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Está disponível o dossiê “A produção social do espaço no capitalismo de plataforma”, publicado pela Revista Cadernos Metrópole (Qualis/CAPES A1), que busca compreender o capitalismo de plataforma e seus impactos na produção social do espaço urbano e regional.

O dossiê foi organizado por Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador nacional da rede do Observatório das Metrópoles, e Nelson Diniz, pesquisador do Núcleo Rio de Janeiro do Observatório.

Segundo os organizadores, o funcionamento das plataformas digitais, com base em seus respectivos modelos de negócios, não só recoloca, mas, principalmente, inaugura conflitos e problemas relativos à “questão urbana” (e mesmo à “questão regional”).

Basta pensar, a título de ilustração, nos casos que estão em disputa nas duas maiores cidades do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro. Casos relacionados às controvérsias em torno da regulação dos serviços plataformizados de mototáxi e das plataformas de aluguel de curto prazo.

Diante desse contexto, surge uma nova agenda de pesquisa, pautada pelos impactos da plataformização do capitalismo na produção social do espaço. Assim, o dossiê reúne contribuições, teóricas e empíricas, que exploram essa nova e importante fronteira de transformação da vida nas cidades do século XXI. Os artigos propõem um debate profundo e informado acerca dos desafios que o capitalismo de plataforma apresenta para o futuro dos espaços urbanos, metropolitanos e regionais.

A seguir, apresentamos os 13 artigos selecionados no âmbito do dossiê temático e os cinco textos adicionais que completam o número:

Abrindo o dossiê, o artigo “Gig economy, capitalismo de vigilância e as relações de trabalho no Brasil“, de Vanessa Lacerda, Rejane Prevot e Renan Moura, mobiliza o conceito de capitalismo de vigilância (Zuboff, 2019), assim como o debate sobre o advento da chamada gig economy, para problematizar as relações de trabalho no Brasil contemporâneo. Na análise, os autores trazem elementos sobre a evolução do trabalho, mudanças tecnológicas e a discussão da regulamentação aplicável.

No artigo “Índice de Predominância Airbnb: influência da plataforma no mercado brasileiro de aluguéis“, Josiane Nascimento Andrade, Cristina Pereira de Araujo e Claudio Tadeu Cristino propõem uma metodologia estatística para avaliar o impacto do Airbnb no mercado de aluguéis de longa duração, a partir do caso do Rio de Janeiro. O índice proposto considerou variáveis como número de anúncios, tipos de imóveis, dados populacionais, domicílios e área dos bairros.

Em “Aluguel via plataformas digitais em áreas centrais: hibridização entre moradia e hospedagem“, Iana Ludermir Bernardino mostra como áreas centrais tradicionais, convertidas em territórios privilegiados para a promoção imobiliária a partir de políticas públicas estruturantes e de incentivos fiscais, têm recentemente atraído investimentos para a construção de empreendimentos de “unidades compactas”, do tipo estúdio ou de 1 quarto, a serem ofertados para a locação via plataformas digitais.

Já em “Financeirização do espaço urbano e capitalismo de plataforma: produção imobiliária em Porto Alegre-RS“, de Nicole Leal de Almeida, Carolina Rezende Faccin e Heleniza Ávila Campos, os autores analisam a produção imobiliária em Porto Alegre, com foco na tipologia de studios e apartamentos compactos, concebidos principalmente como ativos financeiros voltados à captação de renda. A pesquisa examina como incorporadoras que atuam no mercado local adaptam seus empreendimentos às lógicas de financeirização e especulação.

Na sequência, o artigo de Eugênia Dória Viana Cerqueira, Marden Barbosa de Campos e Dimitri Fazito, intitulado “Belo Horizonte 4.0: Airbnb e a regionalização do espaço vivido“, observa como as avaliações de usuários da Airbnb resultam em processos de regionalização do espaço vivido em Belo Horizonte. Os autores utilizam uma abordagem inovadora que combina extração de dados digitais, análise qualitativa e geoprocessamento.

Já no artigo de Donizete Correa Franco Pires e Jussara Raimundo Fuchs, “Presença e ausência do Estado: a localização do Airbnb em Blumenau-SC“, a reflexão sugere certa mudança nos padrões de investimentos públicos viários, em Blumenau, cidade industrial e turística de porte médio. Segundo os autores, esses investimentos estariam sendo direcionados paras as áreas onde se localizam os imóveis disponibilizados pela referida plataforma.

O artigo “Cruzando fronteiras: uberização e logística na periferia do capitalismo“, de Juliana Cornacchioni e Isadora de Andrade Guerreiro, investiga as implicações urbanas da plataformização do trabalho, a partir da observação direta do cotidiano laboral e da atuação política de entregadores de aplicativo na macrometrópole paulistana. As autoras buscam discutir novas maneiras da informalidade e do trabalho precarizado, que se entrelaçam às dinâmicas urbanas contemporâneas e às novas tecnologias.

Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas.

