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Praça Saens Peña, entre a urgência e a quietude

By 06/11/2014janeiro 25th, 2018Artigos Científicos, Revistas Científicas
Praça Saens Peña

Praça Saens Peña                                                                         Crédito: Pedro Paulo Bastos

No ensaio fotográfico da Revista e-metropolis, Pedro Paulo Bastos retrata a Praça Saens Peña, um dos espaços mais tradicionais do subcentro do Rio de Janeiro. Em meio à dinâmica dos ônibus, automóveis e transeuntes que circulam por essa região, o autor nos mostra como a praça pode ser um limiar entre a urgência e a quietude – do corpo, do espírito e do espaço.

Pedro Paulo Bastos é administrador público, cursa especialização em Política e Planejamento Urbano no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ. É bolsista extensão do Observatório das Metrópoles.

Acesse a edição nº 18 da Revista e-metropolis.

 

Praça Saens Peña, entre a urgência e a quietude

Por Pedro Paulo Bastos

Sendo um dos subcentros mais tradicionais da cidade do Rio de Janeiro, a Praça Saens Peña é uma região pulsante. Logo nas primeiras horas após o despertar da alvorada, quando os raios solares já estão incidindo sobre os seus prédios e calçadas, um amontoado de ônibus e automóveis vai tentando se enfileirar na pista sentido Centro da rua Conde de Bonfim, a principal via comercial da Tijuca, bairro onde se localiza a Praça Saens Peña.

Ou melhor dizendo: “a Praça”, como é usualmente referida pelos vaidosos moradores dali, os tijucanos. Num dia comum de labuta, em meio a tantos outros transeuntes que circulam por essa região, muitos desses tijucanos rumam afoitos à estação do metrô ou aos pontos de ônibus. Isso acontece ao mesmo tempo que a faixa de pedestre, no primeiro indício de um sinal vermelho, recebe uma leva de pisadelas que só cessa quando o motorista, alvoroçado ao deparar com seu sinal verde de volta, dá uma buzinada e ameaça invadir aquele espaço de tiras horizontais brancas. Numa fração de segundos, tais tiras já estarão sob aqueles pneus, sem mais pedestre algum para “atrapalhar” o tráfego dos automóveis.

E quanto a esse pedestre, pode ser que ele abandone a rua e resolva adentrar a Praça. Se o fizer, certamente estará cruzando o limiar entre a urgência e a quietude – do corpo, do espírito, do espaço. Deixa de lado o posto de pedestre para transformar-se num passeador. No cenário visto a partir de então, esse passeador avistará pessoas resfolgadas em bancos verdes de madeira com um jornal ou livro sobre os palmos das mãos. Perceberá que tais pessoas são imperturbáveis, a não ser pelo ruído da pirueta dum certo peixinho que nada naquele lago artificial ou pelo incômodo causado diante do inconsolável mendigo que roga por esmolas.

Ali, no interior da Praça Saens Peña, esse passeador descobrirá também que só quem se presta à movimentação contínua dos braços e das pernas, de modo a exercitá-los, são os ginastas da terceira idade. Ou então aquelaspoucas crianças que saltam e correm ao longo do playground perante o olhar atento dos seus responsáveis. E, por fim, a alguns metros de altura, o passeador poderá contemplar os pombos que repousam sobre os postes e fiações da Praça – na verdade, singelos espectadores daquele mundo babélico que ronda a ronda, um mundo completamente sem barreiras, absolutamente permeável.

 

Veja as imagens do ensaio “Praça Saens Peña, entre a urgência e a quietude” na edição nº 18 da Revista e-metropolis.