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No artigo Migração para e da Região Metropolitana do Cariri nas últimas duas décadas, da Revista e-metropolis, Wellington Justo explora o tema da migração na região do Cariri nos períodos de 1995-2000 e 2005-2010, bem como analisa o fluxo da “migração de retorno” para o Nordeste, fluxo em destaque na atualidade. Ao analisar o perfil da população migrante, não migrante e migrante de retorno na última década, observa-se que a Região Metropolitana do Cariri passou a reter os habitantes mais qualificados e atrair de volta à sua terra natal aqueles que haviam deixado à região e que retornaram com maior qualificação.

Segundo Wellington Justo, o artigo tem como objetivo estimar os fluxos migratórios de e para a Região Metropolitana do Cariri nas últimas duas décadas. Neste sentido, foram estimados os fluxos migratórios entre os municípios da RMC e entre estes e as capitais dos estados do Nordeste juntamente com Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Também foi analisado o perfil do migrante, não migrante e do migrante de retorno. Foram construídas matrizes destes fluxos migratórios. “Em termos de destino, os migrantes da RMC foram predominantemente para São Paulo e Salvador, em 2000, enquanto em 2010 para Fortaleza e São Paulo. O grande destaque é mudança no fluxo migratório dos três maiores municípios: Barbalha, Crato e Juazeiro que passam a apresentar taxa líquida positiva no último período analisado. Finalmente em relação ao perfil da população das três categorias analisadas, puderam-se observar mudanças entre 2000 e 2010”, argumenta o pesquisador.

Wellington Ribeiro Justo é doutor em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (2006). Professor Associado da Universidade Regional do Cariri.

A seguir a Introdução do artigo Migração para e da Região Metropolitana do Cariri nas últimas duas décadas, um dos destaques da Revista e-metropolis nº 22.

INTRODUÇÃO

Há décadas, movimentos populacionais no Brasil envolvem milhões de pessoas, seja do ponto de vista das macrorregiões seja entre os estados ou municípios. De certa forma, a dimensão territorial do Brasil e suas desigualdades regionais sociais e de renda estimulam a população a mudar sua residência do campo para as áreas urbanas, do próprio município ou de estados. O certo é que uma parcela significante da população em algum momento da vida realizou algum tipo de migração (Brito e Carvalho, 2006).

A atenção aos movimentos migratórios internacionais e não diferentemente no Brasil tomou outra dimensão com formulação de modelos e a disponibilização de microdados que permitiram apreender uma série de nuances peculiar a estes movimentos evidenciando algumas regularidades.

Nesse sentido, a retomada das principais formulações teóricas e o surgimento de novas formulações a respeito da migração e seu cotejamento contextualizado norteiam um entendimento das diversas dimensões da migração.

Neste artigo pretende-se explorar a migração da e para a Região Metropolitana do Cariri (RMC) nos períodos de 1995-2000 e 2005-2010, bem como de um fluxo migratório que tem se destacado em períodos recentes notadamente para o Nordeste, que é a migração de retorno. Busca-se contemplar, portanto, a mensuração dos fluxos migratórios e o perfil dos migrantes, não migrantes e dos retornados ao longo das últimas décadas fazendo uso dos microdados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010, portanto, as bases de dados mais atuais para este tipo de estudo com informações municipais.

O artigo está dividido em mais cinco seções, além desta introdução. A seção dois trata das raízes históricas da migração. A terceira seção traz a metodologia. Na quarta e quinta, são apresentados os fluxos migratórios e o perfil do migrante e retornado, respectivamente, e, finalmente, a última seção, comas considerações finais.

AS RAÍZES HISTÓRICAS DA MIGRAÇÃO NO BRASIL E NO NORDESTE

A partir dos anos 1950, quando se acentuaram os desequilíbrios regionais e houve melhoria no sistema nacional de transporte, aumentou de forma expressiva o volume de migrantes: intraestadual; interestadual e intermunicipal, a despeito das distâncias.

Considerando o período entre 1960 e 1990, apenas o êxodo rural foi estimado em 42,6 milhões de pessoas (Carvalho e Garcia, 2002).  Tradicionalmente o Nordeste e o estado de Mi- nas Gerais sempre foram os maiores emissores de migrantes que deixavam a sua terra natal em direção a São Paulo, Rio de Janeiro e às regiões de fronteiras agrícolas.