Em “Comércio eletrônico e urbanização logística na última milha da entrega“, Diogo David de Matos analisa os programas logísticos e mapeia as operações da Amazon e do Mercado Livre na Região Metropolitana de São Paulo. Segundo o autor, a logística de última milha dissolve as fronteiras entre espaços logísticos e núcleos urbanos, consolidando um tecido urbano cada vez mais orientado por imperativos logísticos.

A contribuição de Leandro Ribeiro Duarte e Fabio Tozi, no artigo “Plataformização e exclusão algorítmica: estratégias territoriais do IFood em Belo Horizonte (MG)“, também sugere a centralidade da racionalidade logística. Mas, nesse caso, o Ifood é a plataforma considerada e ilumina-se a questão da “exclusão algorítmica de territórios indesejáveis”, com base no caso do Aglomerado da Serra, na capital mineira.

O texto de Bianca Tavolari e Marcella Puppio, “Regulação de plataformas: distorções no planejamento urbano e zoneamento em São Paulo“, examina o impacto das plataformas de compartilhamento de moradia, como o Airbnb, no planejamento urbano de São Paulo. As autoras argumentam que, mesmo sem dados sistematizados para a capital paulista, é possível indicar evidências na política urbana que tem contribuído para distorções urbanas e habitacionais.

Já no artigo de Gustavo Mattos e Ana Marcela Ardila, “Freios à plataforma: uma análise do embate regulatório do Uber na Colômbia“, o objetivo é estabelecer as contenções políticas geradas na governança de mobilidade urbana a partir da implementação da plataforma Uber em Bogotá, na Colômbia. Os autores mostram que a governança de transporte estabelecida na capital Bogotá, com a regulamentação do transporte público no sistema integrado, cooperou para a escalada do enfrentamento judicial até a proibição das operações da empresa.

Por fim, no artigo “Porto Alegre inteligente: estudo de caso de uma reestruturação urbana neoliberal“, Joana Winckler explora os impactos da agenda das smart cities, o que é feito a partir da análise dos ajustes regulatórios e projetos urbanos que têm influenciado práticas e representações em Porto Alegre.

Destroços da enchente de 2024 e mensagem crítica à “capital da inovação” pela população atingida em Porto Alegre (RS). Fonte: acervo Luciano Braga (2024).

Este número da revista Cadernos Metrópole inclui ainda cinco artigos que contribuem para articular e aprofundar algumas das questões do dossiê temático.

Em “‘São Paulo 1975: crescimento e pobreza’: uma discussão sobre a pobreza“, Paulo Cesar Xavier Pereira e Thaís Oliveira Ponte homenageiam a obra cinquentenária considerada um marco nos estudos urbanos brasileiros. A partir de uma abordagem que considera três dimensões – conceito, fenômeno e processos – o artigo interpreta as percepções sobre a pobreza presentes na obra.

Já em “Pactuações, dissonâncias e protestações: reflexões a partir da área central do Recife“, Norma Lacerda, Antonio Felix Neto e Vitória Rodrigues Lacerda discutem como intervenções em áreas centrais das cidades brasileiras têm sido objeto de consensos, ou seja, de uma certa densidade de adesão dos atores sociais quanto às modificações espaciais.

No artigo “Avaliação de Impactos Territoriais: aplicação de uma proposição metodológica à realidade brasileira“, a pesquisa de Jaqueline Lima Amorim e Ednice de Oliveira Fontes Baitz busca desenvolver uma metodologia de Avaliação de Impacto Territorial para a realidade brasileira, baseada nos modelos do México, Chile e da União Europeia, aplicando-a no Projeto Caminho da Fé em Salvador-BA, para estabelecer os seus impactos territoriais.

Cássia Regina Segnor e Almir Francisco Reis, em “Ocupação urbana e vulnerabilidade socioambiental na sub-bacia do rio Itacorubi, Florianópolis/SC“, procuram relacionar os riscos de movimentos de massa e inundação, as transformações urbanas e a distribuição espacial dos estratos sociais na sub-bacia hidrográfica do rio Itacorubi em Florianópolis/SC. A hipótese é de que tanto os estratos menos favorecidos como as classes médias estão suscetíveis aos riscos geo-hidrológicos presentes na sub-bacia.

Por fim, “Trabalho infantil e a produção de castanha-de-caju em João Câmara/RN“, de Cláudio Roberto de Jesus e Welter Peterson da Silva Oliveira, problematiza o alcance das políticas sociais instituídas ao longo do século XXI no Brasil e a importância do trabalho e território para compreender seus limites e potencialidades, sendo os conceitos de exclusão e inclusão também discutidos criticamente.

Revista Cadernos Metrópole surgiu em 1999 como um dos principais produtos do INCT Observatório das Metrópoles e tem como principal objetivo difundir os resultados da análise comparativa entre as metrópoles brasileiras. Na última avaliação Qualis Periódicos (2017-2020) da CAPES, recebeu classificação A1. A revista é produzida em parceria com a EDUC (Editora da PUC-SP). Conheça a história do nosso periódico nesse post da Scielo (clique aqui).