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I Seminário Metropolização do Espaço e Cotidiano

O Núcleo de Estudos e Pesquisa em Espaço e Metropolização (NEPEM) da PUC-Rio promove, nos dias 13 e 14 de novembro, o I Seminário Metropolização do Espaço Cotidiano, com o tema “Entre a produção alienadora da cidade e indícios de insurgência”. Entre os eixos de discussão do evento, destaque para: a racionalidade neoliberal e a negação do ser político; redes políticas, cotidiano e escalas de ação; e city-marketing, planejamento estratégico e a produção alienadora da cidade. O evento tem entrada gratuita.

APRESENTAÇÃO

Ao se falar em metropolização do espaço devemos, de imediato, que o fenômeno urbano, ligado à industrialização e à aglomeração (complexos urbano-industriais), marca das décadas anteriores à atual, vem dando lugar ao fenômeno metropolitano, ligado à “desindustrialização”, à desconcentração e à “explosão” da metrópole, isto é, à difusão dos códigos metropolitanos, num sentido amplo dessa imagem, num espaço muito além dos limites das regiões metropolitanas oficialmente delimitadas.

A metropolização marca o momento atual da organização do espaço e das práticas espaciais que nele se realizam. Contribui para a realização de profundas transformações das formas, estrutura e dinâmicas espaciais ao superar a urbanização, marca de uma “geografia” anterior à atual (ou às atuais). A metropolização trata-se, por exemplo, da grande intensidade de fluxos de pessoas, mercadorias e capitais, do crescimento das atividades de serviços e de cada vez maior demanda do trabalho imaterial, da concentração de atividades de gestão e administração, da cada vez maior utilização de tecnologias de informação e comunicação, da grande variedade de atividades econômicas com maior concentração de serviços de ordem superior, da exacerbação da associação entre o capital financeiro, promotores imobiliários e da indústria da construção, da produção de um modo de viver e de consumo que se espelha no perfil da metrópole.

As áreas de expansão e de investimentos nas cidades acabam sendo definidas pelos proprietários fundiários, pelas construtoras e pelos promotores imobiliários. O processo de metropolização tem, simultaneamente, levado ao adensamento de determinadas áreas, ao espraiamento da metrópole e às operações urbanas de renovação ou de revitalizações, que acabam por gerar forte gentrificação. Vivenciamos uma transformação que incorpora as dimensões econômica e social, em que grandes investimentos da esfera pública viabilizam a criação e/ou expansão das áreas centrais, articuladas à reprodução do capital financeiro, que produz segregação e apropriação desigual do espaço urbano.

No início do século XXI, percebemos que, cada vez mais, os governantes procuram construir uma marca para suas cidades; contudo, o “sucesso” de uma determinada cidade acaba provocando um movimento que objetiva copiar aquilo que teria dado certo, levando à homogeneização das formas-conteúdo, pois acreditam que assim atrairiam investidores. Contradição que aponta para uma espécie de urbanização banalizada e consequentemente para a banalização do espaço.

Muitas cidades têm seguido as definições de uma política empreendedorista, investindo em infraestrutura ligada às atividades turísticas, muitas vezes aproveitando-se de eventos internacionais, como o fizeram Barcelona (Jogos Olímpicos, 1992 e o Fórum de las Culturas, 2004), Lisboa (Expo’98) ou Sevilha (Expo’92); o Rio de Janeiro seguiu o mesmo caminho: Jogos Pan-Americanos 2007, Copa do Mundo de Futebol 2014, Olimpíadas 2016.

Assim, agências multilaterais – BID, Banco Mundial, PNUD, Agência Habitat, dentre outras – e consultores internacionais acabam construindo ideários e modelos que afirmam que as cidades devem comportar-se como empresas, em um mundo que é visto como um mercado em que cidades competem entre si. Dessa forma, esse ideário defende que grandes projetos urbanos, recuperação de centros históricos, parcerias público-privadas e revitalizações fomentam a produtividade e competitividade da cidade, assegurando uma inserção de sucesso no mundo globalizado.

