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O Núcleo Porto Alegre do INCT Observatório das Metrópoles promove o lançamento do livro “Habitação e Metrópole: representações e produção da cidade em disputa”. Organizado por Álvaro Luiz Heidrich e Rosetta Mammarella, a publicação reúne textos que reconstituem as experiências de fabricação do espaço urbano e apontam a Metrópole como a configuração de um espaço social novo, múltiplo e processual, mediador de uma interlocução múltipla de necessidades, precariedade e possibilidades.

O livro “Habitação e Metrópole: representações e produção da cidade em disputa” reúne um conjunto de estudos que tem como foco central a produção da cidade como espaço de planejamento, representações e disputas pela moradia que foram realizados no contexto acadêmico como dissertações e teses. Tem como autores, na sua maioria, pesquisadores integrados ao Observatório das Metrópoles, Núcleo Porto Alegre, no âmbito do projeto “Estuturação territorial, dinâmica socioespacial e governança: efeitos sociais e processos de transformação nas Aglomerações Urbanas do Rio Grande do Sul – 1991/2010” desenvolvido no âmbito do Programa de Apoio A Núcleos Emergentes (PRONEM/FAPERGS/CNPq).

O núcleo Porto Alegre, sediado no Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (ILEA), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, consoante com os objetivos da rede nacional, mantém seu propósito de constituir uma rede regional de caráter plurinstitucional e pluridisciplinar, aliando suas atividades de pesquisa e ensino com a realização e promoção de atividades que possam influenciar as decisões de atores que atuam no campo da política pública, tanto na esfera do governo, como da sociedade civil.

“Habitação e Metrópole: representações e produção da cidade em disputa” (Editora Imprensa Livre) insere-se em um processo de transição paradigmática, pois a partir da reconstituição das experiências de fabricação do espaço urbano, a Metrópole configura-se como emergência de um espaço social novo, múltiplo e processual, mediante uma interlocução múltipla de necessidades, precariedades e possibilidades.

Seu tema geral trata do fenômeno de construção das metrópoles, enquanto representações e práticas. Inicia pela definição da Metrópole enquanto efeito de uma disputa por espaço, idéias e moradia no capítulo escrito por Álvaro Luiz Heidrich, Iara Regina Castello e Paulo Roberto Rodrigues Soares. Em seguida, analisa as perspectivas do futuro da cidade, a partir das Representações e Práticas de Planejamento Urbano – capítulo de Milton Cruz e Luciano Fedozzi. Depois, estuda o caso do município de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (Danielle Heberle Viegas).

Um segundo conjunto de trabalhos estuda os processos de fabricação do espaço urbano. Por um lado, uma análise da promoção imobiliária, mediante o estudo da oferta de imóveis residenciais Novos em Porto Alegre (Júlia Ribes Fagundes). Em segundo lugar, um estudo das Políticas Habitacionais na produção da cidade, enfocando o caso de São Leopoldo (Viviane Florindo Borges). Finalmente, as vivências em um bairro de Porto Alegre, a Restinga, foram reconstituídas por suas práticas e representações (Nola Patrícia Gamalho).

Identificamos diversas formas de construção da cidadania, desde o aumento dos serviços públicos coletivos até a multiplicação do setor associativo, refletindo uma melhor organização da sociedade civil. Afinal, esses foram espaços que sediaram, desde os anos de 2001, os fóruns sociais mundiais. Houve muitas lições das cidades ao longo do planeta que se fizeram ouvir.

Este estudo chegou à conclusão de que existe uma diferenciação de dimensões estruturais cuja espacialização é diversa: trata-se de um esforço de cartografia social que permitiu a caracterização da metrópole meridional como um espaço urbano diferenciado e complexo, com um emergente processo de segregação social.

As análises, por seu rigor e imaginação, possibilitam também a compreensão de novas possibilidades: as relações entre os grupos, categorias e classes sociais vem revelando dilemas societários entre a segregação social e o reconhecimento da diferenciação social e cultural no espaço urbano das Metrópoles na Era da Mundialização de Conflitualidades.

A questão que se coloca é que estamos diante de um desafio de inventar a cidade nova, transcultural, diversa e diferenciada, na qual a cidadania para todos seja o horizonte, eivada das possibilidades emancipatórias de uma metrópole, portadora de outro, possível, padrão civilizatório mundial.

Para mais informações sobre o livro “Habitação e Metrópole: representações e produção da cidade em disputa” , acesse o site da Editora Imprensa Livre.

Habitação e Metrópole

Por João F. Rovati

A cidade é a mais constante tentativa feita pelo homem no sentido de refazer, conforme sua vontade, o mundo em que vive. Ao construí-la, o homem se refez e constituiu o quadro de vida no qual está condenado a viver. Esse desígnio, que há quase um século orientou os estudos urbanos pioneiros da Escola de Chicago, talvez jamais tenha sido tão evidente como é de hoje, especialmente no Brasil.

Em 1940, pouco mais de 10 milhões de brasileiros viviam em cidades, o que correspondia a 26% da população. Em 1950, essa proporção alcançou 36% e, em 1960, chegou a 45%. Em 1970, aproximadamente 53 milhões de brasileiros residiam em cidades, o que finalmente correspondia a maioria (56%) da população. Apenas quadro décadas depois, em 2010, 160 milhões de brasileiros viviam em cidades – 84% da população do país.

Esta impressionante evolução demográfica, expressão das grandes transformações conhecidas no país ao longo do século 20, foi acompanhada de mudanças notáveis em todas as esferas da vida social. Nesse período, a população brasileira não apenas tornou-se majoritariamente urbana como também testemunhou e protagonizou o surgimento de grandes cidades e metrópoles.

Os trabalhos reunidos neste livro encontram na habitação a temática que os articula.

Todavia, a habitação comparece aqui como uma espécie de “porta” para o ingresso em um campo de pesquisa que, apesar de sua extraordinária importância no plano social e das ciências, ainda não recebe o apoio e atenção que demanda.

Vive-se na cidade. E, na cidade, habita-se. A condição de moradia diz muito sobre a vida dos que residem na cidade. O habitar e o viver na cidade devem ser pensados como expressões de uma totalidade a partir da qual se articulam, no e através do território, processos econômicos, sociais e culturais diversos e conflitivos.

Desse ponto de vista, os textos desta coletânea mostram, também, que nossas dificuldades em termos de gestão e planejamento relacionam-se estreitamente às fragilidades políticas da nossa jovem democracia.

Hoje, aparentemente, vivemos um tempo em que o destino do lugar no qual estamos condenados a viver é determinado mais pelos homens de negócio do que pelo cidadão. A superação desse deriva certamente não é um assunto que diz respeito somente aos governos, mas desafia toda a sociedade.

Última modificação em 04-02-2016 13:41:47