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Quais as rupturas que caracterizam cada fase do processo de reestruturação do espaço em São Gonçalo? Qual a relação dessas com a realidade metropolitana fluminense? Essas questões animaram o trabalho “Rupturas e continuidades. A produção do espaço e o processo de reestruturação: um olhar a partir de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, de Juliana Nazaré Luquez Viana.

Crédito da autora.

Defendida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Geografia Humana da USP, sob orientação de Sandra Lencioni (pesquisadora do Observatório das Metrópoles), a tese caracteriza a produção do espaço de São Gonçalo através dos processos de periferização-espoliação urbana-segregação socioespacial.

Confira o resumo expandido do trabalho:

O presente trabalho busca analisar e discutir a produção do espaço a partir das fases do processo de reestruturação, suas rupturas e continuidades, tendo como situação concreta a realidade urbana de São Gonçalo (RJ). Admite-se que as transformações produzidas pelas dinâmicas dos processos espaciais provocam descontinuidades a partir das quais pode-se definir as fases de ruptura e conectar os elementos dissolvidos em cada um desses momentos buscando a identificação das continuidades, tomando-as como fundamento para uma perspectiva histórica da produção do espaço. Propomos uma periodização analítica da realidade urbana de São Gonçalo, construída a partir da identificação das rupturas e da caracterização das continuidades, reveladas pelo movimento de reestruturação do espaço. Nesse sentido, tal síntese desenvolveu-se segundo as seguintes problematizações: (a) quais as rupturas caracterizam cada fase do processo de reestruturação do espaço em São Gonçalo e (b) qual a relação dessas com a realidade metropolitana fluminense? Considerando, uma perspectiva histórica na análise da produção do espaço, (c) quais as continuidades encobertas em cada momento de ruptura? Em São Gonçalo, a dinâmica de produção do espaço, pôde ser compreendida segundo dois momentos determinantes, o urbano-industrial e o metropolitano-financeiro, e considerada em três fases de reestruturação: a urbanização que precede a industrialização e é capturada por ela; a urbanização espoliadora; e a urbanização especulativa (ou financeira) que impõe à problemática urbana análises e interpretações para além do dualismo centro-periferia no contexto da atual conformação da metrópole e de sua região.

O caminho de problematização da realidade metropolitana fluminense que propomos é esse: um manifesto ao movimento. O movimento não só da realidade, mas também da maneira como a compreendemos. O movimento do real que se apreenda no pensamento sobre a análise concreta; aquele como historicidade, este como síntese metodológica.

A compreensão do movimento da realidade concreta aqui proposta considerou uma démarche em que estrutura, forma e função, momentos e fases, rupturas e continuidades do processo de reestruturação do espaço se constituem em síntese na análise das relações enredadas na problemática socioespacial do Rio de Janeiro. O percurso dessa pesquisa se nutriu muito mais de problemas de uma situação concreta do que de intenções teóricas proclamadas. Essa análise se comprometeu em perseguir um método (LEFEBVRE, 1969) e não em aplicar teorias, mas buscando que a teoria se revele e se construa na exposição dos problemas (PALMEIRA, 1978).

Crédito da autora.

A reestruturação do espaço, tomada aqui primeiramente como conceito e sintetizada como processo de significativo potencial explicativo na dinâmica da produção do espaço, está lançada nessa perspectiva manifesta do movimento: estruturação-desestruturação-reestruturação. Vemos nesse movimento um caminho interpretativo para a compreensão da dinâmica que produz e reproduz o espaço e “recria as condições gerais a partir das quais se realiza o processo de reprodução do capital” (CARLOS, 2008, p. 83).

Ao remexer a cidade de São Gonçalo, no contexto da metropolização fluminense, buscamos incrementos à problemática do espaço avançando na compreensão do processo de reprodução da sociedade, sob a lógica do capital que se revela na produção do espaço urbano fluminense e na crise urbana do Rio de Janeiro. Não se trata de ilustrar as teses lefebvrianas da Produção do Espaço, mas sim de perseguir o método que reconstitui e penetra o movimento de uma situação histórica concreta em que as contradições imanentes constituem-se como os problemas teóricos das transformações socioespaciais sob as determinações do modo de produção vigente.

Dessa forma, acreditamos que a análise da reestruturação do espaço, a partir de São Gonçalo, contribui também para aguçar a problemática acerca das dinâmicas metropolitanas, uma vez que essa análise se fez a partir da caracterização das rupturas e identificação das continuidades das relações sociais de produção contidas no espaço de conformação da cidade – eis um desafio na interpretação das transformações socioespaciais: a dimensão da reprodução.

A escolha dos elementos espaciais (tais como: as indústrias, as instituições, os espaços de consumo, lazer e moradia, as infraestruturas visíveis e invisíveis, os agentes sociais, etc), a identificação e a análise das rupturas como também a sensibilidade de indicar a absorção desses elementos às condições distintas do movimento histórico permite-nos uma proposta de periodização dos diferentes níveis da realidade espacial e auxilia-nos na reconstituição do tempo e do espaço como categorias simultâneas de análise. Seja qual for a natureza do processo (econômica, cultural, social, política), intrínseca à sua natureza estará a concepção de movimento. Ao movimento inserem-se aparente coerências e insuperáveis contradições, mudanças e permanências que compõem a lógica das transformações socioespaciais. Essas são possíveis de materializarem-se pela mediação das relações sociais de produção e do espaço.

As características das fases de reestruturação do espaço e a simultaneidade com que as continuidades coexistem no movimento contraditório da produção do espaço de São Gonçalo, revelaram-se através dos processos de periferização-espoliação urbana-segregação socioespacial. Nas fases da reestruturação do espaço cada um desses processos sobressai como prática espacial da reprodução das relações sociais. Queremos dizer que, em cada momento do real o movimento de sua realização não só incorpora novas possibilidades contraditórias como também amadurece relações já desenvolvidas na determinação histórica de uma fase anterior.

Por todos os pontos aqui apresentados, esperamos que a leitura desse trabalho possa levantar mais problematizações a ponto de superar aquelas que nortearam nosso percurso investigativo.

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