Há, também, a incorporação de uma dimensão cultural. A esfera do consumo ganha proporções antes desconhecidas, provocando uma alteração profunda da cultura mercantil, que atinge todas as esferas da vida. Os hábitos culturais e os valores urbanos típicos da metrópole se difundem para além dela, chegando a todo o espaço, territorializado na mercadificação generalizada.

Através da elaboração de um Plano Estratégico, que tem origem na lógica empresarial, procura-se definir objetivos e políticas para conseguir acordos, coordenar as concessionárias privadas, dinamizar a economia e tornar as cidades competitivas em escala internacional. Contudo, essa lógica de planejamento e gestão não é facilmente desvelada, pois devido à propaganda e toda uma produção de city marketing, o que se faz em uma área restrita ganha ar de universal; ou seja, troca-se a parte pelo todo. Planos como esses têm produzido mundo afora projetos, revitalizações e obras espetaculares que se espelham (muitas vezes são cópias fiéis) em “modelos de sucesso”.

É preciso pensar em novas formas de planejamento, baseadas no diálogo e na participação democrática, pois como afirma Horacio Capel, “não podemos deixar que sejam os técnicos que nos dirijam, que nos ponham diante do fato consumado. Temos que impor o diálogo, tornar explícitas nossas opções e pôr os técnicos a nosso serviço”.

Esta breve apresentação do tema do evento desenvolve a hipótese de que a reprodução do espaço, no mundo contemporâneo, aprofunda a contradição entre o processo de produção social do espaço e sua apropriação privada; além de que a metropolização do espaço, num sentido amplo, contribui para transformar as dinâmicas espaciais urbano-metropolitanas em todas as escalas territoriais.

O espaço é um produto social e é produzido com intenções que interferem na vida cotidiana. Nas cidades contemporâneas nota-se uma crescente complexidade das formas de controle social: novos equipamentos de segurança, redes técnicas e instrumentos simbólicos, em combinação, contribuem para a produção de segurança nos espaços urbanos. O planejamento e a gestão territorial num momento de agudização das contradições sociais e de práticas excludentes, em todas as escalas geográficas, são definidos na relação com os direitos coletivos e individuais. Em outras palavras, eles operam na presunção de que, por um lado, existe a lógica territorial dos grupos sociais afetados/dominados pelas geometrias de poder, por outro lado, está a lógica dos que gerenciam os projetos de desenvolvimento. A recente corrida global por terra produziu um dramático implemento dos investimentos na compra de terras no Brasil.

A tendência atual acentua os processos em curso de elevação dos preços da terra, bem como as consequências desses processos.

Se até então apontamos mais claramente a dimensão da produção alienadora da cidade, há também elementos, indícios de insurgência. Tratam-se de mobilizações e ações insurgentes que põem em questão as certezas estabelecidas, o status quo. Evidentemente, não é fácil contrapor-se a um consenso fortemente construído e reproduzido com a ajuda da mídia.

Nesse momento, valorizar o dissenso, mas do que possível, é necessário. Colocar em questão a propriedade privada – e a própria noção de espaço público – torna-se fundamental. Mirar a noção de espaço comum e de bens comuns talvez seja fundamental para buscar a transformação do estado de coisas atual.

Poderíamos citar alguns exemplos de insurgência, tais quais: o Espaço Criarte na Ocupação Manoel Congo (do Movimento Nacional de Luta pela Moradia – MNLM-RJ), a Rede de Resistência Solidária (Recife-PE), os Movimentos “Ocupa”, o Movimento Não Vai Ter Copa, o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, até mesmo certo grupo de artistas de rua (organizados em torno da Rede Brasileira de Teatro de Rua) e tantas outras formas de mobilizações que temos acompanhado recentemente.

Quanto à estrutura de realização do evento, a Comissão Organizadora optou por desenvolver os debates através de mesas redondas temáticas. Aqueles que tiverem seu trabalho selecionado terão 20 minutos para apresentar sua pesquisa e ao final das exposições teremos um momento definido para o debate. Todas as mesas redondas acontecerão no Campus da PUC-Rio sem atividades paralelas. O debate será sempre privilegiado.

Para mais informações, acesse a página do NEPEM PUC-Rio.

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Publicado em Eventos | Última modificação em 09-11-2017 10:45:49