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Parada Gay Ceará (imagem ilustrativa)Parada Gay Ceará (imagem ilustrativa)

O Observatório das Metrópoles promove o lançamento da Revista e-metropolis nº 30 — uma edição comemorativa dos mais de sete anos da publicação que vem se consolidando como um espaço relevante de debate entre os pesquisadores de estudos urbanos e regionais. A e-metropolis vem evoluindo no seu formato, oferecendo além de artigos, ensaios fotográficos, resenhas e entrevistas, sempre buscando dialogar com a atualidade do debate sobre as cidades. Nesta edição, o destaque é o artigo “Transtopias: sexopolíticas dos espaços e dos corpos em Fortaleza”, pelo qual as pesquisadoras Elias Veras e Juliana Coelho procuram dar visibilidade às experiências trans e suas formas de ocupar o centro da capital do Ceará. Diante de um contexto de aumento da intolerância no Brasil, a Revista e-metropolis propõe a reflexão sobre a diversidade e a diferença no corpo da cidade, entendendo que a causa LGBT é um dos fronts de resistência e luta.

Segundo Elias Veras e Juliana Coelho, o artigo “Transtopias: sexopolíticas dos espaços e dos corpos” toma a capital cearense, Fortaleza, em especial a região do Centro para analisar os novos usos que travestis, transformistas e drag queens fizeram dos seus espaços, a partir da década de 1980 do século XX, para pensar as transtopias na cidade.

“Para tal, elencamos alguns espaços-experiências a partir de nossas pesquisas, como o Edifício Jalcy, localizado na Avenida Duque de Caxias; o carnaval, realizado na mesma avenida até os anos de 1980; o trottoir na Praça do Ferreira e nas ruas que margeiam essa praça; as boates e cinemas pornôs do Centro”, apontam.

Para o estudo, os autores utilizam os conceitos de heterotopia (FOUCAULT, 2013) e sexopolítica (PRECIADO, 2011), pontos fundamentais para pensar os espaços transtópicos de Fortaleza. Nesse sentido, entendem transtopias como heterotopias singulares e situadas, onde foram estabelecidas novas relações sexopolíticas de resistências às heteronormas de gênero e sexualidade (BUTLER, 2003) e de controle da urbes, mas também de criação de novos espaços e subjetividades, que revelam uma cidade em constantes e conflituosos processos de transformação.

Acesse o artigo completo na edição nº 30 da Revista e-metropolis.

 

REVISTA E-METROPOLIS 30

A Revista Eletrônica de Estudos Urbanos e Regionais e-metropolis chega a seu trigésimo número. Publicada desde 2011 por iniciativa do Observatório das Metrópoles, é um periódico consolidado no campo dos estudos urbanos e regionais.

Nesses 30 números foram publicados 129 artigos, 25 entrevistas, 22 textos de seções especiais, 29 ensaios fotográficos e 26 resenhas de livros e filmes. Ao longo dos seus 6 anos de existência, a revista recebeu mais de 240 artigos.

Nesse tempo, os acessos à página da revista somam mais 250 mil. Apenas em 2017, até o mês de outubro, foram mais de 72 mil. Esses dados evidenciam a importância da revista como veículo estratégico para a difusão científica realizada pelo INCT Observatório das Metrópoles.

INTRODUÇÃO

Por Elias Veras e Juliana Coelho

Cada cidade é múltipla em seus macros e microcosmos de regras, instituições, insurgências, privilégios e demais hierarquias que pretendem organizá-la de acordo com projetos políticos do que deve ser uma cidade “ordenada”. Entre os disciplinamentos, estão aqueles relacionados aos corpos, que devem saber se portar em espaços reservados ao pú blico e ao privado. Em outras palavras, as sexualidades, gêneros, desejos e os locais reservados a eles também fazem parte desse planejamento. A busca por esse ordenamento oficial (planos urbanísticos, políticas públicas, visibilização e invisibilização de sujeitos e espaços), contudo, não se dá sem resistências.

Aqui, tomamos a capital cearense, Fortaleza, especificamente a região do Centro e os novos usos que travestis, transformistas e drag queens fizeram dos seus espaços, a partir da década de 1980 do século XX, como lugar de nossas reflexões. Historicamente, essa parte da cidade tem sido palco de variadas experiências trans. Não temos a pretensão de abarcar todas elas (e nem pretendemos) e, desse modo, elencamos algumas espaço- temporalidades a partir de nossas pesquisas (COELHO, 2012; VERAS, 2017). Logo, avenidas, prédios, apartamentos, praças, boates, concursos e cinemas pornôs serão os principais espaços a serem discutidos.

Teoricamente, partimos de dois conceitos: heterotopia (FOUCAULT, 2013) e sexopolítica (PRECIADO, 2011). No entanto, esses conceitos serão entendidos como saberes localizados (HARAWAY, 1995), ou seja, como produções que só fazem sentido quando levamos em consideração as condições geopolíticas de sua produção. Em outras palavras, partimos das singularidades do contexto nordestino e fortalezense para dialogar com as potencialidades desses conceitos.

