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Juliano Pamplona Ximenes Ponte
José Júlio Ferreira Lima
Ana Cláudia Duarte Cardoso
Raul da Silva Ventura Neto
Monique Bentes Machado Sardo Leão
Louise Barbalho Pontes
Roberta Menezes Rodrigues

Membros do Núcleo Belém, INCT Observatório das Metrópoles

A 30ª Conferência das Partes sobre a Mudança do Clima (COP) ocorrerá em Belém do Pará no mês de novembro de 2025. Serão reunidas diferentes nações do mundo, seus representantes, movimentos sociais, empresas, acadêmicos, estudantes, povos tradicionais, lobistas e outras manifestações com diferentes graus de interesse e de legitimidade no evento, que deve durar especificamente entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. A etapa pré-COP30 já ocorre desde o dia 13 de outubro de 2025 em Brasília-DF, envolvendo esferas ministeriais e correlatas em torno da pauta da política ambiental e da mudança climática.

A discussão da COP30 é urgente, com efeitos econômicos, ambientais, culturais e sociais dos impactos do capitalismo industrial e financeirizado sobre o planeta. Contraditoriamente, muitos dos países mais ricos e poderosos do mundo não têm a mesma urgência, principalmente no caso dos Estados Unidos da América, cuja licenciosidade da política ambiental doméstica é notória, bem como é notória sua ausência de pactos globais em torno do tema. A justificativa da maior potência econômica e militar do mundo seria a sua impossibilidade de paralisar seu complexo industrial-militar, depreciar o valor de sua moeda de troca e fiduciária internacional e conter sua influência econômica disseminada pelo mundo. São justificativas que impõem aos demais países, principalmente aqueles da periferia do capitalismo, perdas de produtividade, ciclos de doenças em caráter epidêmico, aprofundamento da reprimarização de suas economias e a reinvenção dos mecanismos de dependência econômica da potência hegemônica norte-americana.

A decadência do Império, não apenas o desejo dos setores politicamente à esquerda e dos países em torno do bloco econômico dos BRICS, já se mostra evidente. A Era Trump exibe mais explicitamente o que os anos Biden mostravam; uma dificuldade de sustentar centenas de bases militares espalhadas pelo globo, com demandas por emprego doméstico, fracassos do projeto de reindustrialização nacional e o dilema da desvalorização do dólar para exportar diante dos desafios da economia do petróleo, ainda pujante e incômoda tanto para a questão ambiental quanto pela permanente diretriz de ocupação e apropriação dos recursos naturais de países estrangeiros, a exemplo do que os EUA fizeram com a partilha do Pré-Sal brasileiro, a partir de 2013. O que Alain Lipietz, em Miragens e Milagres nos anos 1980, apelidava de moeda de crédito internacional já mostrava sua dimensão fictícia, mas não menos concreta, opressora e radical, submetendo outras populações, economias e Bancos Centrais mundo afora.

Foto: Fernando Frazão (Agência Brasil).

Os EUA emitiram, no ano de 2022, 5,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, segundo dados do Inventário das Emissões de Gases de Efeito Estufa da Agência Federal de Proteção Ambiental, já descontada a parte da captura de carbono dessas emissões (cerca de 0,8 bilhões de toneladas). Como os EUA têm uma matriz energética muito poluente e baseada em combustíveis fósseis, como óleo e carvão, 25% destas emissões se referem à geração de energia, enquanto 28% são devidos à matriz logística e de transportes do país. Sua indústria representa 23% destas emissões anuais, enquanto usos comerciais e residenciais respondem por cerca de 13% e, por fim, sua agricultura contribui com 10% do total. Os EUA reduziram suas emissões em 3% desde o ano de 1990, embora tenham representado redução de 17% se comparadas ao pico histórico do ano de 2005 até a crise econômica de 2008. Em 2022, entretanto, registrou uma elevação de 1% na emissão de gases de efeito estufa e equivalentes no país, apesar de todas as indicações internacionais e pactos de que os EUA deveriam ser signatários.

A China emitiu em 2022 o equivalente a 11,9 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, o que representa 30% das emissões globais, já descontando seus estoques de carbono capturados por florestas e similares, em dados do Banco Mundial e da plataforma de monitoramento econômico e ambiental World Resources Institute (WRI). A China reduziu emissões em 1,6% entre 2022 e 2023 e projeta redução entre 7% e 10% até o ano de 2035, estimando atingir o estado de emissões liquidas zero em 2060. Cerca de 50% das emissões chinesas em 2022 decorreram da geração de energia, segundo o WRI, enquanto outras fontes estimam essa contribuição em 90%. Em segundo lugar, estariam os setores industrial e de transportes. A China tem investido em matriz energética para a logística de transportes baseados em veículos elétricos, trens de alta velocidade e implantação de parques de energia solar e eólica, contudo. Nas metas mundiais do sistema ONU concebe-se que, se a China adotasse a mesma postura dos EUA, o colapso climático da Terra seria iminente, e a elevação de temperatura de 2º C ou mais seria inevitável.

Embora o dióxido de carbono (CO2) não seja o único agente do chamado efeito estufa, representa 75% destes danos. As emissões per capita dos EUA são as maiores, cerca de duas vezes as da China e em torno de 8 vezes maiores do que as da Índia, o terceiro maior emissor de gases e equivalentes do efeito estufa no mundo, com 2,8 bilhões de toneladas/ano em 2022.

