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Pátio São Pedro no Centro Histórico de Recife (crédito: Prefeitura de Recife)

As baixas taxas de crescimento da economia brasileira e a sua inserção na economia globalizada, verificadas a partir da década de 1990, tiveram repercussões sobre os centros históricos. A descentralização político-administrativa e a competição entre as cidades pelos investimentos privados impulsionaram os governos locais a investir nesses centros para atrair atividades. Isso tem tido implicações nas dinâmicas dos seus respectivos mercados imobiliários.

No artigo Dinâmica de mercado imobiliário nos centros históricos em tempos de globalização: os casos do Recife, Belém e São Luís (Brasil), Norma Lacerda, Helena Lúcia Zagury Tourinho, Marco Aurélio Arbage Lôbo e Marluce Wall de Carvalho Venâncio, mostram a articulação dos centros históricos com a dinâmica econômica internacional, através da recriação e da requalificação desses espaços.

O texto analisa, comparativamente, como essas dinâmicas ocorreram nos Centros Históricos do Recife, de Belém e de São Luís, bem como em seus espaços internos, mostrando suas regularidades e especificidades. Revela que ora se reproduzem espacialidades preexistentes, ora se recriam outras mediante processos de requalificação capazes de inseri-los, de diferentes maneiras, no processo de globalização da economia.

CADERNOS METRÓPOLE 42

Abstract

The slow growth of Brazilian economy since the 1990s and its insertion into the global economy have brought consequences for historic centers. Political-administrative decentralization and competition among cities for private investment have prompted local governments to invest in these centers to attract activities, which has affected their real estate market dynamics. This article compares how these market dynamics have occurred in the Historic Centers of Recife, Belém and São Luís (Northeastern Brazil) and the effects on their spatial organization, showing their regularities and specificities. As a result of these dynamics, pre-existing spaces (degraded areas) are sometimes reproduced or, otherwise, recreated by way of requalification. This reveals the different ways in which these centers are inserted in the global economy.

INTRODUÇÃO

Várias têm sido as análises sobre os recentes processos de intervenção urbanística em centros históricos brasileiros. Em geral, esses estudos têm-se concentrado nas mudanças dos perfis socioeconômicos das atividades lá existentes, ou mesmo na dinâmica demográfica, com ênfase nos processos de gentrificação e/ ou de reconversão urbana, especialmente para fins de moradia. Com isso, apesar da centralidade atual do tema – centro histórico –, até o início da presente década, permaneceu uma lacuna, em termos de estudos a seu respeito, em condições de subsidiar o entendimento das implicações desses processos sobre o funcionamento do mercado imobiliário nesses espaços. Isso motivou o desenvolvimento da pesquisa, que envolve os centros históricos do Recife, Belém e São Luís, iniciada em 2012.

Tais processos de intervenção urbanística, em especial os verificados a partir dos anos 1990, acham-se intrinsecamente associados às baixas taxas de crescimento da economia brasileira e ao decorrente movimento da sua inserção no mundo globalizado, movimento este que insere, diferentemente, os centros históricos – total ou parcialmente – nos seus circuitos econômicos.

Segundo Santos (2008), as economias não desenvolvidas estão segmentadas em duas partes que, a despeito de suas profundas diferenças, funcionam de forma articulada no processo de acumulação de capital. O circuito superior é constituído por atividades caracterizadas por apresentar: alta tecnologia; organização formal; relevantes inversões de capitais; qualidade elevada de produtos e serviços; baixa geração de emprego com elevados rendimentos e salários. Já o circuito inferior é formado, predominantemente, por atividades de: baixa tecnologia; organização predominantemente informal; preços baixos e qualidade inferior de produtos e serviços; alta capacidade de absorção da força de trabalho com rendimentos e salários reduzidos.

Silveira (2007), por sua vez, ressalta a forte interface dos dois circuitos e denomina circuito superior marginal a miríade de atividades que se distribuem em áreas de diversidade e especialização funcional, muitas delas situadas em centros comerciais tradicionais, em imóveis antigos ou pouco conservados. Tais atividades, normalmente de pequeno porte, combinam tecnologias e formas de organização tradicionais com tecnologias avançadas disponibilizadas pela popularização dos recursos da informática.

As dinâmicas socioespaciais endógenas, associadas à maneira como os espaços centrais históricos se incorporam à economia globalizada, são fundamentais para a compreensão das transformações que se vêm realizando nos referidos centros históricos; transformações que, em última instância, são operadas pelos seus respectivos mercados imobiliários.

Importa anotar que diversas análises já foram realizadas sobre cada um dos centros estudados no âmbito da referida pesquisa. Restava desenvolver um estudo que confrontasse os resultados alcançados em cada um deles. Daí o objetivo deste artigo: comparar as recentes dinâmicas socioespaciais dos mercados imobiliários de aluguel e de compra e venda nos centros históricos das cidades do Recife, Belém e São Luís.

Para isso, primeiramente, enfocam-se as intervenções urbanísticas realizadas a partir do início do século XX nos três centros. Posteriormente, utilizando-se dados dos Censos Demográficos do IBGE de 1991 e 2010, desagregados por bairros, expõe-se a evolução do submercado de locação residencial, mostrando as diferenças observadas no interior de cada um dos centros estudados e entre eles. Por fim, com base em dados do Imposto de Transmissão de Imóveis (ITBI), as atenções voltam-se para o mercado de compra e venda, enfocando ape- nas os Centros Históricos de Recife e de Belém, pois não há dados disponíveis para o Centro Histórico de São Luís.

O artigo completo está disponível no site da Revista Cadernos Metrópole.