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Alagamento no Rio de Janeiro (imagem ilustrativa)

Há um padrão de urbanização no Brasil e em toda a América Latina de áreas “não urbanizadas” nas cidades, ocupadas por populações mais pobres expostas a risco ambientais significativos, como inundações e alagamentos. Essa realidade é o tema do Dossiê “Desastres Urbanos” presente na edição nº 42 da Revista Cadernos Metrópole, que analisa como a associação entre um padrão de urbanização não organizado e eventos climáticos extremos tem gerado a expansão de riscos ambientais, atingindo populações e espaços cada vez maiores.

Segundo o professor Roberto Luiz do Carmo, vinculado à UNICAMP e organizador da edição nº 42 da Revista Cadernos Metrópole, são cinco textos que apresentam de maneira mais direta a questão dos desastres urbanos. Eles trabalham casos específicos de desastres, um na Argentina, um no México e três no Brasil, destacando os aspectos ambientais e fisiográficos que deflagraram o desastre, mas também evidenciando que a extensão do desastre, em termos de população atingida e de prejuízos materiais, é em grande parte resultante da forma como se estruturaram as áreas urbanas ao longo das décadas recentes.

No primeiro texto, Cambio climático, inundaciones y “lagunas” de información. Análisis de inundaciones a través de rastreo de artículos periodísticos en el Gran La Plata (Buenos Aires, Argentina), as pesquisadoras Daniela Vanesa Rotger, María Aversa e Estefanía Jáuregui mostram como os episódios de chuvas intensas foram abordados pela imprensa argentina em um longo período, entre os anos de 1911 e 2014. As autoras destacam a perspectiva que relaciona a expansão da área metropolitana e a construção social dos desastres que decorre das características desse processo de urbanização.

Já no artigo El sismo del 19 de septiembre. ¿Cómo enfrentamos la crisis en Morelos, México?, Rafael Monroy Ortiz, Rodrigo Flores Reséndiz, Celia Minerva Jiménez Ortiz, Rafael Monroy Martínez, Columba Monroy Ortiz e Cesar Augusto González Bazán mostram, em seu trabalho, que, embora os riscos sísmicos sejam pouco previsíveis, o número de vítimas humanas e de perdas materiais é agravado pela falta de políticas públicas capazes de diminuir as vulnerabilidades estruturais, evidenciando que os principais afetados pelos abalos são as populações de baixa renda.

Mostram também que, no México, os assentamentos precários, com características construtivas, são incapazes de proteger a população. Além disso, o texto destaca, através da descrição do caso, o papel que a universidade pode desempenhar em uma situação na qual a comunidade passa por um evento de grande magnitude.

Tathiane Mayumi Anazawa, no texto A escassez hídrica na Região Metropolitana de Campinas entre 2013-2015: a perspectiva de um desastre socialmente construído, analisa, em seu trabalho, como uma sucessão de processos sociais, potencializado por um evento climático extremo de estiagem prolongada, pode levar a uma situação de desastre, expondo uma população metropolitana ao risco de desabastecimento hídrico. Destaca da percepção da crise hídrica pelos agentes sociais envolvidos diretamente com o processo de gestão da água.

Por sua vez, Vitor Vieira Vasconcelos, Sandra Momm, Kátia Canil e Fernando Rocha Nogueira, no artigo Disaster risk management and hydrographic basin analysis: the geotechnical map of suitability for urbanization of Itapevi – São Paulo, Brazil, focalizam a questão da urbanização, mostrando o potencial das cartas geotécnicas para a definição de áreas adequadas para a ocupação. Além dos modelos de modelagem, foi realizado também um mapeamento participativo, com a finalidade de complementar as informações levantadas.

Teresa Cristina da Silva Rosa, Marcelo Sathler, Mirian Costa, Marcos Barreto de Mendonça, Caterine Reginensi e Ricardo Matos de Souza, no texto Risco associado a movimento de massa no Morro Boa Vista (Vila Velha/ES): da caracterização do território à necessidade de políticas públicas, fazem uma discussão abrangente sobre um desastre, com os fatores intervenientes e um conjunto de processos associados, evidenciando as dificuldades do poder público em oferecer respostas efetivas em situações agudas. Também mostram como as decorrências dos desastres permanecem ao longo do tempo.

Acesse o dossiê “Desastres Urbanos” no site da Revista Cadernos Metrópole.

CADERNOS METRÓPOLE

A Revista Cadernos Metrópole é uma produção da Rede Nacional INCT Observatório das Metrópoles, sendo avaliada uma das principais revistas científicas do Brasil na investigação sobre o tema urbano e metropolitano. Indexada nas Plataformas Scielo Brasil, Redalyc e Latindex, a Cadernos Metrópole vem publicando dossiês que abordam temas como formas de provisão de moradia; águas urbanas; gentrificação; teoria urbana na América Latina; mobilidade urbana; direito à cidade, entre outros.

