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Revista de Estudos Urbanos e Regionais (v. 19, n. 2, 2017)

A Revista de Estudos Urbanos e Regionais (RBEUR) divulga a sua nova edição que traz como destaque o depoimento de Ester Limonad “Lá se vão trinta anos de ANPUR…”, no qual registra as atividades da diretoria da ANPUR no período de 2011-2013, inicialmente presidida pela saudosa professora Ana Clara Torres Ribeiro e conduzida por Ester a partir de dezembro de 2011. O texto resgata momentos da trajetória da Associação, que por meio de sua atuação política e acadêmica alcançou 30 anos em 2013, combinando estímulos ao avanço da produção científica da área PUR com a defesa dos valores da justiça social, do direito à cidade e da democratização do conhecimento.

Segundo o editorial da revista, assinado por Ana Cristina Fernandes, Norma Lacerda e Tiago Cargnin Gonçalves, os artigos do v. 19, n. 2 de 2017 apresentam diferentes abordagens em torno do debate conceitual sobre o espaço urbano, temática central para a RBEUR. A primeira delas é apresentada no artigo Como anda a participação? As condições para a elaboração de planos diretores participativos”de Elson Manoel Pereira, que se dedica a um esforço de aprendizagem a partir de balanço crítico do planejamento urbano participativo desde suas primeiras experiências, na perspectiva da categoria geográfica do território.

O tema em torno da questão urbana segue com as ocupações de áreas urbanas em Belo Horizonte, foco da análise empreendida por Camila Diniz Bastos, Felipe Nunes Coelho Magalhães, Guilherme Marinho Miranda, Harley Silva, João Bosco Moura Tonucci Filho, Mariana de Moura Cruz e Rita de Cássia Lucena Velloso no artigo “Entre o espaço abstrato e o espaço diferencial: ocupações urbanas em Belo Horizonte”. Os autores interrogam se essas práticas, mais especificamente as lutas (ações de resistência) e o cotidiano vivido pelos seus moradores (construção coletiva das ocupações), ocasionaram diferenciações espaciais. Averiguando o caso de ocupações em Belo Horizonte – à luz dos ensinamentos de Henri Lefebvre acerca do espaço diferencial em meio às contradições do espaço abstrato vigente –, os autores concluem que, embora as ocupações sejam experimentações político-comunitárias, emerge no seu interior o espaço abstrato por meio de diversos dispositivos (mercado imobiliário informal, segurança pública e convivência com atividades ilícitas).

Um desses “outros espaços” é analiticamente contemplado por Gustavo Resgala no artigo “A moeda social e o fortalecimento do espaço diferencial nas periferias”. Coincidentemente, neste mesmo número, um segundo autor discorre sobre espaços diferenciais abstratos, tendo também como principal apoio teórico Henri Lefebvre. O que o distingue do artigo anterior é a indagação de partida: a moeda social é capaz de demarcar um território no qual ganhe força a diferença e a criatividade? A partir da análise da experiência do Banco Comunitário de Palmas – cujos sócios são 35.000 pessoas, moradoras do Conjunto Palmeiras (Fortaleza-CE), e cuja moeda (Palmas) circula desde 2000 –, Resgala remata que uma experiência coletiva/comunitária (questionadora da autonomia do sistema monetário ao ponto de introduzir uma moeda local), constrói sim a diferença. Apesar disso, segundo o autor, a sua simples introdução não é suficiente para evidenciar um desenvolvimento local, nem anunciar a emergência do urbano, nos termos lefebvrianos, a partir da periferia.

O artigo seguinte conduz o leitor a temática emergente. Com um título instigante, “Só para o moço de corpo dourado do sol de Ipanema: distribuição espacial da economia noturna LGBT na cidade do Rio de Janeiro”, o trabalho de Diego Santos Vieira de Jesus propõe – a partir de pesquisas bibliográfica e qualitativa (entrevistas) – debater sobre um tema pouco abordado nos estudos urbanos e regionais: a distribuição espacial da economia noturna LGBT na cidade do Rio de Janeiro e a relação que se estabelece com as indústrias criativas (artes de espetáculos e gastronomia).

Os artigos que se seguem enfocam o espaço em diferentes escalas a partir de abordagens da dimensão econômica. O primeiro deles, “The economic and spatial restructuring and development process in the North Sector of the Metropolitan Region of Belo Horizonte, Minas Gerais”, assinado por Luciano dos Santos Diniz e Maura Pardini Bicudo Véras, enfrenta a problemática da conhecida associação entre planejamento estratégico de cidades, investimentos públicos e apropriação privada de valorização imobiliária, agora sob a supremacia do capital financeiro sobre o capital industrial. Tomando como objeto empírico o chamado Vetor Norte da metrópole mineira, os autores defendem que tal supremacia estaria redefinindo o próprio senso de espaço.

A dimensão econômica preside também o artigo que vem a seguir, “Distribuição espacial de equipamentos de mamografia no Brasil”, remetendo o leitor à questão clássica do desequilíbrio regional, na perspectiva da oferta de serviços de atenção à saúde. Partindo do pressuposto de que, no Brasil, existe uma quantidade suficiente de mamógrafos para o atendimento da demanda nacional estimada, Pedro Amaral, Luciana Luz, Francisco Cardoso e Rosiene Freire questionam se há regiões não atendidas em decorrência da concentração de uma quantidade superior à necessária em determinados espaços. Tal indagação parte da nota técnica do Instituto Nacional do Câncer (INCA) que limita o alcance da oferta a uma distância de 60 quilômetros.

O debate sobre as desigualdades regionais atravessa também o artigo de Fernando Campos Mesquita e Daniel Pereira Sampaio, “Geographical proximity and technological intensity in manufacturing: evidence from the periphery of the São Paulo-Brasília axis at the beginning of the 21st century”. Tomando como referência o debate sobre proximidade geográfica (aqui entendida como distância euclidiana), os autores atualizam o debate sobre desconcentração industrial que mobilizou estudiosos nos anos 1980 e 1990, procurando verificar a continuidade da prevalência da tendência à concentração em face do progresso técnico nas infraestruturas de transporte e comunicações que vem facilitando as transações a distância. Com o foco na escala regional (e não na totalidade do território nacional), a pesquisa ateve-se à região compreendida pelo “eixo São Paulo-Brasília”, observado a partir da sua subdivisão em três partes (ou três periferias).

A questão da inovação tecnológica é também abordada no artigo seguinte, de caráter bem mais conceitual, que pretende formular uma reflexão sobre as conexões entre inovação, desenvolvimento e espaço urbano. Trata-se do artigo “Inovação, desenvolvimento e espaço urbano: uma relação necessária mas não suficiente”, de autoria de Valdir Roque Dallabrida, Maria das Mercês Cabrita Mendonça Covas e António Manuel Alhinho Covas. Com base em ampla revisão da literatura sobre a “relação triangular”, construída segundo perspectivas temáticas distintas que compõem as subsessões do artigo, os autores concordam com a visão predominante na literatura de que o espaço urbano oferece condições propícias ao processo de inovação. Entretanto, alertam que desenvolvimento remete à ideia de um processo “mais integrador, mais inteligente, mais inclusivo, mais eclético, ou seja, eticamente mais responsável perante aos seus cidadãos”.

Acesse a nova edição da Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais.