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Quais as origens do conceito de eixo e os fundamentos de seu movimento histórico? Para responder esta pergunta, Matheus Cavalcanti Bartholomeu, pesquisador do Núcleo Rio de Janeiro, desenvolveu a sua tese intitulada “O conceito de eixo enquanto espacialidade social: compreendendo seus sentidos e sua historicidade”.

A pesquisa visa compreender criticamente a história do conceito de eixo como referente a uma espacialidade social, esclarecendo sua gênese e seu devir por meio da investigação das trajetórias de seus principais sentidos e funções. Este conceito, que permite compreender mais precisamente a relação entre espaço e circulação, é cada vez mais pertinente para a geografia e as demais ciências preocupadas com o espaço social.

“Com base nos desenvolvimentos investigativos empreendidos nesta tese, é possível tratar os eixos como os espaços por excelência da circulação. Todavia, aquilo que entendemos por circulação precisa se libertar de concepções reducionistas que a confundem com o transporte material de pessoas ou mercadorias ou de concepções exageradamente amplas que igualam a circulação a qualquer movimento no espaço”, afirma o autor.

Defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Geografia da PUC-Rio, a tese foi orientada por Sandra Lencioni, pesquisadora do Observatório das Metrópoles Núcleo São Paulo e coordenadora da pesquisa A Megarregião Rio de Janeiro-São Paulo, atualmente em desenvolvimento no OM.

Na figura acima, os modelos de fluxos, redes, corredores e eixos segundo as concepções do relatório “Un nuevo impulso a la integración de la infraestructura regional en América del Sur” elaborado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento em 2000. Fonte: BID (2000c, p. 14), traduzido e adaptado pelo autor.

Confira a apresentação dos principais pontos do trabalho:

A que pergunta a sua pesquisa responde?

Quais são a gênese do conceito de eixo e os fundamentos de seu devir histórico e o que esse devir aponta como possibilidades ainda não plenamente realizadas?

Por que isso é relevante?

O conceito de eixo tem uma grande potencialidade teórico-metodológica para a geografia e as demais ciências que trabalham com a dimensão social do espaço, especialmente na perspectiva urbana e regional. Este conceito permite compreender de maneira mais precisa a relação entre espaço e circulação, o que é muito significativo num mundo em que os fluxos têm maior volume e cada vez mais importância.

 

Qual o resumo da pesquisa?

O objetivo foi compreender criticamente a história do conceito de eixo como referente a uma espacialidade social, esclarecendo sua gênese e seu devir por meio da investigação das trajetórias de seus principais sentidos e funções. Para isso, adotou-se um cruzamento entre os métodos da história conceitual desenvolvida por Koselleck (2012) e uma abordagem baseada no método regressivo-progressivo de Marx, elucidado por Lefebvre (1953) e Sartre (1974). Com base nesse cruzamento, a pesquisa começou por uma reconstituição dos usos e significações recentes de eixo amparada na ideia de que os conceitos podem apresentar sentidos analíticos, sentidos normativos e sentidos da prática. Primeiro, observamos a instrumentalização do conceito pelo planejamento territorial e, em seguida, examinamos a influência do conceito normativo de eixo no âmbito científico e no senso comum. Após essa reconstituição, procedemos regressivamente com uma análise, até encontrar as condições objetivas que possibilitaram a gênese do conceito. Finalmente, retornamos progressivamente ao presente, iluminando-o com base na compreensão mais ampla do devir conceitual de eixo ocasionada pelo conjunto das investigações.

Quais foram as conclusões?

O conceito de eixo, em seu sentido de espacialidade social ― o qual não deve ser desvinculado do conceito de corredor ―, encontra gênese na década de 1960 como conceito analítico voltado para compreender determinadas expressões espaciais do desenvolvimento econômico, tendo Pottier (1963) e Whebell (1969) como principais teóricos (de eixo e de corredor, respectivamente). Seu devir, porém, é marcado por sua significativa instrumentalização pelo planejamento territorial ancorado nos imperativos da neoliberalização e da fluidez, notadamente a partir dos anos 1990, alterando significativamente os sentidos originais. A difusão dos sentidos normativos desde então tem influência predominante sobre as definições científicas e do senso comum, que costumam reproduzi-los ora crítica ora acriticamente, embora esforços recentes no campo analítico tenham procurado ressignificar o conceito de eixo, dando-lhe maior embasamento teórico, algo que a recuperação das formulações originais pode ajudar.

Quem deveria conhecer seus resultados?

Pesquisadores da Geografia e de outras ciências sociais que se debrucem sobre a relação entre espaço e circulação e utilizem ou tenham contato com o conceito de eixo em suas investigações, especialmente para que possam se situar melhor no debate teórico e evitar possíveis reificações; planejadores e gestores comprometidos com uma postura social e econômica crítica que queiram se desviar das armadilhas neoliberais em que o planejamento baseado na constituição de eixos pode eventualmente cair.

Confira o trabalho completo, CLIQUE AQUI.