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A desigualdade da renda do trabalho subiu por cinco trimestres seguidos nas regiões metropolitanas brasileiras. Isso significa que o Brasil metropolitano de hoje é mais desigual do que aquele de um ano atrás, do ponto de vista da renda do trabalho. Em números, a nova edição do “Boletim Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo Observatório das Metrópoles, PUCRS Data Social e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), apontou que o coeficiente de Gini (quanto mais alto o valor, maior a desigualdade) subiu de 0,615 para 0,626 entre o segundo trimestre de 2022 e o mesmo trimestre de 2023. Já a razão entre a média de renda dos 10% mais ricos em relação aos 40% mais pobres variou de 29,7 para 32 vezes no mesmo período. Ou seja, no segundo trimestre de 2023 a renda dos mais ricos era 32 vezes maior que a dos mais pobres.

Os dados levantados pelo Boletim mostram que, enquanto a renda dos mais ricos subiu quase 10% no último ano, a dos mais pobres avançou menos de 2%. Conforme o coordenador do PUCRS Data Social, Andre Salata (um dos coordenadores do estudo), essa diferença na recuperação dos rendimentos explica a tendência de alta das desigualdades. “Parte desse movimento é explicado, de um lado, por uma recuperação econômica que tem criado vagas de trabalho concentradas no setor informal, de baixa qualidade; e, por outro, pela recomposição salarial dos estratos mais altos após as perdas sofridas no processo inflacionário”, explica Salata. Segundo ele, após a enorme queda sofrida durante a pandemia de Covid-19, a renda dos mais pobres se recuperou até meados de 2022, retornando a um patamar semelhante ao de 2019. Mas, desde então, a tendência tem sido de estagnação. “No caso dos mais ricos, a queda da renda foi menos brusca durante a pandemia, e sua recuperação ainda está em andamento”, pontua.

Desigualdades de renda entre as metrópoles também se apresentam como diferenças regionais do país

Das 22 metrópoles analisadas, em 17 delas se verificou o mesmo padrão de crescimento da desigualdade ao longo do último ano. Esse crescimento foi superior a 5% nas Regiões Metropolitanas de Vale do Rio Cuiabá [12,1%], Grande São Luís [8%], Teresina [7,4%], Belo Horizonte [5,7%] e Fortaleza [5,4%]. Sobre a média geral de rendimentos apresentada no estudo, houve um aumento de R$1.577 para R$1.701 no segundo trimestre de 2023, que é o maior dos últimos três anos e o segundo maior da série histórica, configurando uma elevação de 7.88%. Em 19 das 22 metrópoles também foi constatada uma variação positiva. O aumento foi mais elevado nas Regiões Metropolitanas de Goiânia [25,6%], Teresina [23,2%], Belo Horizonte [17,7%], Recife [16,8%] e Macapá [15,8%].

De acordo com o pesquisador do Observatório das Metrópoles, professor do IPPUR-UFRJ (também coordenador do estudo), Marcelo Ribeiro, o aumento do rendimento médio no conjunto das metrópoles é resultado de um período mais expansivo do mercado de trabalho, tendo em vista a redução da taxa de desocupação ocorrida nos últimos trimestres. “Apesar de todos os estratos terem aumentado seu nível de renda no conjunto das metrópoles, quando analisamos esses resultados na comparação entre elas, observamos que em mais da metade das metrópoles ocorreu redução do rendimento médio do estrato de 40% de menor renda. E isso aconteceu, principalmente, nas regiões metropolitanas do Norte e Nordeste do país, o que demonstra que a recuperação do mercado de trabalho não tem ocorrido da mesma maneira em todas as regiões do país”, analisa.

“Não é nem mesmo um cenário onde todos ganham, mas os que estão em cima ganham mais”, afirma Salata

O cenário descrito pelos dados levantados no estudo é de aumento da média de renda do trabalho ao longo do último ano, mas com crescimento proporcionalmente maior para os estratos mais altos, levando ao aumento das desigualdades no período. Segundo Salata, enquanto alguns estratos mais baixos chegaram a ter queda de 3,6% na média de renda, camadas mais altas ganharam quase 10%. “Ou seja, não é nem mesmo um cenário onde todos ganham, mas os que estão em cima ganham mais. Na verdade, na parte de baixo da pirâmide chegamos a ter mesmo perdas reais”, afirma o coordenador.

Sobre o percentual de pessoas morando em domicílios com renda per capita do trabalho de até ¼ do salário-mínimo, este número subiu para 24,2% no segundo trimestre de 2023. Conforme o estudo, trata-se da retomada de patamar em relação ao registrado no trimestre imediatamente anterior à pandemia, mas ainda distante do nível encontrado no início da série histórica, de 2012 até 2014, quando aquela razão variava entre 17% e 19%. No segundo trimestre de 2023, o número de moradores de domicílios com rendimento de até ¼ do salário-mínimo correspondia a 20,5 milhões de pessoas, superior aos 18,9 milhões registrados no mesmo trimestre de 2019.

Sobre o estudo

Esta é a 14ª edição do “Boletim Desigualdade nas Metrópoles”, que teve sua primeira edição desenvolvida a partir de dados do segundo trimestre de 2020. Produzido em parceria pelo Observatório das Metrópoles, PUCRS Data Social e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), o objetivo do estudo é reunir um conjunto de informações relevantes acerca das desigualdades de rendimentos no interior das regiões metropolitanas do país. Os dados utilizados são provenientes da PNAD Contínua trimestral, do IBGE, e dizem respeito somente à renda domiciliar per capita do trabalho, incluindo o setor informal. O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o segundo trimestre de 2023, de acordo com o IPCA.

Confira na íntegra o “Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 14”.

Acesse aqui as tabelas e gráficos do estudo.