O evento COP30

A Conferência terá alterações. De acordo com a percepção das Organizações das Nações Unidas (ONU), o histórico das COP tem sido de diagnósticos precisos, de diplomacia costurando pactos razoáveis e de solene ignorância por parte de países ricos como os EUA nas metas concretas de mitigação e combate às mudanças do clima.

As mudanças do clima são descobertas científicas que remontam ao século XIX, como contam relatórios da Agência Britânica de Pesquisa e Inovação (UKRI). Centralmente estão posicionados problemas como o aquecimento dos oceanos e a alteração da composição da atmosfera terrestre com o aumento de carbono, fator que teve acréscimo de 150% entre as décadas de 1850 e 2000.

Para a trigésima edição são esperados pelo menos 190 dos 198 países signatários, embora até a semana de 13 de outubro de 2025 houvesse 162 países e delegações confirmados, de acordo com a presidência do evento. O Protocolo de Quioto (de 1997, sobre redução das emissões) e o Acordo de Paris (de 2015, já especificamente sobre ações de combate e mitigação da mudança climática) estão em debate quanto às chamadas metas globais de adaptação.

A COP30 envolve zonas: a zona azul, governamental, de decisões de Estado, e a zona verde, de abordagem empresarial, governança social e ambiental. Assessorias nas áreas de finanças e financiamento climático (Círculo de Ministros de Finanças), povos tradicionais e originários (Círculo dos Povos), cobrança sobre a concretude e os compromissos passados (Balanço Ético Global) e os legados das COPs (Círculo de Presidentes) acontecerão, secundadas pelos dados e análises do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Uma zona livre será instalada no centro da cidade de Belém para programação cultural e manifestações políticas acerca dos temas do evento. Uma crítica feita ao modelo da COP30 incide justamente sobre a relativa estanqueidade entre salas e credenciais; o acesso às zonas azul e verde será mais controlado do que em edições anteriores, um fator que já teria sido notado na COP29 de Baku, no Azerbaijão, zona petrolífera e polêmica enquanto sede legítima da deliberação sobre a mudança climática internacional.

Belém do Pará na COP30 assinala um investimento inédito de cerca de R$ 7 bilhões carreados pela Itaipu Binacional, bancos públicos e apoio governamental brasileiro. Obras de equipamentos públicos e infraestrutura totalizam 41 intervenções, das quais 37 frontalmente ligadas ao evento, incluindo muitas já elencadas pelo Governo do Estado do Pará e Prefeitura Municipal de Belém, como obras e projetos desejáveis, porém ainda sem financiamento concreto. A COP30 oportunizou a concretização destes projetos, fato que os governantes usam como discurso político sobre o chamado legado do evento; as obras e projetos que, passados os onze dias da Conferência do Clima, ficariam para usufruto da população regional, local e nacional como benefício duradouro. De fato, intervenções como a conclusão, nos próximos meses, do sistema integrado de transporte público metropolitano por ônibus do tipo Bus Rapid Transit (BRT) representam a conclusão de uma demanda reprimida de décadas – neste caso específico, de um projeto inicial de 1991. Equipamentos públicos como o Mercado de São Braz, em que pese sua concepção gerencial de parceria público-privada e perfil elitizado, já estavam na agenda governamental local.

Evidenciam-se contradições típicas do debate ambiental contemporâneo. Obras e projetos da COP30 em Belém e Região Metropolitana, em parte, têm sido responsáveis por extensões relevantes de desmatamento, de relocalização compulsória de populações rurais e urbanas, de deficiência no atendimento ao saneamento básico para a extensa periferia da Região Metropolitana de Belém, e de contradições recorrentes como a criação de corredores turísticos urbanos que ligam o aeroporto ao centro de convenções, ao centro comercial e histórico-cultural e dele de volta à sede do evento e ao aeroporto. Como Jay Coakley e Doralice Lange analisaram, acerca dos chamados megaeventos, o debate sobre o dito legado é sempre um debate do futuro; quais impactos fundiários e demográficos tais obras terão, e como as populações pobres locais poderão ser consideradas beneficiárias destas intervenções? O caráter especulativo do megaevento é sensível no caso polêmico das plataformas de aluguel por temporada e diárias de hotel em Belém, objeto de impasse autêntico vindo de delegações de países estrangeiros – e que levou hotéis a reduzir suas diárias em 35% no mês de agosto de 2025, enquanto os aluguéis plataformizados continuaram inflacionados e especulativos.

Como Ailton Krenak comentou serenamente, já que as COP parecem ter se tornado eventos empresariais, essas contradições são mera lógica de mercado.


Série Especial COP30 | INCT Observatório das Metrópoles

Até a realização da COP30, o INCT Observatório das Metrópoles publicará uma série especial sobre o evento em seu Boletim Semanal, com análises e reflexões produzidas por pesquisadores do Núcleo Belém, sediado na UFPA. Além deste artigo inicial, sobre a COP30 e os projetos em andamento na região metropolitana, a série abordará temas como moradia digna e justiça climática, bioeconomia, populações tradicionais e uso da terra, além de relatos diretos da conferência durante a realização do evento.

Acompanhe as reflexões sobre a “COP da Amazônia” e os desafios da implementação das políticas climáticas globais!