“O caráter interdisciplinar da publicação vem contribuindo, desde o final dos anos 1990, para o debate plural das questões emergentes da sociedade contemporânea e sobretudo de áreas urbanas. Os dossiês temáticos de cada número têm respondido às demandas de cientistas sociais, pesquisadores e formuladores de políticas públicas interessados em divulgar suas ideias em um espaço aberto às discussões acadêmicas e às análises críticas”, apontam os editores Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro e Lúcia Bógus.

Atualmente a Cadernos Metrópole conta com as  seguintes classificações: A1 na área da Sociologia; A2 na área da Arquitetura, Urbanismo e Design; e A2 na área de Planejamento Urbano e Regional/Demografia.

EDIÇÃO Nº 42

A edição nº 42 da Cadernos Metrópole é completada por um conjunto de textos que aborda questões que estão indiretamente relacionadas aos desastres, na medida em que tratam de processos que são intervenientes e estruturantes do processo de urbanização. Dois desses textos abordam a questão do mercado imobiliário.

Ester Clelia Schiavo e Alejandro Gabriel Gelfuso, no texto Urbanismo de mercado. Las ciudades latinoamericanas y el neoliberalismo realmente existente, mostram como as diferentes concepções sobre a cidade estão em disputa na realidade das cidades da América Latina, embora seja difícil trabalhar nessa perspectiva regional.

Norma Lacerda, Helena Lúcia Zagury Tourinho, Marco Aurélio Arbage Lôbo e Marluce Wall de Carvalho Venâncio, no texto Dinâmica de mercado imobiliário nos centros históricos em tempos de globalização: os casos do Recife, Belém e São Luís (Brasil), mostram a articulação dos centros históricos com a dinâmica econômica internacional, através da recriação e da requalificação desses espaços.

Na sequência deste volume, estão três textos que abordam, de diferentes maneiras, a questão ambiental urbana.

Marta Luciane Fischer, Valquíria Elita Renk, Ana Maria Moser e Natalia Aline Soares Artigas, no texto Diálogos entre bioética e saúde global: análise de usuários e usos de parques urbanos como indicadores éticos na promoção de bem-estar, apresentam uma pesquisa sobre a percepção da população a respeito do uso de um parque urbano de Curitiba e um conjunto de aspectos que emerge da ocupação desse espaço por adultos, crianças e animais.

Vanessa Victor da Cruz de Souza, Amarilis Lucia Casteli F. Gallardo, Pedro Luis Côrtes, Ana Paula Fracalanza e Mauro Silva Ruiz, no texto Pagamento por serviços ambientais de recursos hídricos em áreas urbanas: perspectivas potenciais a partir de um programa de recuperação da qualidade de água na cidade de São Paulo, discutem a possibilidade de emprego desse instrumento de pagamento por serviços ambientais, que é primordialmente utilizado em áreas rurais, em uma situação urbana.

Raquel Maria da Costa Silveira, Fábio Fonseca Figueiredo e Jelisse Vieira Gomes Almeida, no texto A proteção ambiental e a gestão compartilhada: um estudo de caso na Região Metropolitana de Natal, analisam como a questão dos resíduos sólidos tem sido tratada no âmbito das regiões metropolitanas.

Este número do Cadernos Metrópole se encerra com três textos que discutem a questão da mobilidade urbana. Essa questão também está estreitamente relacionada à forma como se estruturam as cidades, com a localização dos serviços distantes dos locais de residência, implicando deslocamentos diários de longa distância.

Felipe Andrés Saravia, no texto Vínculo entre percepción territorial y movilidad espacial en trayectorias de la clase media profesional: región de Los Lagos, Chile, aponta, através de pesquisa qualitativa, como as estratégias de mobilidade mudam de acordo com as diferentes etapas da trajetória de vida do grupo estudado.

Maurício Feijó Cruz e Francisco César Pinto da Fonseca, no texto Vetores em contradição: planejamento da mobilidade urbana, uso do solo e dinâmicas do capitalismo contemporâneo, analisam como se articulam as políticas de mobilidade com os processos de espraiamento territorial das cidades.

Fernanda Müller, Leonardo Monteiro Monasterio e Cristian Pedro Rubini Dutra, no artigo “Por que tão longe?”. Mobilidade de crianças e estrutura urbana no Distrito Federal, abordam os deslocamentos de um grupo populacional específico, as crianças, em direção às escolas, evidenciando que, mesmo na cidade planejada, os deslocamentos necessários são muito expressivos.

O conjunto de textos reunidos neste número permite construir um painel das questões que afligem as cidades brasileiras e latino-americanas. Dentro desse padrão de urbanização, os grupos sociais de menor renda são os mais vulneráveis às situações de desastre originados a partir de fenômenos ambientais. Entretanto, o contexto das mudanças climáticas assim como os processos sistêmicos que envolvem as interrelações entre população e ambiente fazem com que os riscos sejam cada vez mais abrangentes.

Acesse, no link a seguir, a edição completa nº 42 da Revista Cadernos Metrópole.