Skip to main content

A equipe do Núcleo Rio de Janeiro do INCT Observatório das Metrópoles e a Editora Letra Capital promoveram, no dia 27 de outubro, o lançamento do livro Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana. O evento contou com a apresentação dos professores Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro e Luciana Correa do Lago (IPPUR/UFRJ), e da profª convidada Maria Alice Rezende de Carvalho (PUC Rio).  A publicação analisa as mudanças urbanas nos últimos 30 anos na metrópole fluminense com o objetivo de subsidiar o debate sobre o presente e o futuro do Rio metropolitano.

O lançamento do livro Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana aconteceu, na última terça-feira (27 de outubro), no Centro Cultural da Justiça Federal, no Centro do Rio. O evento reuniu os autores do livro; a equipe técnica da sede nacional do INCT Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ); parceiros institucionais como o InEAC/UFF, representado pelo Profº Roberto Kant de Lima; PROURB/UFRJ, representado pelas profªs Ana Lúcia Britto e Luciana Andrade; organizações da sociedade civil também parceiras do Observatório – como Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, representado por Demian Castro; e o Coletivo Casa Fluminense, representado por Henrique Silveira e Vitor Mihesse.

Dos autores do livro, estiveram presentes Ana Lúcia Britto, Hipólita Siqueira, Igor Matela, Juciano Rodrigues, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, Luciana Corrêa do Lago, Michael Chetry, Marcelo Gomes Ribeiro, Mariane C. Koslinski, Orlando Alves dos Santos Jr., Ricardo Dantas de Oliveira, Rosa Ribeiro.

Para o coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, o livro sobre o Rio de Janeiro é o último lançamento da Coleção “Metrópoles: território, coesão social e governança democrática”, que representa talvez o maior resultado da Rede Nacional Observatório das Metrópoles dentro do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT/CNPq/MCT&I)e dos 20 anos de acúmulo de experiência e conhecimento na investigação da temática metropolitana. “Além disso, a coleção representa o esforço do Observatório em desenvolver pesquisa em rede cooperativa, colaborativa e comparativa de longa duração”

Já o livro Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana oferece a análise mais completa sobre as mudanças urbanas ocorridas na metrópole fluminense, no período que vai de 1980 a 2010, a partir de temas como estrutura produtiva, transição demográfica, organização social do território, mobilidade urbana, moradia, saneamento básico, governança urbana, entre outros.

Para a professora Luciana Corrêa do Lago, o livro sobre o Rio de Janeiro é bem representativo da trajetória de quase 20 anos da formação da Rede de Pesquisa Observatório das Metrópoles, do seu acúmulo de experiência e conhecimento analítico sobre a metrópole. “A minha fala sobre essa publicação é afetiva, porque traz a memória de mais de 20 anos quando começamos no IPPUR um percurso para analisar a cidade com ‘C’ maiúsculo, o nosso interesse por entender as dinâmicas nos territórios metropolitanos. Naquela época tínhamos muitas perguntas, mas não havia um método de análise. Fomos aprendendo na prática, numa construção teórica primeiro nuclear no Rio de Janeiro, depois em rede. Acredito que os resultados do livro Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana apresenta de forma completa a metodologia, o método criado pelo Observatório para a análise dos territórios metropolitanos”, afirmou a professora durante sua apresentação.

Luciana Lago ainda elogiou a capacidade de liderança do coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles, Luiz Cesar Ribeiro: “Ele é o nosso grande professor e também uma liderança da Rede, capaz de aglutinar, fazer dialogar e mediar laboratórios, núcleos de pesquisa com interesses os mais diversos, todos trabalhando em conjunto, a partir de uma mesma base metodológica. Nesse sentido, a coleção ‘Metrópoles: transformações na ordem urbana’ é resultado do trabalho da rede nacional, e também da liderança do Luiz Cesar”.

