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Está disponível o número 48 da Revista Eletrônica de Estudos Urbanos e Regionais e-metropolis, que conta mais uma vez com a colaboração de Jamie Peck, um dos mais influentes geógrafos da atualidade, professor e pesquisador da Universidade de British Columbia (Canadá). Além do artigo de Peck, o novo número da revista traz mais quatro artigos científicos, uma seção especial e um ensaio fotográfico. As reflexões apresentadas abordam os temas do desenvolvimento desigual, coalizões de poder, políticas habitacionais e participação social. Confira!

A ilustração de capa é de Renato Mãozão, arquiteto e urbanista.

No artigo que abre a edição, intitulado “Desenvolvimento Regional Desigual”, Peck resgata elementos importantes para a reflexão sobre a produção do desenvolvimento desigual como um traço fundamental para o desenvolvimento capitalista, chamando a atenção para o caráter político-econômico e para as formas disruptivas e desconcertantes que essa noção pode assumir. O conceito se refere não apenas à desigualdade geográfica, mas também à interdependência mútua do crescimento e declínio localizados, relações de exploração entre regiões centrais e periféricas, posições conjunturalmente específicas nas divisões espaciais do trabalho e modos de des/conexão a cadeias globais de valor qualitativamente diferenciadas.

Na sequência, o artigo “Coalizões de poder na revitalização do Centro de Belo Horizonte: um estudo de caso”, de Renata Salles, que discorre sobre a emergência de modelos urbanos privatistas nas metrópoles brasileiras desde os anos 1990, baseados na inflexão neoliberal do capitalismo global. Partindo da observação do processo de revitalização do Centro da cidade, sob a ótica do empreendimento do Cine Brasil, antigo cinema de rua fechado em 1999 e reativado em 2013, a pesquisa mapeou as ações dos atores envolvidos no caso, e constatou que a conformação de uma coalizão de poder pró-crescimento econômico tornou viável a reabertura do edifício histórico. Uma das conclusões é que articulações como essa corroboram com a gestão privada de instituições culturais, cujo patrimônio renovado é utilizado para gerar uma nova oferta cultural voltada, predominantemente, para a classe média, podendo instaurar condições para o surgimento de novas formas de desenvolvimento desigual, a longo prazo.

As políticas habitacionais em favelas no município de São Paulo é o tema do artigo de Leticia Casagrande Dupont. O texto tem como objeto as ações desenvolvidas no Município de São Paulo, e busca compreender como o tema se consolida na agenda de políticas públicas, destacando seus avanços e as limitações na garantia de melhores condições de vida dos moradores. Segundo o artigo, ao passo que há efeitos positivos dessas políticas, permanecem impasses e limitações. Dessa forma, se por um lado houve a institucionalização das ações de urbanização de favelas, por outro as alternâncias de postura das gestões municipais fizeram com que, nas últimas décadas, o Município encarasse o problema da precariedade em favelas de maneiras distintas, conclui a autora.

Abordando o mesmo tema, Taísa Sanches analisa “A política habitacional inglesa em crise: do Estado de Bem-estar Social ao Urbanismo de Austeridade”. Partindo do histórico das políticas para esse setor na Inglaterra, é desenhado um panorama da atualidade, marcada por processos de gentrificação e investimentos de excedente de capital no desenho urbano. Entre outros achados, a autora encontra que os casos analisados se assemelham aos ocorridos no Brasil, constituindo-se como referências na comparação entre políticas públicas e processos de inflexão que produzem formas de urbanismos marcadas pela austeridade.

No artigo “A participação social na gestão metropolitana: a experiência da Região Metropolitana da Grande Vitória/ES à luz do Estatuto da Metrópole”, Brunno Silva e Maria do Livramento Clementino analisam a participação dos atores sociais no processo de elaboração do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado dessa região. Através de uma pesquisa bibliográfica e documental, e da realização de entrevistas com os atores locais da região que estiveram presentes no processo de elaboração do plano, os autores concluem que, apesar dos avanços representados em termos da gestão metropolitana, se faz necessário fortalecer as instâncias participativas e ampliar os canais de participação.

Na Seção Especial deste número, “A gentrificação verde em Barcelona: esverdeamento urbano e perpetuação de desigualdades”, Luiza Fernandes Tamas discute a gentrificação verde na capital da Catalunha. Utilizando fotos como recurso metodológico, o texto buscar contribuir para uma agenda de pesquisa em torno desse tema e, especificamente, sobre como se formam as narrativas que envolvem o imaginário do esverdeamento urbano e sobre como observar os processos desiguais desencadeados por políticas ambientais nas cidades, que acabam por reforçar desigualdades e perpetuar privilégios.

Maneiras de captar as formas de vida em grandes metrópoles sempre será um desafio. No ensaio fotográfico deste número “A estação Peñón Viejo e as trajetórias que desenham a Cidade do México”, Gabriela Pecantet Siqueira, a partir de fragmentos de sua própria trajetória cotidiana, busca capturar um pouco das dinâmicas que envolvem a circulação na Cidade do México através da observação do metrô. A espera, a chegada e a partida são momentos das trajetórias que desenham a vida na metrópole.

Estación Peñon Viejo. Por Gabriela Pecantet Siqueira.

Publicada trimestralmente pelo Observatório das Metrópoles, a e-metropolis tem por objetivo suscitar o debate e incentivar a importância da difusão e divulgação científica do campo dos estudos urbanos e regionais. As edições mantêm uma estrutura composta por duas partes. Na primeira, encontram-se os artigos estrito senso, que iniciam com um artigo de capa, no qual um especialista convidado aborda um tema relativo ao planejamento urbano e regional e suas interfaces, seguido dos artigos submetidos ao corpo editorial da revista e aprovados por pareceristas, conforme o formato blind-review.

Já a segunda parte é composta, em geral, por entrevistas, resenhas de obras recém-lançadas (livros e filmes), seção especial – que traz a ideia de um texto mais livre e ensaístico sobre temas que tangenciem as questões urbanas – e, finalmente, ensaio fotográfico, que faz pensar sobre as questões do presente da cidade por meio de imagens fotográficas.