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Lançado pela Letra Capital Editora, o livro “De homo sapiens à turistas culpados pela pandemia” destaca que a variável espacial foi negligenciada pelos governadores e prefeitos nas políticas de controle de Covid-19 nas cidades brasileiras. Ao invés disso, ocorreu uma simples transposição de ações e procedimentos associados a outras realidades (leia-se metrópoles ocidentais), de modo que as intervenções espaciais acabaram focando, exclusivamente, no viés demográfico, associado à dimensão etária e a justificar até mesmo a política de vacinação adotada no país.

Pesquisador do Núcleo Fortaleza e autor da obra, Eustogio Wanderley Correia Dantas (Universidade Federal do Ceará) argumenta que enfrentamos uma dificuldade em assimilar a ideia de fechamento das fronteiras à época da primeira onda, reflexo de um forte apego ao “direito de ir e vir” e em contraponto a outras noções-valores apoiados na máxima do civismo (Han, 2020) ou da consciência coletiva (Sachs, 2020). O autor inova ao abordar como setores, segmentos, e usuários associados às atividades turísticas, de lazer e esportivas se encontram no front do movimento de pressão à retomada das atividades e em contraponto à política de isolamento social implementada pelos governos.

Tomando como ponto de partida desdobramento do fenômeno no Brasil, especificamente na metrópole de Fortaleza-Ceará, mostraremos como a postura “negacionista” se insere em contexto mais amplo, a abarcar tanto um quadro político representativo de um governo federativo a comportar posturas de insurgência dos Governos Locais (dos estados federativos) em relação ao Governo Central como aspectos sociais e econômicos caracterizadores de um pais ocidentalizado a estabelecer gênero de filtragem impactante na implementação de políticas de ordenamento e controle do espaço singulares. 

O livro está dividido em duas partes. Na primeira, busca-se estabelecer um diálogo com abordagem das ciências biomédicas, no intuito de sensibilizar sobre a importância da dimensão biológica do ente humano, negligenciada face ao imperativo da abordagem de caráter econômico em nossos estudos e aproximações. Já na segunda, no sentido inverso, convida os colegas das ciências biomédicas a considerarem avanços nos estudos relativos ao espaço urbano, razão a potencializar o fenômeno de contaminação, tornado intenso e drástico, tanto na rapidez, sem precedentes, de atingimento da escala global como de desdobramentos nefastos a constituírem, além de lugares de adoecimento, territórios da morte.

Em formato de ensaio, a obra traz como ponto central que, para o enfrentamento efetivo da pandemia de Covid-19, faz-se necessário complementar as contribuições das Ciências Biomédicas às oferecidas pelas Ciências Humanas. O autor argumenta que os fundamentos teóricos derivados do tratamento da interação do agente infeccioso com o hospedeiro, desdobrados nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde, enfrentou forte oposição de governantes em países como o Brasil, dando vazão a pronunciamentos críticos de pesquisadores das ciências biomédicas. Dantas então pondera sobre os limites objetivos de tal investidura, reflexo direto da falta de diálogo com as Ciências Humanas, no domínio do político e, principalmente, do urbanismo. Em suma, defende a necessidade de maior interdisciplinaridade, em particular uma maior inserção da Ciência Humanas nas pesquisas e decisões em políticas públicas, e a utilização do espaço como categoria primordial de análise.

A versão digital do livro está disponível para download gratuito em nosso site (CLIQUE AQUI), já a versão física está à venda no site da Letra Capital Editora.