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Equipe do LABMOB (PROURB/UFRJ)Equipe do LABMOB (PROURB/UFRJ)

 

Caminhar é a forma mais democrática de se locomover. Na virada do século XXI, as configurações urbanas em todo o mundo revelam a necessidade de uma transição urgente, invertendo a lógica urbana focada nos carros pela vivência da cidade a pé. A noção de caminhabilidade – ou walkability , como o conceito vem se afirmando internacionalmente – é o tema central de Cidades de pedestres – A caminhabilidade no Brasil e no mundo. O livro reúne estudos inéditos de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Copenhague e Nova York. Com 16 capítulos e 37 autores, o volume é organizado por Victor Andrade, coordenador do Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB/PROURB), e Clarisse Cunha Linke, ITDP Brasil.

O lançamento do livro “Cidades de pedestres” aconteceu, na última quinta-feira (14 de setembro) na Livraria da Travessa, em Botafogo na cidade do Rio de Janeiro, e contou com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e do Instituto Cultural da Dinamarca, além das organizações Cidade Ativa e Corrida Amiga.

O evento contou com a presença dos autores do livro e um público interessado no debate sobre mobilidade urbana e transporte ativo. O pesquisador Juciano Martins Rodrigues, do INCT Observatório das Metrópoles, esteve presente no lançamento. Ele é um dos autores do livro com o artigo “Acessibilidade, caminhabilidade e políticas para portadores de deficiência no Brasil”.

Cidades de pedestres reúne textos com análises e cases sobre caminhabilidade assinados por reconhecidos especialistas nacionais e internacionais, técnicos e pesquisadores – incluindo arquitetos, economistas, médicos –, em que o pedestre é o protagonista do espaço público, e a cidade, a expressão de uma efetiva democracia.

O arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, uma das grandes referências mundiais em desenho urbano orientado para pedestres e ciclistas, e Janette Sadik-Khan, que revolucionou a mobilidade urbana de Nova York ao ocupar o cargo de secretária de transportes da cidade, entre 2007 e 2013, atual consultora da Bloomberg Associates e conselheira do ITDP são destaque na obra.

Para Clarisse Cunha Linke, o livro está sendo lançado em um momento em que a sociedade civil organizada está cada vez mais interessada em discutir a democratização dos espaços urbanos. “Esse movimento ganhou força nos últimos anos diante do colapso da qualidade do ambiente urbano em nossas cidades, resultado do uso excessivo do carro como transporte individual”, destaca. “As pessoas precisam se deslocar na cidade com segurança e conforto e, diante do caos na mobilidade das cidades, é o momento de passarmos a tratar a mobilidade a pé como fundamental”, defende Clarisse.

“Essa é uma realidade que precisa ser enfrentada. Há um cenário que nos desencoraja a andar a pé. Percursos desconfortáveis e inseguros, pouco práticos para o cotidiano, reforçam o padrão de segregação socioespacial intraurbano que é tão característico às cidades brasileiras. É hora de repensar a agenda urbana das cidades a partir de diretrizes mais enfáticas a favor do pedestre”, ressalta Victor Andrade.

Ao reorientar a lógica urbana, os pés, afinal, devem ser nossas pontes naturais para os caminhos que outrora pareciam inacessíveis. Os pés nos oferecem o poder de viver sem motor, melhoram a saúde, não representam custo e não nos aprisionam em congestionamentos. É preciso recuperar o direito coletivo à cidade. O caminho, como enuncia o poeta espanhol Antonio Machado, se faz ao caminhar.

Victor Andrade, vereador Renato Cinco e  Clarisse Cunha Linke

Vereadora Marielle Franco (PSOL) com o livro

PEDESTRES SOMOS TODOS NÓS: A MOBILIDADE NAS CIDADES

Entre os temas emergentes do século XXI, um dos mais importantes e estratégicos para a promoção da qualidade de vida nas cidades é o pedestre. O conceito de caminhabilidade – proveniente do inglês walkability – trata deste tema ao definir atributos, no ambiente construído, convidativos ao caminhar, tais como acessibilidade, conforto ambiental, atratividade de usos, permeabilidade do tecido urbano, entre outros. Essas características influenciam a predisposição das pessoas caminharem.

Caminhar é a forma mais democrática de se locomover. A liberdade de movimento é inerente ao pedestre e seu caminhar. O pedestre executa sua coreografia diária se movendo com fluidez e, com isso, propicia vitalidade às cidades, tornando os espaços mais democráticos. No caminhar cotidiano, o pedestre se apropria do espaço construído e tem a percepção ampliada para os detalhes da paisagem.

Pedestres são crianças, adultos e idosos; são mulheres e homens. Pedestres podem ter limitações de locomoção permanentes – limitações físicas, como deficiências motoras e de visão; ou temporárias, como transporte de carrinhos de bebês, crianças de colo ou cadeiras de rodas.

A consolidação do modelo de urbanização focado em uma mobilidade baseada no transporte motorizado se deu em meados do século XX. Cidades foram exponencialmente expandidas e infraestruturas implantadas para apoiar a circulação urbana motorizada. Esta tendência teve e tem impacto deletério nas condições de deslocamento dos pedestres. O resultado deste fracassado modelo é crítico para os habitantes de cidades contemporâneas: espraiamento urbano e segregação, além de longas jornadas casa-trabalho gerando cansaço, depressão e desperdício de energia. A multiplicação de veículos particulares motorizados tem levado a níveis alarmantes de emissão de poluentes locais e globais, com impactos diretos na saúde pública e no clima.

Apesar de ainda hoje esse modelo fracassado ser replicado, tem sido questionado há décadas por pensadores como Jane Jacobs e Jan Gehl – este apresenta em CIDADES DE PEDESTRES estudo seminal indicando a relevância da escala humana e o papel estratégico do pedestre para a vitalidade urbana. A boa notícia é que, desde a virada do século XXI, cidades ao redor do mundo iniciaram uma revolução repensando os seus modelos de mobilidade.

Novos paradigmas ditam uma inflexão nos padrões de desenvolvimento urbano, reduzindo o espaço para os veículos motorizados e apoiando a renascença dos espaços para os pedestres. É a emergência de uma visão antropocêntrica de cidade, focada nas pessoas. Copenhague, Nova York, São Paulo, Bogotá, Madri e Buenos Aires são exemplos de cidades que estão em plena transformação, buscando soluções para a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, sobretudo pedestres.

CIDADES DE PEDESTRES apresenta e proporciona debates através das lentes sociocultural, ambiental, econômica e da saúde, com informações sobre a caminhabilidade nas cidades por meio de contribuições de especialistas brasileiros e estrangeiros.

Para aquisição do livro, acessar a Estante Virtual.