Para a cientista política e professora da PUC Rio, Maria Alice Rezende de Carvalho, o livro Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana mostra que há um modo de produção da cidade específico na periferia do capitalismo. “Nesse sentido o Observatório aponta um modo de produção do urbano nas metrópoles periféricas, com suas especificidades e dinâmicas. Portanto, é uma contribuição relevante para os estudos das Ciências Sociais aplicadas e para área da Sociologia Urbano e Estudos Urbanos”, afirma e completa:

“Além disso, vemos que o século XXI será das Cidades e dos Movimentos Urbanos, da luta pelo direito à cidade e tudo a ela relacionado. Na periferia onde nós estamos a cidade humilha, desrespeita e brutaliza cotidianamente a população trabalhadora, nos serviços de mobilidade, nas condições de moradia, na segurança, nos serviços públicos. Portanto, essa população não irá suportar essas condições e irá se lutar por seus direitos. Diante desse contexto, o livro sobre o Rio de Janeiro é uma análise do passado e do presente da metrópole fluminense, e também um mapa para olhar para o futuro e replanejar novas políticas para transformação desse território em um espaço democrático e de justiça social”.

RIO DE JANEIRO: TRANSFORMAÇÕES NA ORDEM URBANA

Quais as marcas da dinâmica de formação e organização da metrópole do Rio de Janeiro? Quais as forças de poder político e econômico que foram responsáveis por conformar esse território? E qual o papel do poder econômico e político para a manutenção de um território urbano partido e segregado?

O livro Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana oferece uma interpretação sobre a dinâmica socioterritorial da metrópole do Rio de Janeiro a partir de um padrão de segregação residencial complexo a partir de duas escalas: na microescala, com a proximidade territorial e a distância social entre as classes sociais, evidenciadas pela presença das favelas nas áreas de concentração do poder econômico e político e, na macroescala, com a concentração das camadas populares nas sucessivas periferias formadas a partir do núcleo da cidade do Rio de Janeiro.

Esse padrão de segregação está presente há muitas décadas na dinâmica da metrópole fluminense, e é gerador de desigualdades urbanas. De um lado, áreas com elevada concentração dos grupos que ocupam as posições mais elevadas da estrutura social constituem também um poder econômico e político que tende a influenciar a seu favor as decisões públicas em matéria de alocação de investimentos, se apropriando da maior parcela dos benefícios decorrentes, em termos de bem-estar urbano e oportunidades sociais. Ao mesmo tempo, esses grupos tendem também a ser beneficiados em termos de riqueza patrimonial, uma vez que a alocação seletiva dos investimentos urbanos produz impactos diferenciais na valorização da moradia e do solo urbano.

“O resultado dessa disputa é a elevação do preço da moradia e da terra nas áreas segregadas e privilegiadas pelos investimentos urbanos, o que leva ao deslocamento desses espaços dos grupos sociais que ocupam posições inferiores da estrutura social e que, portanto, desfrutam de menor poder econômico e político, acentuando e reproduzindo a segregação”, explica Luiz Cesar Ribeiro e completa:

“A equipe do Observatório das Metrópoles tomou esse padrão de segregação residencial já verificados em estudos da década de 1970 para analisar as transformações urbanas da metrópole do Rio de Janeiro. A pergunta é se esse padrão de organização social do território havia se modificado, se ocorreram inflexões ou mudanças de rumo nessa forma de organização, analisando ainda a relação do Rio de Janeiro com os momentos históricos do Brasil e do mundo”, aponta Ribeiro.

A conclusão  do livro é que, apesar das transformações econômicas, sociais e políticas ocorridas no período 1980-2010, verifica-se a manutenção desse processo de segregação residencial.

“Fecha-se então o círculo da desigualdade: a segregação do poder econômico, social e político se transformando em poder de segregação expresso na capacidade das classes proprietárias em ordenar a seu favor a ocupação e o uso do solo urbano, isto é, tornar seletiva a apropriação do território e dos recursos nele inscritos – bem-estar, renda, riqueza, oportunidade e poder”, explica Luiz Cesar Ribeiro.

“Em consequência, os padrões de organização do território expressos nas duas gramáticas de segregação – distância social/proximidade territorial, distância social/distância territorial –, resultam não da ausência de desenvolvimento, mas da reprodução das relações de poder social, econômico e político que sustentam a ordem urbana no Rio de Janeiro”.

O livro Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana demonstra –  a partir da análise de temas como moradia e mercado imobiliário, estrutura produtiva, demografia, mobilidade urbana, bem-estar urbano, governança, saneamento básico – que esse padrão de segregação residencial na metrópole fluminense continua vigente e reproduz a desigualdade historicamente presente em seu território.