Michel Foucault (2013) definiu as heterotopias como “espaços diferentes”, que produzem brechas nas formas tradicionais de espacialização. Os jardins, os cemitérios, os asilos, as casas de tolerância, os museus, as bibliotecas, os teatros, as feiras, as prisões, as colônias de férias são tomados por Foucault como exemplos de contraespaços instauradores de novas apropriações (espaciais) e invenções (subjetividades). Toda sociedade possui esses “espaços outros” (históricos, inconstantes, variados, inventados, reconstruídos e reorganizados), sendo esse o fundamento primeiro da ciência heterotopologia, proposta por Foucault.

Com lembra Daniel Defert, as heterotopias ritualizam cortes, limiares, desvios e os localizam, sendo marcadas por descontinuidades e rupturas. Os espaços heterotópicos não

[…] refletem a estrutura social nem a da produção, não são um sistema só cio-histórico nem uma ideologia, mas rupturas da vida ordinária, imaginário, representações polifônicas da vida, da morte, do amor, de Eros e Tánatos (DEFERT, 2013, p. 38).

Pensar as heterotopias como contraespaços que contestam o ordenamento cotidiano das cidades e das experiências que têm lugar nestas também é interpelar as tecnologias de normalização dos espaços e dos corpos. Nesse sentido, pensamos os espaços heterotó picos atravessados pela sexopolítica (PRECIADO, 2011), suas tentativas de controle dos corpos, de gestão da circulação, mas também as resistências, pois os corpos não são meros receptáculos de discursos, mas potências políticas e lugares de criação.

As tentativas de normalização sexopolítica estão nas ocupações de seus diferentes espaços, nas permissões e proibições, entradas e saídas, nas arquiteturas de prédios, praç as, hospitais, escolas, nos territórios afetivos e moventes dos habitantes que atualizam a cidade. Ao mesmo tempo, a apropriação política dessas tecnologias normalizadoras para contestá-las também pode ser lida como aberturas de novos espaços de resistências na cidade.

Assim, falaremos de transtopias, ou seja, dos espaços e corpos trans, suas tentativas de controle e resistências a partir das experiências na cidade de Fortaleza. Transtopias, como heterotopias singulares e situadas, nas quais podem ser estabelecidas novas relações entre sujeitos e cidade: de resistências às heteronormas de gênero e sexualidade e de controle da urbes, mas também de criação de espaços e subjetividades trans.

As festas organizadas por bichas e travestis nos apartamentos do Edifício Jalcy, localizado na Avenida Duque de Caxias; o carnaval, realizado na mesma avenida até os anos de 1980; os concursos de beleza (gay, transformista, travesti), que aconteciam nos palcos do Theatro José de Alencar e nas boates Casablanca e Feitiço; o trottoir na Praça do Ferreira (palco político e cultural de importantes acontecimentos da história do Ceará), e nas ruas que margeiam essa praça; e ainda, os bares, pensões e cinemas pornôs, espaços do centro de Fortaleza, são pensados como transtopias, que, por determinados períodos do dia e do ano, possibilitaram outros modos de vida na cidade.

Acesse o artigo completo no site da Revista e-metropolis.

REVISTA E-METROPOLIS

Vinculada à rede interinstitucional do Observatório das Metrópoles (UFRJ), a revista eletrônica de estudos urbanos e regionais e-metropolis é editada por uma equipe de professores e pesquisadores e tem por objetivo principal suscitar o debate e incentivar a divulgação de trabalhos filiados ao planejamento urbano e regional e áreas afins. A e-metropolis busca, portanto, se constituir como um meio ágil de acesso democrático ao conhecimento, que parte do ambiente acadêmico e almeja ir além deste, dirigindo-se a todas as pessoas que se interessam pela dinâmica da vida urbana contemporânea em seu caráter multidisciplinar.

Publicadas trimestralmente, as edições da e-metropolis mantêm, em geral, uma estrutura que se compõe em duas partes. Na primeira parte da revista encontram-se os artigos estrito senso, que iniciam com um artigo de capa, no qual um especialista convidado aborda um tema relativo ao planejamento urbano e regional e suas interfaces, seguido dos artigos submetidos ao corpo editorial da revista e aprovados por pareceristas, conforme o formato blind-review. A segunda parte é composta por uma entrevista, por resenhas de obras recém-lançadas (livros e filmes), pela seção especial – que traz a ideia de um texto mais livre e ensaístico sobre temas que tangenciem as questões urbanas – e, finalmente, pelo ensaio fotográfico, que faz pensar sobre as questões do presente da cidade por meio de imagens fotográficas.

Para submissão de trabalhos, o corpo editorial recebe artigos, ensaios fotográficos, resenhas e textos para a seção especial em fluxo contínuo, assim como sugestões e críticas no link.

Publicado em Artigos Científicos | Última modificação em 26-10-2017 12:00:26