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Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro¹

A literatura sobre financeirização tem discutido este fenômeno como um processo que penetra em todas as esferas da sociedade, não se constituindo apenas em um fato econômico. É mencionada a invasão da vida quotidiana com a criação de um ethos financeiro. O mesmo pode-se dizer para o que Evegney Morozov designa como informacionalização da economia, da sociedade, do Estado e também da vida cotidiana. Trata-se da submissão total da sociedade à lógica da conectividade, das redes, do monitoramento permanentes pelos sensores, da regulação algorítmica das relações sociais, dos comportamentos, etc.

O trecho abaixo é bem ilustrativo da proximidade entre o ethos financeirizado e o ethos informacionalizado.

As três obsessões dos americanos — tecnologia, condicionamento físico e finanças — finalmente convergiram no FitCoin, o novo aplicativo que permite ao usuário monetizar sua ida à academia de ginástica. O mecanismo é simples: integrando-se aos rastreadores de movimentos e aos wereables (dispositivos de vestir) mais comuns, o aplicativo converte nossas pulsações cardíacas em uma moeda digital. Os criadores do FitCoin esperam que assim como sua irmã mais velha, Bitcoin, essa moeda possa ser utilizada para compra de produtos exclusivos de parceiros como Adidas, assim como reduzir o custo do plano de saúde (p. 66).

Pode parecer algo fantasioso, porém, em rápida pesquisa na internet, já podemos encontrar academias oferecendo este serviço, como mostra o vídeo abaixo.

Este link exemplifica o caso de uma academia entre muitas que oferece este serviço de recompensas aos seus aplicados alunos. No anúncio encontramos a tabela de pontos e as respectivas recompensas ofertadas para cada categoria.

Ao referir sobre a existência do aplicativo FitCoin a seguinte conclusão:

É possível que o FitCoin não resulte em nada, no entanto, o princípio subjacente a ele aponta uma transformação mais ampla da vida social sob condições de conectividade permanente e mercantilização imediata: o que antes eu fazia por prazer, ou só para cumprir as normas sociais, passa a ser firmemente guiado pela lógica do mercado. Outras lógicas não desaparecem, mas se tornam secundárias em relação ao incentivo monetário (p. 66-67).

Ver: MOROZV, Evgeny. BigTech: A ascensão dos dados e a morte da política (2018).

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¹ Professor titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ). É coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles.

Texto publicado originalmente no blog do Grupo de Pesquisa Metrópole, Estado e Capital, disponível em: www.metropoleestadocapital.com/post