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Evolução urbana em Brasília

By 29/08/2012janeiro 23rd, 2018Teses e Dissertações
Via Estrutural, em Brasília

Via Estrutural, em Brasília (Divulgação)

Após 52 anos de sua inauguração Brasília é uma cidade muito mais complexa do que o Plano Piloto de Lúcio Costa. Cidade real com características próprias e com características comuns a outras cidades, produto de diversas relações, como da sociedade com o espaço, e do espaço com o meio ambiente. A pesquisadora Juliana Machado Coelho investigou a evolução urbana de Brasília entre os anos 2000 e 2010 para compreender o processo de segregação socioespacial que mantém estreita relação com a desigualdade.

A dissertação “Evolução Urbana em Brasília entre 2000 e 2010 – aspectos socioeconômicos, morfológicos e ambientais da segregação socioespacial”, da pesquisadora Juliana Machado Coelho, foi defendida em agosto de 2012 na Universidade de Brasília (UnB). Com orientação do professor Rômulo José da Costa Ribeiro, o trabalho é mais um resultado da Rede Nacional INCT Observatório das Metrópoles.

No estudo foram abordados três aspectos para a análise da evolução urbana de Brasília: os aspectos socioeconômico, morfológico e ambiental – fundamentais para a estruturação de uma cidade. Foi feita também uma revisão da bibliografia existente sobre a influência da gestão e do planejamento urbano na formação do espaço urbano e também sobre a caracterização da segregação socioespacial nos aspectos estudados e como essa segregação ocorreu em Brasília.

“O objetivo geral da pesquisa foi estudar a evolução urbana em Brasília entre 2000 e 2010, concentrando-se em três eixos: socioeconômico, configuracional e ambiental (no que tange ao verde urbano) com o intuito de compreender como essas variáveis impactaram o espaço urbano. Esses aspectos foram avaliados para verificar se no período entre 2000 e 2010 houve alguma alteração na segregação socioespacial já identificada em Brasília por Da Guia (2006), Ribeiro (2008), entre autores”, explica Juliana.

Segundo a pesquisadora, para a análise foram utilizados mapas axiais de Brasília, dados da PDAD, dados do Censo de 2000 e de 2010 e imagens do satélite Landsat TM5.

Dentre os objetivos específicos, destaque para: a) Identificar como as desigualdades se evidenciam espacialmente em cada aspecto estudado; e b) Analisar se no período houve alterações nos aspectos socioeconômico, morfológico e ambiental da organização espacial urbana de Brasília em relação à segregação socioespacial.

“O trabalho procurou compreender a evolução urbana a partir do olhar do urbanista, desse modo compreender como a organização espacial urbana altera e influencia as relações entre sociedade e espaço, entre espaço e meio ambiente. Como exemplo dessas relações, está o acesso da população ao local onde os empregos se concentram, a existência de vegetação em área urbana e as contradições expressas entre a exclusão e a inclusão social”, argumenta Juliana.

 

Segregação socioespacial e periferização

Na década de 1970, um dos processos típicos das grandes cidades brasileiras foi a periferização da população de baixa renda via especulação imobiliária (OJIMA et al., 2010). Posteriormente a periferia passou a ser ocupada também por classes de maior renda, como nos condomínios fechados onde há privatização de espaços tradicionalmente de uso público, como praças e ruas.

Em Brasília, cidade que do ponto de vista da arquitetura e do urbanismo pode ser vista como um ícone do movimento moderno ao mesmo tempo em que reproduz padrões espaciais existentes em outras cidades brasileiras, esses dois processos de periferização também ocorreram, porém com particularidades próprias da cidade que cinquenta anos de existência se tornou uma das grandes cidades brasileiras. De forma ampla e geral, pode-se dizer que dentre as peculiaridades brasilienses nesse processo está a forte ação do Estado na periferização da população de menor renda e a abstenção desse mesmo Estado no controle da ocupação da periferia pelas classes de maior renda.

A forma de ocupação do espaço urbano em Brasília criou diversos vazios existentes entre o Plano Piloto e as demais Regiões Administrativas que têm sido preenchidos com o aumento da população. A mancha urbana altamente dispersa e fragmentada tem se expandido, o que resulta na diminuição da vegetação nativa, o cerrado. Contudo, as características espaciais que produzem e reproduzem as desigualdades sociais existentes aparentemente não se alteram, a segregação socioespacial é evidenciada em diversas pesquisas urbanas sobre Brasília que apresentam indícios de que a condição de vida é influenciada pela segregação socioespacial (DA GUIA, 2006; CAMPOS, 1998).

“Por essa razão, a segregação socioespacial foi abordada a partir da perspectiva da inclusão/exclusão social. Apesar de não desconsiderar a possibilidade de estudar a segregação socioespacial por outras perspectivas, a intenção do trabalho é identificar onde as desigualdades sociais, morfológicas e ambientais afetam de maneira negativa a condição de vida da população local”, afirma Juliana Machado Coelho e completa:

“A maioria dos estudos acadêmicos e planos governamentais tratam as questões urbanas relativas aos aspectos socioeconômico, configuracional e ambiental de forma separada. No trabalho de Ribeiro (2008), o autor demonstra que em algum momento é inevitável que a situação urbana seja estudada e avaliada de forma integrada, pois a ‘visão segmentada não permite que a cidade seja compreendida de forma mais realista e abrangente’ (RIBEIRO, 2008, p. 1), tal necessidade justifica a utilização das três dimensões presentes nesse trabalho”.

Resultados

Em Brasília, a tendência da organização social se refletir no espaço é confirmada pelas diferenças existentes entre as Regiões Administrativas. Tais diferenças estão presentes desde o início da cidade, quando a periferia era ocupada, principalmente, pela população mais pobre. Posteriormente, essa também foi a alternativa encontrada pela classe média e média alta devido ao alto valor e baixa disponibilidade da terra na região central e seu entorno imediato. Assim, não apenas a população de baixa renda se estabeleceu na periferia, mas a maior parte da população da cidade se estabeleceu fora do Plano Piloto.

A comparação dos dados da PDAD – 2004 e da PDAD 2010 permite observar algumas alterações que representam ganhos, mesmo que pequenos, para a população de menor renda. Porém, quando esses dados são analisados como um todo se percebe que as desigualdades entre as Regiões Administrativas são enormes. Há uma clara separação entre as Regiões Administrativas que não é apenas física, a distância entre elas é social também. É possível identificar concentrações de domicílios de determinadas classes de renda na maior parte das Regiões Administrativas, também é possível relacionar essa renda com nível de instrução e posse de bens.

Quando se compara as características da cidade indicadas por Ribeiro (2008) para o ano 2000 com as características da cidade obtidas nesse trabalho percebe-se que quando a cidade é analisada como um todo, colocando lado a lado aspectos socioeconômicos, morfológicos e ambientais, as pequenas alterações não foram capazes de alterar as tendências que se desenhavam há dez anos. Entre as características apontadas por Ribeiro (2008) que se mantiveram em 2010 estão a alta dispersão que, apesar de ter diminuído, manteve-se alta; a cidade ainda é fortemente dependente do sistema viário; a concentração de empregos e serviços continua na RA I – Brasília; o centro de massa ainda é distante do CCS, apesar da aproximação de 0,58 km; ausência ou baixa quantidade de áreas verdes e ausência ou baixa atividade fotossintética nas localidades periféricas.