Parte significativa dos deslocamentos populacionais no Brasil é motivada pela incessante busca de melhores oportunidades de renda, educação, saúde, de melhorias na qualidade de vida seja do ponto de vista individual ou da família.

O crescimento da importância dos estudos e análises dos movimentos migratórios, contudo, deve-se, em parte, às mudanças na população, em particular, à convergência dos níveis de fecundidade e mortalidade, que pouco a pouco, envolve maiores contingentes populacionais ampliando espaços diversos quanto às suas características econômico-sociais. Essas mudanças têm refletido nos decréscimos acentuados das taxas de crescimento populacional. Por outro lado, tornam-se evidentes as disparidades da distribuição populacional no espaço, e suas mudanças, em virtude de fluxos migratórios expressivos e diversificados, no que diz respeito ao perfil dos migrantes, tornando-se crucial na dinâmica demográfica (Pacheco e Patarra, 1997).

O questionamento fundamental nos estudos de migração tem sido o que levam as pessoas a migrarem. Além do tradicional argumento neoclássico de comportamento maximizador de utilidade inter- temporal do migrante, outros argumentos têm sido considerados. Forte suporte teórico e empírico existe para relevância de variáveis como idade, educação, raça, status do emprego, pobreza, histórico familiar e a expectativa da renda, entre outros. De modo geral, as características pessoais condicionam de forma importante a decisão de migrar. Ao lado destas, atributos locacionais, amenidades naturais e sociais pare- cem atuar sobre tal decisão (Justo, 2008).

As diversas dimensões da migração no Brasil observadas ao longo das últimas décadas não permitem caracterizar uma novidade sem precedentes, se com- paradas com movimentos internacionais e internos de períodos passados. Contudo, variam, e muito, as condições históricas, econômicas, culturais e políticas que respaldam a predominância de determinados pa- drões de migração (Justo, 2006).

As desigualdades entre as regiões brasileiras agra- varam-se com o processo de industrialização a partir dos anos 1930, período em que a atividade industrial concentrou-se na região Sudeste, em função do protecionismo concedido à indústria nacional nascente e pelos desequilíbrios cambiais favorecendo a  expansão e modernização da indústria do Sudeste em detrimento da incipiente indústria da periferia, notadamente do Nordeste. Efeitos desta política refletiram, até recentemente, na magnitude dos fluxos migratórios da região Nordeste do Brasil e do estado de Minas Gerais para os demais estados brasileiros. Estes locais foram onde aconteceram os últimos ciclos econômicos brasileiros, acumulando um considerável contingente populacional.

Ressalta-se, também, que as intempéries climáticas, notadamente as secas na década de 1970, do século passado, que atingiram a região Nordeste, parte de Minas Gerais (Norte e Vale do Jequitinhonha) e parte do Espírito Santo impactaram negativamente na economia destas regiões refletindo, possivelmente, nos deslocamentos populacionais destas áreas. Se por um lado a emigração está relacionada com a escassa ou ausência de oportunidades econômicas, sociais e culturais para a população residente das regiões que dão origem aos fluxos migratórios (fatores de expulsão), por outro lado a atração de migrantes reflete aspectos positivos de determinados locais na ótica de quem decide deixar o seu estado de origem em busca de melhores oportunidades (fatores de atração) (Justo e Silveira Neto, 2008).

Os dados dos Censos de 1980, 1991 e 2000, por exemplo, evidenciam transformações consideráveis nos volumes e características dos fluxos migratórios no Brasil quando comparados com dados de décadas anteriores, sugerindo tratar-se de reflexos de transfor- mações ocorridas na dinâmica econômica do mesmo período. O estoque de migrantes cresceu ao longo destas três décadas, mas com taxas decrescentes. Em 1980 o estoque de migrantes interestaduais era de 15 milhões de pessoas e em 2000 era de aproximada- mente 21,5 milhões (Justo e Silveira Neto, 2007a).

Outra informação não menos relevante em relação aos fluxos migratórios nesse período é a mudança no perfil locacional. Ou seja, ao longo dessas três últimas décadas do século passado a migração urbana-urbana passa a ser preponderante em relação à migração rural-urbana. Em outra dimensão da migração também se observam mudanças no perfil do migrante ao longo do tempo bem como as regiões de destino preferidas pelos migrantes.

Acesse a edição nº 22 da Revista e-metropolis e leia o artigo completo.

Última modificação em 05-11-2015 17:21:58