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A financeirização é um conceito relativamente recente que aponta a predominância de agentes e lógicas financeiras no período capitalista atual. Se por um lado não há um consenso quanto à sua definição, por outro, os estudos que levam em conta a financeirização são crescentes e das mais diversas disciplinas. Neste artigo, apresentado na XVII ENANPUR, o pesquisador Rodrigo Cardoso Bonicenha revisa parte da bibliografia acerca da financeirização buscando apreender os nexos entre o território e os circuitos financeiros de acumulação.

O estudo apresenta ainda o papel do crédito e de diferentes instrumentos financeiros que permitiram uma maior relação entre diferentes circuitos de valor, mais especificamente o secundário e o quaternário. Assim como possíveis efeitos oriundos da relação entre estes diferentes circuitos, mais especificamente relacionados à financeirização da casa e do território de modo mais amplo.

O artigo “Financeirização e Território: revisão da literatura recente“, de autoria de Rodrigo Cardoso Bonicenha (Universidade do ABC), foi publicado no XVII Encontro Nacional da ANPUR (São Paulo/maio de 2017), no âmbito da sessão temática “Produção e Gestão do Espaço Urbano, Metropolitano e Regional”.

A Rede INCT Observatório das Metrópoles tem divulgado estudos relativos ao tema da “financeirização urbana” com o propósito de ampliar o debate sobre essa questão que está no centro dos processos de urbanização no Brasil e no mundo. Ademais, o tema da financeirização urbana está inserido no novo programa de pesquisa do Observatório através dos projetos sobre Regimes Urbanos.

Rodrigo Cardoso Bonicenha (rodrigo.bonicenha@ufabc.edu.br) é geógrafo; mestre em Planejamento e Gestão do Território; e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão do Território da Universidade Federal do ABC.

ABSTRACT

Financialization is a relatively recent concept that points to the predominance of financial agents and logics in the current capitalist period. If on the one hand there is no consensus as to its definition, on the other hand, studies that take into account financialization are increasing and from the most diverse disciplines. In this article we review part of the literature about financialization seeking to understand the nexuses between territory and financial circuits of accumulation. We will also present the role of credit and of different financial instruments fundamental to greater nexuses between different value circuits, more specifically the secondary and the quaternary. As well as possible effects arising from the relationship between these different circuits, more specifically those related to the financialization of the house and the territory in a broader way.

INTRODUÇÃO

Por Rodrigo Bonicenha

O conceito de financeirização tem sido cada vez mais adotado para descrever as particularidades do capitalismo atual. Segundo Christophers (2015a), a financeirização, ao lado da globalização e do neoliberalismo seriam três conceitos-chave aplicados na Economia Política e Cultural para apreender as mudanças que aconteceram no capitalismo pós-1970. Se globalização e neoliberalismo são conceitos com múltiplas definições e que foram difundidos além dos ambientes acadêmicos e por muitas áreas do saber, Christophers acredita que a financeirização segue pelo mesmo caminho.

Este artigo faz uma revisão de parte da bibliografia acerca do conceito de financeirização buscando entender a difusão do conceito, seus limites e potencialidades e como é aplicado às pesquisas relacionadas à terra, à moradia, aos projetos de desenvolvimento urbano, entre outros. Apesar do conceito atingir diversas áreas do saber, permitindo assim um diálogo entre as diferentes disciplinas, de modo geral, a literatura da financeirização relacionada à terra parte de um ponto básico apontado por Harvey (2006[1982]) que seria uma tendência crescente no capitalismo de tratar a terra como um ativo financeiro.

Neste sentido, apesar de ser um conceito contestado e em transformação, as pesquisas da financeirização, de modo geral, buscam apreender os nexos entre os circuitos financeiros e os agentes responsáveis pela produção do espaço urbano, suas estratégias e as formas como tem se entrelaçado.

Para Lapavitsas (2011) não há consenso quanto a definição do conceito de financeirização. Aalbers, entretanto, define financeirização como “the increasing dominance of financial actors, markets, practices, measurements and narratives, at various scales, resulting in a structural transformation of economies, firms (including financial institutions), states and households” (2015b, p. 214).

Ainda para Aalbers, esta seria uma “definição guarda-chuva” (an umbrella definition) capaz de operacionalizar múltiplas definições de pesquisas empíricas, assim como aglutinar diferentes tipos de literatura relacionados à financeirização. Nosso objetivo não é apresentar uma definição do conceito, mas jogar luz sobre o tema da financeirização e seus nexos com o território. Busca-se colaborar ao debate da financeirização do território e seus efeitos, em especial, para a área do planejamento urbano e regional, em outras palavras, de como uma dominância de agentes, lógicas, estratégias, métricas financeirizadas, em escalas além das locais (Aalbers, 2015b), podem determinar a produção do espaço (local) – assim como a vida cotidiana – para além dos instrumentos do planejamento.

Para realizar o explicitado, além desta seção, o texto está organizado em três partes. A segunda seção apresenta algumas definições do conceito, sua difusão e alguns limites. Continua expondo o papel do crédito atualmente, assim como os diferentes circuitos de valor do capital. A terceira seção apresenta os nexos entre a financeirização e o ambiente construído. Partiremos da financeirização da casa, por meio da securitização e criação de instrumentos financeiros contemporâneos, buscando assimilar como os circuitos financeiro e suas lógicas penetrem cada vez mais no cotidiano dos trabalhadores, assim como dos Estados. Terminamos esta seção apresentando parte do debate nacional relacionado à financeirização do território. A última seção consiste de considerações finais.

Leia o artigo completo, no site da ENANPUR.