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A coleta de esgoto e a coleta de lixo avançaram no Brasil nas últimas duas décadas, revelam os novos dados censitários que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na sexta-feira (23), mas apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a percorrer.

O Censo 2022 revela que as desigualdades se destacam entre jovens, pretos, pardos e indígenas que são os mais afetados pela falta de saneamento básico. As faixas etárias mais jovens são as mais impactadas pela precariedade, com destaque para as crianças de 0 a 4 anos que apresentam os piores índices com 3,4% sem canalização de água, 0,9% sem banheiro e 57,3% com esgotamento por rede coletora ou fluvial. A população de cor ou raça amarela foi a que apresentou maior índice de acesso à infraestrutura de saneamento, seguida pela de cor ou raça branca.

Foto: Fernando Frazão (Agência Brasil).

Em 2022, 3.505 municípios apresentavam menos da metade da população com acesso à coleta de esgoto e 2.386 municípios ainda tinham menos da metade da população com acesso à rede coletora ou fossa séptica. A pesquisa mostra que 62,5% da população brasileira vivia em domicílios com rede de coleta de esgoto, um aumento significativo em relação aos 44,4% registrados em 2000.

Já a coleta de lixo também apresentou melhora, com 90,9% da população atendida, tendo como tipo de descarte mais frequente a coleta domiciliar por serviço de limpeza (82,5%). São Paulo teve o maior percentual de população atendida por coleta de lixo (99,0%), enquanto o Maranhão registrou o menor (69,8%).

Os dados censitários também revelam que em 2022, 86,6% da população brasileira era abastecida por rede geral de distribuição de água potável, no entanto, ainda há disparidades significativas entre as regiões Sudeste, com o percentual de 91,0%, Nordeste, com 76,3% e Norte, com 55,7%. O Nordeste também apresentou a maior proporção de uso de carros-pipa (3,5%), sendo a forma de abastecimento principal em 68 municípios da região.

Além disso, chama atenção em algumas áreas a proporção da população ligada à rede pública de abastecimento que não a utiliza como principal fonte da água. Segundo Suyá Quintslr, professora do IPPUR/UFRJ e pesquisadora do INCT Observatório das Metrópoles Núcleo Rio de Janeiro, “ainda é cedo para afirmar as razões para isso, mas os dados parecem indicar problemas de qualidade ou regularidade nos serviços de água, que levam as pessoas a buscarem outras fontes de abastecimento – principalmente a perfuração de poços”.

A pesquisadora também comentou o quadro geral de melhoria do saneamento e as razões para tal cenário. “Os avanços são importantes, ainda que ocorram de forma mais lenta do que seria desejável. Aqui, cabe destacar que, ao contrário do que afirmado por consultores no dia do lançamento dos dados no Jornal O Globo, não é possível atribuir o aumento de rede diretamente aos investimentos privados, uma vez que as grandes privatizações ocorreram depois da mudança no Marco Regulatório em 2020. Além disso, ainda não há informações detalhadas que permitam distinguir as melhorias neste intervalo de 10 anos por fonte de investimento – estas podem ser, por exemplo, consequência dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento 2, lançado em 2011”, afirma.

Sobre os tipos de moradia, a pesquisa revelou que em 2022, 171,3 milhões de pessoas (84,8%) moravam em casas, enquanto 12,5% viviam em apartamentos, o número de moradores de apartamentos vem crescendo, com o registro de 7,6% em 2000, passando para 8,5% em 2010. Aqui o destaque é para o Piauí que tem a maior proporção de pessoas em casas, enquanto o Distrito Federal lidera em apartamentos. Santos (SP), Balneário Camboriú (SC) e São Caetano do Sul (SP) são os únicos municípios do Brasil com predomínio de moradores em apartamentos.