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PORTO ALEGRE: polos com efeitos distintos de bem-estar urbano

Luciano Fedozzi e Iara Regina Cartello apresentam uma análise do bem-estar urbano da região metropolitana de Porto Alegre, região constituída por dois polos que se estruturam ao longo da BR116 e tem no eixo central as melhores condições urbanas, cercada por uma periferia a leste e a oeste. No polo da capital Porto Alegre verifica-se um território de excelência no que diz respeito às condições de vida urbana, e do outro, uma periferia com condições mais baixas de infraestrutura. Já o polo Novo Hamburgo-São Leopolodo apresenta melhores condições de bem-estar urbano no seu entorno.

 

IBEU Região Metropolitana de Porto Alegre

Expressão de dois polos com efeitos distintos em bem-estar urbano?

Luciano Fedozzi¹

Iara Regina Castello²

O Índice de Bem-estar Urbano (IBEU), que está em construção pelo Observatório das Metrópoles, coloca em evidência a necessidade de manter na pauta do planejamento urbano e das políticas de desenvolvimento urbano-regional a questão do bem-estar urbano especialmente no que diz respeito às metrópoles brasileiras. O IBEU vem acompanhado de duas virtudes: uma diz respeito ao seu caráter não redutivo a uma única medida sintética tendo em vista que permite também a avaliação do bem-estar urbano na perspectiva de cinco dimensões; a outra é o fato de levar em consideração as diferenças de bem-estar no plano intraurbano o que é de extrema importância tendo em vista que as fortes contradições sociais existentes nas cidades engendram territórios segregados e segmentados.

O nível intraurbano é alcançado a partir das áreas de ponderação construídas pelo IBGE e, no caso da Região Metropolitana de Porto Alegre, essas áreas foram definidas, para a capital e para as principais cidades metropolitanas, a partir de um programa estatístico automático.

A RMPA está considerada nos seus 32 municípios e apresenta uma situação peculiar no que diz respeito à sua estrutura espacial. Do ponto de vista geográfico se caracteriza por uma distribuição assimétrica da atividade econômica vivenciando um constante processo de rearranjo espacial o que faz com que apresente especificidade no contexto metropolitano.

Apesar da existência de características e processos comuns que asseguram certo grau de unidade do conjunto metropolitano, existem na região dois centros dinâmicos consolidados que operam articulados internamente e que possuem muitas características similares. Um deles, denominada RMPAPOA, é polarizado pela capital Porto Alegre, que abriga setores diversificados e modernos da indústria (química, petroquímica, metal-mecânica, automobilística) e têm a primazia em temos de importância econômica do Setor Terciário, com concentração das atividades administrativas, financeiras e comércio.

O segundo (RMPAVALE) é polarizado por Novo Hamburgo e São Leopoldo, e abriga e concentra a cadeia do setor coureiro-calçadista, com a instalação de indústrias tradicionais. Esta é uma região onde, por concentrar o setor calçadista, ainda é comum o exercício combinado de pessoas de uma mesma família em múltiplas atividades agrícolas e urbanas, que caracteriza pluriatividade. É comum nesta parte da RMPA a existência de ateliers domésticos vinculados à indústria calçadista. Um terceiro recorte interno (RMPAENTORNO) é formado por um conjunto de municípios com perfis socioeconômicos diversificados (rurais ou com presença de indústrias tradicionais) que se constitui como um anel periférico no entorno das duas principais espacialidades. Esta distinção intrametropolitana é importante para a compreensão dos resultados do IBEU seja na sua forma sintética como em suas cinco dimensões.

A dimensão Mobilidade Urbana do IBEU exibe dois padrões bastante diferenciados na Região Metropolitana de Porto Alegre. Ao norte, a RMPAVALE polarizada pelo binômio Novo Hamburgo-São Leopoldo vinculada à base econômica coureiro calçadista, se destaca por uma situação bastante adequada de seus moradores em termos de mobilidade urbana. Este padrão espacial resulta, evidentemente, de um conjunto de circunstancias dentre as quais quatro merecem ser comentadas:

1. A dimensão mobilidade urbana é expressa por um único indicador referente ao deslocamento diário entre a residência e o local de trabalho com tempo menor que uma hora;

2. A base econômica desta sub-região é relativamente homogênea, centrada no ramo industrial tradicional do couro e da fabricação de calcados;

3. A realização plena da indústria do calçado depende da presença de economias de aglomeração, expressas por inúmeras atividades de beneficiamento e transformação para a provisão de insumos, que muitas vezes são atividades semiartesanais realizadas em ateliês junto ou no próprio local de moradia, o que diminui ou até elimina o tempo de deslocamento casa-trabalho;

4. Os moradores de todas as AED’s dos municípios que compõem a RMPAVALE são beneficiados pela boa mobilidade urbana que a área oferece – sempre acima de 0,9 –, muito possivelmente em função dos deslocamentos, mesmo curtos, utilizarem a rodovia RS239, que conecta todos os pequenos e afluentes municípios. A exceção se dá nos dois municípios que polarizam a sub-região, Novo Hamburgo e São Leopoldo, possivelmente pelo maior tamanho e densidade populacional, mas ainda assim no interior de Novo Hamburgo o índice nunca é menor do que 0,84 e em São Leopoldo 0,78, justamente na área central mais congestionada.

A situação na RMPAPOA é bastante diversa. Focada em um setor terciário nuclear e em setores industriais modernos descentralizados, o padrão espacial percebido revela algumas peculiaridades:

1. Surpreendentemente as áreas apontadas como de maior mobilidade urbana no polo são aquelas mais densas e congestionadas. Estas compreendem toda a Região de Planejamento 1 (RP1) [Bairros Centro, Cidade Baixa, Menino Deus, Praia de Belas, Azenha, Farroupilha, Bom Fim, Independência, Rio Branco, Santa Cecília, Santana, Marcilio Dias, Floresta, Moinhos de Vento, Auxiliadora, Montserrat, Bela Vista e Petrópolis], parte da RP2 [bairros São Geraldo, Higienópolis, Boa Vista, Passo da Areia e Santa Maria Goretti], Três Figueiras na RP4, Santa Tereza na RP5 e Nonoai na RP6;

2. Nos municípios do entorno imediato a condição de mobilidade urbana muito alta está presente apenas em Canoas muito provavelmente conectada à economia industrial desenvolvida no núcleo. Os municípios que compõem o conjunto de atividades industriais da RMPAPOA apresentam índices mais altos de mobilidade em suas áreas centrais. Tal é o caso de Gravataí, Triunfo e Eldorado do Sul.

3. O padrão radial concêntrico é o que explica o índice de mobilidade da RMPAPOA, muito alto no núcleo, diminuindo gradativamente até chegar a muito baixo na periferia do polo e também dos municípios que não desenvolvem atividades industriais. Exemplos muito claros são as AEDs do município de Viamão localizadas próximas ao limite com Porto Alegre, as AEDs de Alvorada, e todo o Extremo Sul de Porto Alegre, conhecido como Região de Planejamento 8. A RP8, conhecida até recentemente como a zona rural e de abastecimento de hortifrutigranjeiros da cidade, está enfrentando intenso e inesperado crescimento em decorrência da ação massiva do mercado imobiliário na alocação de uma grande quantidade de projetos do Programa MCMV tornados possíveis pela designação e gravação de Áreas Especiais de Interesse Social onde houve a flexibilização dos índices urbanísticos.

Acesse no link a seguir a análise completa do IBEU da RM de Porto Alegre.

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Última modificação em 02-10-2013 18:21:38