Durante quatro dias, cerca de 100 integrantes dos 21 Núcleos Regionais do INCT Observatório das Metrópoles estiveram reunidos no Seminário Nacional da rede. O evento ocorreu no Rio de Janeiro, entre 28 e 31 de julho, e teve como objetivo construir o marco teórico do novo programa de pesquisa 2025-2030, intitulado “Transformações da Ordem Urbana e Estratégias de Desenvolvimento Urbano Inclusivo, Igualitário, Democrático e Ambientalmente Sustentável“. Conforme o coordenador do novo INCT, Orlando Santos Junior, o seminário permitiu o aprofundamento de um debate teórico fundamental, que se relaciona com as transformações recentes na ordem urbana brasileira, na perspectiva de compreender o que está se passando nas cidades do país. “O conceito de urbanização dependente ocupa um lugar central nesse debate. E o seminário foi uma oportunidade para aprofundarmos essa discussão”, pontuou.
De acordo com Santos Junior, o seminário apontou para o futuro, ou seja, para a necessidade de os projetos de pesquisa do Observatório no novo INCT se relacionarem com o debate em torno das novas formas de dependência e, ao mesmo tempo, definirem as categorias, os conceitos e as metodologias que serão utilizadas pelos diversos projetos de pesquisa nos próximos cinco anos. A princípio, foram estruturadas quatro linhas de pesquisa nacionais, que serão desdobradas em 31 projetos. A linha I recebeu como título “Metropolização e a Rede Urbana Nacional“; a linha II é “Organização Social do Território, Inclusão Social e Desigualdades Urbanas“; seguida pela linha III “Governança Urbana, Cidadania e Gestão Metropolitana” e, por fim, a linha IV é “Teoria e Modelos de Desenvolvimento Urbano“. Segundo ele, “o seminário foi um momento muito importante para nos prepararmos para o desenvolvimento desses projetos e enfrentar os desafios que o novo INCT tem pela frente”.
Santos Junior também mencionou a importância da realização do encontro, por reunir o conjunto dos núcleos que hoje compõem o Observatório, incluindo três recém-criados: Manaus, São Luís e Florianópolis. “Este evento foi uma oportunidade para promover a integração entre os núcleos, e uma rede do tamanho do Observatório precisa se conhecer, interagir e estar integrada”, argumentou. O coordenador do Núcleo Manaus, Rodrigo Capelato, comentou sobre a importância da entrada do núcleo na rede. “É uma oportunidade de revelar as particularidades da Amazônia e fazer as aproximações temáticas diante de todas essas questões que trabalhamos. Isso engrandece a discussão urbana e potencializa a realidade que nós temos lá, bem à frente do cenário nacional”, ressaltou.

Fotos: Karina Soares.
Na ocasião, a coordenadora de comunicação do Observatório, Tuanni Borba, apresentou um apanhado geral das principais atividades que estão sendo desenvolvidas. Atendendo a uma solicitação dos núcleos, foi entregue um guia prático de relacionamento com a imprensa, elaborado pela equipe de comunicação. “A atividade de comunicação tem um papel muito relevante na manutenção da rede, que precisa ser permanentemente ativada e lembrada da sua existência. A rede se mantém muito integrada também pelo fato de, toda semana, cada um receber o boletim com as principais notícias, e isso é importante para manter todos e todas engajados. É uma atividade muito bem-sucedida e tem esse papel estratégico. Uma rede é difícil de fazer, mas é fácil desaparecer”, observou o coordenador da rede Observatório das Metrópoles, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro.
Mesa de encerramento do Seminário questionou o que fazer diante dos desafios atuais
No dia 31 de julho, ocorreu a mesa de encerramento do Seminário Nacional. Com o título “O que fazer? O desafio de uma estratégia de desenvolvimento urbano inclusivo, igualitário, democrático e ambientalmente sustentável como missão do novo desenvolvimento nacional“, os expositores foram Elias Jabbour (IPP/Rio), Pedro Bastos (Núcleo Rio de Janeiro), Jeroen Klink (UFABC) e Yuri Rafael Della Giustina (Ministério das Cidades). O coordenador da mesa foi Pablo Lira (Núcleo Vitória) e o debatedor foi Benny Schvarsberg (Núcleo Brasília).
