Por Viviane Luise de Jesus Almeida¹
Aracaju é uma cidade conhecida por seus rios e mangues, que por um lado são palco da biodiversidade, e por outro, das desigualdades raciais presentes de uma ponta à outra desse “pé de bailarina”.
Com mais de 90 Favelas e Comunidades Urbanas (FCU) que abrigam cerca de 100 mil moradores, grande parte dessas áreas estão situadas próximas a esses ambientes naturais, refletindo uma histórica segregação urbana e racial. Segundo dados do IBGE de 2022, essas comunidades são predominantemente negras, com pretos e pardos representando em média 80% dos moradores.
Em 2023, a Defesa Civil de Aracaju realizou um mapeamento das regiões mais suscetíveis a deslizamentos, alagamentos e inundações, que se concentravam principalmente na zona norte e no bairro Santa Maria, ao sul. Essas áreas, marcadas por assentamentos precários e altos índices de vulnerabilidade social, são majoritariamente ocupadas por comunidades negras, evidenciando uma relação direta entre vulnerabilidade socioambiental e racismo ambiental.

Foto: Ascom/Emurb (Prefeitura de Aracaju).
São nas áreas mais arriscadas que o percentual de população negra está acima da média das favelas na cidade, chegando a 90%.
O antigo Observatório Social de Aracaju destacou que bairros como Porto D’Antas, Japãozinho e Santa Maria, que estão entre os mais negros na cidade, concentram uma elevada quantidade de famílias vivendo em condições precárias. Essas comunidades enfrentam altos índices de analfabetismo e baixa escolaridade, fatores que dificultam o acesso ao mercado de trabalho formal e perpetuam a lógica racista de exclusão social.
Não é à toa que a história da urbanização de Aracaju foi marcada por processos de segregação espacial que reforçaram as desigualdades raciais, evidenciando a exclusão social de comunidades negras na formação da cidade. As políticas públicas e a ausência de planejamento adequado, isto é, planejamento antirracista, contribuíram para a marginalização da negritude, dificultando o acesso a serviços básicos e à moradia digna.
Mas do outro lado, na cidade dos rios e dos mangues, que encanta os mais ricos e brancos com belas vistas, fácil acesso à praia e aos parques, áreas centrais, com padrões de branquitude muito bem definidos, (não vê) esquece-se que a negritude muitas vezes, alcança somente a portaria, zeladoria e a limpeza das ruas.
Então antes de falar de periferia, é preciso falar de negritude, pois é quem ali habita. Antes de falar em direito à cidade, é preciso falar em direito à vida das populações negras, que cotidianamente são linchadas por sua cor e lugar onde moram.
Aracaju, pelo menos neste dia da consciência negra, lembra quem construiu essa cidade, lembra da sua periferia, lembra que ela tem cor e tem vida!
¹ Arquiteta e urbanista pela UFS, mestranda pela USP, pesquisadora do INCT Observatório das Metrópoles Núcleo Aracaju, e integrante da secretaria nacional da rede BrCidades.














