMP. Eu escrevi um trabalho sobre a construção da seca como problema regional e utilizei Foucault e Thompson ao mesmo tempo, algo próximo ao que fez a professora Margareth Rago em seu livro Do cabaré ao lar. Nesse momento o embate na academia se dava com um marxismo mais clássico, tradicional e estruturalista. Havia então essa possibilidade de se articular uma historiografia inspirada em Thompson e aquela inspirada em Foucault. A minha dissertação foi feita assim.

Quando ingressei no doutorado, também na UNICAMP, a conjuntura era outra. Os marxistas mais tradicionais, em grande medida, já haviam se aposentado e a disputa na academia se dava entre uma história social inspirada em Thompson e uma historiografia cultural inspirada em Foucault e em autores dos Annales. Aí já era quase impossível fazer essa articulação, tendo em vista que as raízes desses dois pensamentos são muito diferentes: por um lado você tem um pensamento de matriz iluminista, mais essencialista, com remissão a Platão, e Foucault tem outra tradição, que tem a ver com Nietzsche, com a crítica ao Iluminismo, com a filosofia que vai se chamar “Filosofia da diferença” e com o pós-estruturalismo. Diante disso, me apropriei muito mais das distinções entre essas duas posturas, havendo, portanto, em minha tese de doutorado uma filiação mais cara ao pensamento de Foucault, Deleuze e Guattari.

Mas, antes disso, ao voltar do mestrado, fui aprovado em concurso para a Universidade Federal da Paraíba, no campus de Campina Grande. Entrei para o departamento de História e introduzi essa “nova” literatura lá. O embate novamente se deu com os marxistas, que foram inclusive meus professores. Foi um embate com aquela tradição marxista com a qual havia me formado. O próprio desafio de entrar na universidade, de dar aula e de se contrapor com aquela dominante marxista me levaram a ler cada vez mais e a fazer a complementação ao que eu havia lido na UNICAMP. Quando regressei à UNICAMP para cursar o doutorado, fiz uma disciplina sobre teoria da História com o professor Edgar de Decca. A disciplina durou um ano inteiro e foi muito importante para mim e fez com que eu optasse por trabalhar na área de teoria da História. Quando voltei do doutorado, resolvi especializar-me nessa área.

Mais à frente, fui convidado por Margareth Rago, que foi minha professora no doutorado, a participar de um colóquio sobre Michel Foucault. Foi ela quem deu início aos colóquios Michel Foucault, tendo realizado os dois primeiros eventos na UNICAMP. A partir daí passei a conviver com um grupo de intelectuais de várias áreas – porque Foucault é um autor que atravessa várias áreas do conhecimento – e a cada vez mais me identificar com essa área, embora não trabalhe só com ele – afinal, foi a partir de Foucault que passei a ler uma série de outros autores que estão relacionados com essa forma de ver a história, de entender o mundo. Entretanto, mesmo assim, passei a ser identificado com a obra dele e realmente Foucault me ajuda muito na elaboração da minha obra e do meu próprio pensamento.

Para ler a entrevista completa com o historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior, acesse a edição nº 11 da revista eletrônica e-metropolis aqui.

 

Última modificação em 20-02-2013