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A partir do dossiê “O ativismo urbano contemporâneo: resistências e insurgências à ordem urbana neoliberal”, o último debate do Ciclo Cadernos Metrópole – Difusão Científica e Temas Emergentes ocorreu no dia 16 de setembro e abordou o tema dos movimentos sociais.

Com a presença do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do Núcleo Porto Alegre, Luciano Fedozzi e da professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e coordenadora do Núcleo Paraíba, Lívia Miranda, o debate teve transmissão ao vivo pelo Youtube e foi mediado por Lucia Bógus, editora científica da Cadernos Metrópole. O coordenador nacional do Observatório das Metrópoles, Luiz Cesar Ribeiro, também participou da abertura e encerramento da atividade.

Publicado na Revista Cadernos Metrópole número 46, o dossiê organizado por Luciano Fedozzi, Heleniza Campos, Mario Lahorgue, Paulo Roberto Soares e Vanessa Marx abordou a governança urbana e metropolitana, políticas públicas, espaços de poder e território. De acordo com o professor da UFRGS, o contexto do país é de muita adversidade e complexidade, o que retira as possibilidades de uma ação, por exemplo, mais articulada, ainda que seja relativamente pluralista. “Esse quadro de profunda crise social, humanitária, inclusive, a partir da Covid-19, é muito adverso à possibilidade de criar formas de associativismo que consigam, de certa forma, ter potência, uma certa estabilidade no tempo, na medida que uma grande parte das pessoas estão lutando pela sobrevivência cotidiana”, ressaltou Fedozzi.

Segundo o professor, levando em conta experiências ocorridas em Porto Alegre, a tentativa de formar coletivos ou fóruns municipais que consigam trabalhar com a pluralidade e pautas mínimas articuladas com outras esferas é algo importante, mas talvez não seja suficiente. “No entanto, é a forma com que hoje seja possível colocarmos conexões entre essas várias expressões, entre os movimentos de bairro. A apropriação ou reapropriação dos espaços é muito relevante. Isso tudo faz parte de uma ideia maior, ou seja, tudo isso faz parte do direito ao espaço e o direito à cidade”, finalizou Fedozzi.

A professora da UFCG comentou que parte desses movimentos, ou organizações, está na luta por condições básicas de reprodução, sendo que essas condições pioraram muito no período de pandemia. “Isso faz com que as pessoas lutem por essa perspectiva de inclusão e não de transformação, mas outra parte busca algo a mais, como demandas culturais, ambientais, ou seja, mais simbólica. Muitas vezes sem buscar essas conexões ou sem ter a solidariedade com os outros movimentos coletivos e suas causas. Então, eu penso o quanto as insurgências são ou precisariam ser mais radicais e contra-hegemônicas. O quanto revelam e problematizam as relações entre o capitalismo neoliberal e a urbanização desigual. O quanto visam e propõem alternativas para transformações estruturais na produção do espaço e nos processos decisórios. Estamos no meio de um dilema. Porque o quanto elas se configuram como oportunidades para a emancipação dos sujeitos, a partir do reconhecimento de suas condições de gênero, classe, raça e de sexualidade. Em boa parte dos casos, esses avanços e conquistas em determinados campos parecem muito vulneráveis e instáveis e, muitas vezes, em função das conjunturas, das forças opositoras e das próprias contradições internas que essas organizações se colocam”, refletiu Miranda.

O Ciclo Cadernos Metrópole é o segundo evento do II Congresso Observatório das Metrópoles “O Futuro das Metrópoles e as Metrópoles no Futuro”, que pretende construir uma interpretação compartilhada sobre as mudanças em curso, pensar sobre a produção da rede e estabelecer estratégias de intervenção. Para conferir o registro de todos os debates, acesse: youtube.com/obsmetropoles