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A insustentável natureza da sustentabilidade

O debate conceitual proposto neste número dos Cadernos Metrópole em relação à consolidação do campo analítico da ecologia política da urbanização ganha como contribuição o artigo “A insustentável natureza da sustentabilidade” de Ester Limonad, que critica a naturalização do discurso sobre a sustentabilidade, em particular seu uso generalizado no sentido de legitimar os discursos e as práticas de planejamento urbano e regional, a exemplo da proposta de cidades sustentáveis da ONU. Em contrapartida, propõe um redirecionamento do debate rumo a práticas transformadoras de planejamento, buscando a construção do que define como economia política do espaço.

O artigo “A insustentável natureza da sustentabilidade. Da ambientalização do planejamento às cidades sustentáveis”, de Ester Limonad, é um dos destaques do Dossiê: “Sustentabilidade e Justiça Socioambiental nas Metrópoles”, da Revista Cadernos Metrópole nº 29.

Resumo

Nas duas últimas décadas, a questão ambiental e da sustentabilidade passou a integrar e converteu-se em um fator emblemático de legitimação dos discursos e práticas do planejamento urbano e regional. Uma das evidências mais palpáveis dessa convergência do planejamento e da sustentabilidade é a proposta de cidades sustentáveis da Organização das Nações Unidas, que surgiu ao início da década de 1990. Sua adoção por mais de trinta países torna urgente uma leitura crítica do desenvolvimento sustentável e da natureza da ambientalização do discurso do planejamento, que contribua para se avançar rumo à construção de uma economia política do espaço e a uma prática de planejamento, que instrumentalize a participação social em uma perspectiva transformadora.

Abstract

During the last two decades, sustainability and environmental issues have become an integral part and an emblematic legitimating factor of urban and regional planning discourses and pratices. The United Nations’ sustainable cities programme, created during the 1990s, is one of the most tangible evidences of such convergence between planning and sustainability. As it has been adopted by more than thirty countries, it is necessary and urgent to perform a critical reading of sustainability and of the nature of the environmentalization of the planning discourse, so as to move towards the construction of a political economy of space and of a territorial planning pratice that aims at social transformation.

Introdução

Por Ester Limonad

“O mundo pode ser mais sustentável!””Insira a sustentabilidade no seu dia a dia com o Santander”. Quando lemas desse tipo aparecem em sítios eletrônicos de bancos, de corporações multi e transnacionais, simultaneamente ao pipocar de testes em redes sociais contemporâneas (Facebook, Twitter,etc.) e em revistas de negócios, esportes, moda e, inclusive, eróticas, destinados a avaliar se “você é sustentável?”, pode-se concluir que a ideia da sustentabilidade invadiu de forma avassaladora o cotidiano e a reprodução das diferentes esferas sociais. Em todos lados, em todas partes, tornou-se lugar comum falar em sustentabilidade. O termo, associado nas duas últimas décadas do século XX à questão ambiental, por seu caráter aparentemente neutro, acrítico e acima de interesses de classe (Rodrigues, 2006, p. 112) rapidamente se converteu em um sucedâneo da ideia de um mundo melhor, um mundo sustentável. Em decorrência, passa a ser adotado, de forma indis¬criminada, para adjetivar propostas, práticas e coisas, como uma forma de legitimação e de reforço positivo. O corolário é a multiplicação exponencial de práticas sustentáveis, de atividades de turismo sustentável, de propostas de gestão sustentável de espaços naturais e sociais e, como não poderia deixar de ser, de cidades sustentáveis.

Embora as opiniões divirjam e permaneça obscuro o que seria a sustentabilidade, planejadores, arquitetos, urbanistas, ambientalistas, geógrafos, advogados e outros profissionais passaram a defender as cidades sustentáveis,metrópoles sustentáveis e a preservação ambiental. Sem dúvida, a sustentabilidade converteu-se em uma obsessão generalizada, das populações indígenas ao Banco Mundial, bem como uma ampla gama de grupos diversos entreos quais se contam desde órgãos de governo a empresas multi e transnacionais: todos se declaram favoráveis em preservar a natureza e a lutar pelo desenvolvimento sustentável. Sem embargo cada qual se proponha a fazê-lo com base em agendas e interesses diferentes e por vezes totalmente contraditórios, sem chegar a explicitar claramente o que entendem por desenvolvimento e muito menos o que entendem por sustentabilidade. Partem, assim, muitas vezes do pressuposto de que isso está claro e subentendido em suas propostas.

Este ensaio tem por norte destacar as contradições entre desenvolvimento, apropriação privada da natureza e os discursos sobre a sustentabilidade, em particular os discursos relativos à sustentabilidade do desenvolvimento e do planejamento. Discursos que soem servir de suporte a questões relativas à gestão dos recursos hídricos, a bioengenharia de sementes, ao crédito de carbono e a apropriação da biodiversidade por parte de alguns países do mundo em detrimento de outros (detentores ou não de biodiversidade e tecnologia). Insere-se, portanto, em uma perspectiva crítica de construção de uma economia política do espaço, que contribua para aclarar e compreender as relações sociais de produção e as necessidades que se impõem para sua reprodução na contemporaneidade.

Para ler o artigo completo “A insustentável natureza da sustentabilidade. Da ambientalização do planejamento às cidades sustentáveis”, acesse a Revista Cadernos Metrópole nº 29.

http://cadernosmetropole.net/edicao/29