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O INCT Observatório das Metrópoles participou de reunião com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última sexta-feira, dia 12, de forma remota. A ideia é estabelecer uma parceria entre as duas instituições com foco na disseminação de dados e no desenvolvimento de políticas públicas. A iniciativa partiu do presidente do IBGE, Marcio Pochmann, que propôs a articulação de um diálogo com representantes da rede de pesquisa. O encontro contou com a participação de Pochmann e Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador nacional do INCT, além da técnica e geógrafa do IBGE, Daléa Soares Antunes, e de coordenadores e pesquisadores dos núcleos regionais do Observatório.

“Esse encontro, que é o primeiro de uma série, dá destaque à nossa expectativa de abrir o IBGE para a sociedade, comunidade, estudiosos e pesquisadores. Essa gestão está muito preocupada com a produção dos dados e de que maneira podem ajudar a transformar a realidade”, frisou Pochmann. Segundo ele, é importante entender como as informações estão chegando até os usuários e se há outras demandas, com o intuito de trabalhar de forma articulada e conjunta. Além da preocupação com a produção de dados, Pochmann explica que a instituição está focada na disseminação das informações, permitindo que sejam trabalhadas e interpretadas, visto que o IBGE apenas captura e as apresenta para a sociedade. “E aqui estamos falando com uma rede de pesquisa que interpreta os dados. É muito importante esse diálogo, porque nos dá a possibilidade de avaliar melhor como estamos disseminando a informação”, pontuou o presidente.

De acordo com Pochmann, descrever a informação é fundamental, mas é necessário um engajamento dos intérpretes desses dados numa conexão com política pública, especialmente numa mudança de época em que estão ocorrendo operações fundamentais na geografia brasileira e na geoeconomia. “Nosso objetivo é estabelecer uma possibilidade de agenda para poder interagir e utilizar melhor as informações do IBGE. Só este ano, devemos divulgar 314 pesquisas, uma massa de informação enorme. Por isso, estamos dando ênfase na disseminação”, ressaltou. A técnica e geógrafa do IBGE, Daléa Soares Antunes, mencionou a importância de poder compartilhar e articular ideias que possam subsidiar políticas públicas de caráter socioterritorial. “Gostaria de agradecer a oportunidade de dialogar com o INCT Observatório das Metrópoles, com usuários do IBGE tão qualificados. É um privilégio participar de um processo de escuta em que há oportunidades de entender melhor o que se espera da instituição”, observou.

Informação e conhecimento para intervir na agenda pública

O Observatório é um usuário sistemático das informações do IBGE. A rede realiza trabalho de pesquisa que tem como base gerar fundamentos empíricos daquilo que coloca em discussão, entre os temas trabalhados no programa de pesquisa. “Tentar buscar o máximo possível de evidências empíricas daquilo que estamos afirmando faz parte do nosso trabalho acadêmico, com a ideia de que não somos apenas um programa de pesquisa. Pretendemos ser uma instituição que produz informação e conhecimento para intervir na agenda pública”, afirma Ribeiro. Para ele, quanto mais fundados empiricamente naquilo que se quer discutir, maior a chance dessas ideias e concepções terem uma audiência e capacidade de intervenção. “Essa busca é algo que nos capacita para incidir no debate público. Estamos interessados no projeto não só como usuários das informações, mas como grupo que orienta a ação do IBGE. Temos essa função de transformar dados em informação no sentido de qualificar através de uma perspectiva de análise. Estamos dispostos a estabelecer uma relação com o IBGE para afirmar essa política e fortalecer essa proposta”, conclui.

De acordo com Ribeiro, seria interessante coordenar ações no sentido de criar um sistema de informações em escala metropolitana, que poderia ser uma frente possível para estabelecer cooperação e parceria com o IBGE. Sobre escala, a geógrafa Daléa Antunes explica que o IBGE está trabalhando com o conceito de concentrações urbanas, que envolve cerca de 10% dos municípios. “O Censo 2022 identificou um total de 5.571 municípios e mais ou menos 650 em concentração urbana. Atualmente, temos a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) que trabalha com região metropolitana, mas podemos pensar em uma oficina sobre expandir os dados do IBGE para a escala da metrópole”, argumentou.

Perspectivas da parceria

Na ocasião, o coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles pontuou alguns elementos que podem compor um protocolo de interação com o IBGE. As reuniões posteriores servirão para aperfeiçoar as ideias e chegar em um acordo com propostas de ações, parcerias e cooperações. O primeiro tema geral e estratégico é a questão da soberania nacional dos dados, ou seja, uma parceria que fosse na direção de um resguardo da soberania dos dados para proteger as informações cadastrais que, de alguma forma, estão sendo ameaçadas em função das intervenções de grandes empresas. “A ideia seria unir os produtores de informações cadastrais com o IBGE, para pensar esse tema e desenvolver estratégias de proteção dessa soberania”, mencionou Ribeiro.

Outro ponto é a ideia de desenvolver conjuntamente e de maneira sistemática a produção e disseminação do conceito de bem-estar urbano, já criado pelo Observatório. O Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU) mensura o nível das condições urbanas necessárias para se viver nas cidades, especialmente nos grandes centros urbanos do país. “Poderíamos aperfeiçoar nessa conexão com o IBGE, em função das possibilidades de desenvolver mais essa ideia tanto no sentido conceitual, mas sobretudo no sentido operacional”, afirmou Ribeiro. Para ele, a construção de um sistema que mensura o grau de bem-estar urbano das cidades brasileiras seria bastante relevante em termos de debate de políticas públicas.

O terceiro ponto seria a ideia de um sistema de informação sobre as metrópoles, com a perspectiva de haver um lugar em que o usuário possa ter acesso a dados sistematizados sobre a realidade metropolitana. “Poderia ser um sistema aberto e interativo, onde as informações, uma vez cadastradas e difundidas, tornem-se acessíveis não só ao especialista técnico, mas também ao militante, ao ator da política pública a nível local”, sugeriu Ribeiro. Segundo ele, as informações são importantes especialmente no debate das periferias, que significa desenvolver um conhecimento que não se tem sobre essa realidade. A ideia é um sistema que vá além da disseminação de dados, mas que crie uma dinâmica de produção, difusão e atualização interativa dessas informações.

O último ponto seria acerca da conexão do Observatório com o IBGE para aumentar a leitura sobre as novas tendências espaciais do território brasileiro, na lógica da expansão do rentismo, agronegócio, extrativismo e das ações geopolíticas que estão em curso, em termos de alavancar e mobilizar o território brasileiro. Criar uma dinâmica que permita fazer uma leitura e monitoramento sobre essas grandes tendências que estão acontecendo, mas que ainda não estão completamente sistematizadas em dados. Conforme Ribeiro, essas tendências podem ser exploradas a partir das informações que já existem, resultando no desenvolvimento de hipóteses que alimentem um trabalho mais sistemático de pesquisa sobre as novas grandes transformações territoriais do país nas múltiplas escalas. “Seria a nova dinâmica espacial do capitalismo no século XXI no Brasil. Poderíamos unir esforços para desenvolver análises que produzam um cenário e incentivem a pesquisa mais geral em termos de hipótese do trabalho”, finalizou. As próximas reuniões devem ser focadas nessas possibilidades de frentes de trabalho.