A primeira fala foi proferida pelo diretor do Departamento de Adaptação das Cidades à Transição Climática e Transformação Digital do Ministério das Cidades, Yuri Rafael Della Giustina. Ele comentou sobre o trabalho de formulação de uma Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU). Della Giustina disse que, no processo de construção da PNDU, é necessário encaixar os pontos de vista do neoextrativismo, rentismo, reprimarização, financeirização, desindustrialização do país, acumulação e produção do espaço. “Vamos aproveitar esse momento político que é propício para essa discussão. Todos e todas temos responsabilidade político-social em relação a dar uma resposta para a sociedade. Não podemos perder de vista toda essa visão sistêmica em relação ao desenvolvimento urbano, aproveitando a boa relação com a academia para trazer ideias e contribuições para melhorar nossas políticas”, sugeriu.
O segundo expositor da mesa foi o pesquisador Pedro Bastos, que abordou o transporte global, um dos motores da crise climática. Ele trouxe informações sobre as ondas de calor, que aumentaram oito vezes em 60 anos: entre 2011 e 2020, são 52 dias ao ano de ondas de calor, com estimativa de 55 mil mortes em excesso em áreas urbanas. Segundo ele, o transporte público por ônibus oferece uma oportunidade potente para descarbonizar em escala e impacto. Bastos afirma que a descarbonização é uma pauta importante de política pública e o seu objeto de pesquisa são os ônibus elétricos. “Eles começaram a surgir a partir de 2018 na América Latina, e quem está mais à frente na expansão de ônibus elétrico são o Chile, a Colômbia e o Brasil. No entanto, o Brasil, hoje, ainda não tem uma estratégia para eletromobilidade. Mas é preciso buscar uma solução para o problema comum global”, ressaltou.

Foto: Karina Soares.
Em seguida, foi a vez do professor Jeroen Klink fazer a exposição na mesa-redonda. Ele comentou que a tarefa da mesa é oferecer uma resposta sobre o que fazer, mas seria bom que, ao invés de responder à pergunta “o que fazer?”, fossem elaboradas perguntas norteadoras como, por exemplo, se é possível desencadear, a partir da análise robusta, o contraditório, mobilizando a dialética e buscando diálogo com campos alternativos? De acordo com ele, a plataformização e a financeirização representam um processo constituinte contestável, mas aberto para o território urbano. “Considerando a importância do debate da insurgência, do reformismo e o esvaziamento do projeto de direito à cidade, uma das agendas importantes é a organização territorial do Estado”, refletiu.
O presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), geógrafo Elias Jabbour, também fez sua exposição na mesa-redonda. Ele iniciou a fala argumentando que é preciso buscar construir uma outra maioria política no Brasil, e isso só será possível com um grande projeto de desenvolvimento. Jabbour explicou que o Brasil teve o problema de se industrializar sem reforma agrária e ainda citou o exemplo da China. “Já faz 50 anos que o Brasil não cresce, e não vamos enfrentar a questão urbana sem a geração de 20 milhões de empregos, abertura de centenas de milhares de quilômetros de ferrovias, metrô, túneis etc. Isso traria uma outra dimensão, e é uma questão política e financeira. Por outro lado, vamos entender a expansão da China a partir de trilhões de dólares, quando ela passa por um intenso processo de fusões e aquisições, e surgem 96 conglomerados estatais em setores estratégicos da economia, transformando em tempo real o território do país”, salientou.
Segundo Jabbour, é preciso pensar em um projeto de desenvolvimento nacional, discutindo também a dimensão da reconstituição do sistema financeiro local. “É altamente funcional para o desenvolvimento brasileiro. Repensar a universidade brasileira orientada para um projeto nacional de desenvolvimento e se voltar a autores clássicos brasileiros para entender o passado, presente e o futuro do país”, concluiu. Ao final da mesa, o debatedor Benny Schvarsberg propôs três questões centrais: como os expositores avaliam a incidência e os aportes desse debate crítico e a nova urbanização dependente, sobretudo os nexos nas mudanças no mundo do trabalho e o urbano, reverberando na política de desenvolvimento urbano para o próximo período? No horizonte do processo eleitoral, como avaliam os desafios do debate? E com quem trabalhar nossas alianças, parcerias, segmentos, frações que têm interesse no projeto de desenvolvimento urbano?
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