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Catharina Nunes Cruz¹
Sarah Lúcia Alves França²

Nas últimas duas décadas, a paisagem urbana da Barra dos Coqueiros foi transformada em decorrência da construção de diversos empreendimentos fechados, especialmente aqueles de grande porte, denominados condomínios pé-na-areia, localizados às margens da faixa de praia. Utilizando-se das belezas naturais da região, até então caracterizada por sítios, casas de pescadores e baixa densidade ocupacional, essa paisagem tem sido substituída por empreendimentos que  enfatizam a exclusividade e homogeneidade como ideia de elevada qualidade de vida. Algumas pesquisas recentes do Núcleo Aracaju do Observatório das Metrópoles tem apontado os impactos sobre a urbanização crescente e as transformações no ambiente urbano do município, além da complexidade das dinâmicas que envolvem a Região Metropolitana de Aracaju (RMA), a qual Barra dos Coqueiros está inserida, e como elas causam impactos na sociedade.

Alguns fatores fizeram da Barra dos Coqueiros um novo eixo de expansão imobiliária: a construção da ponte Construtor João Alves em 2006, que interliga Aracaju à Barra dos Coqueiros, promovendo fácil acesso do centro de Aracaju à sede; a Ação Civil Pública (ACP) instituída pelo Ministério Público Federal em 2009, com determinação pela Justiça Federal do bloqueio de novas licenças para empreendimentos na antiga Zona de Expansão Urbana de Aracaju (França, 2019). A revisão do Plano Diretor Sustentável e Participativo da Barra dos Coqueiros (PDSP) em 2016, ampliou os limites urbanos, ampliando-o para todo território municipal, o que possibilitou o parcelamento do solo, em consonância com a determinação da Lei nº 6766/79 de que apenas as áreas urbanas podem ser passíveis da implementação de loteamentos, ou outros empreendimentos imobiliários.

Além disso, soma-se a presença de elementos naturais, como faixa litorânea, coqueirais; a baixa densidade ocupacional; a disponibilidade de terrenos com maiores dimensões e com baixo valor, comparado a da capital, possibilitam a construção de empreendimentos de grande porte, como os condomínios horizontais fechados e os loteamentos de acesso controlado. Sem dúvida, essas tipologias ganharam força com a pandemia da Covid-19, quando várias famílias de classe média, média alta e alta, que viviam em apartamentos em Aracaju, optaram por mudar seu cotidiano, valorizando a vida numa moradia mais ampla, aberta, segura e exclusiva.

Isso ficou evidenciado pelos dados do Censo Demográfico do IBGE para 2022, que apontou a Barra dos Coqueiros como o município com maior taxa de crescimento populacional e domiciliar no Estado de Sergipe entre 2010 e 2022. O número de domicílios permanentes quase triplicou nesse período, sendo que em 2022 foram identificados 20.170 domicílios, 13.335 a mais do que os 6.835 domicílios cadastrados em 2010,  computando 197.045 em 2010 e 267.071 em 2022. Já em relação ao crescimento populacional, a Barra apresentou acréscimo de mais de 65% nesse mesmo período, 41.511 habitantes em 2022 comparados às 25.012 pessoas residentes em 2010, enquanto a população aracajuana teve um aumento de 6,26% (570.937 em 2010 e 602.757 em 2022).

Entretanto, é importante ressaltar, que esse crescimento imobiliário dificulta a atuação do poder público, ampliando a demanda por saneamento básico (principalmente esgoto e drenagem), equipamentos urbanos como escolas, postos de saúde, creches, praças, mercados etc, e serviços como transporte público, especialmente nas regiões mais distantes da sede, o que exige um volume de recursos grande para reduzir os impactos causados por essa rápida transformação. Os trabalhadores desses empreendimentos e os moradores nativos tem sofrido sérios entraves quanto à circulação a pé nesses espaços, face à ausência de calçadas, de arborização para promover sombreamento e segurança no caminhar, e da presença de altos e extensos muros, somados à deficiência do transporte coletivo, reduzindo a qualidade dos espaços públicos. Portanto, é fundamental buscar um equilíbrio entre o desenvolvimento urbano e a coesão social, considerando o impacto dessas transformações urbanas na vida dos cidadãos, especialmente aqueles originários.


¹ Arquiteta e Urbanista, graduada pela Universidade Federal de Sergipe, pesquisadora do Núcleo Aracaju do Observatório das Metrópoles.

²Arquiteta e Urbanista, Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Sergipe, pesquisadora-coordenadora do Núcleo Aracaju do Observatório das Metrópoles.