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Favela no Rio de Janeiro com Cristo Redentor ao fundoFavela no Rio de Janeiro com Cristo Redentor ao fundo  Crédito: UOL/Reprodução

O Rio de Janeiro do século XXI continua o mesmo. Apesar do último ciclo de crescimento, advindo da realização da Copa 2014 e dos Jogos Olímpicos 2016, esta cidade-metrópole continua reproduzindo em seu interior o modelo urbano desigual constituído quando da sua incorporação na segunda onda da modernização periférica nacional iniciada nos anos 1930. É o que mostra o artigo do professor Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro publicado na Revista Sociologias. Segundo o estudo, apesar os sucessivos ciclos de crise e de crescimento nas últimas três décadas, a metrópole do Rio não transformou a sua ordem urbana, que continua marcada por um modelo simultaneamente produtor e reprodutor de relações sociais de dominação e de lutas cujo epicentro é a apropriação do território como base de acesso seletivo aos recursos urbanos escassos, sejam eles materiais ou simbólicos.

O artigo “Metamorfoses da Ordem Urbana da Metrópole Brasileira: o caso do Rio de Janeiro”, de Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, foi publicado na Revista Sociologias (ano 18, nº 42, mai/ago 2016, p. 120-160), e utiliza como base as teses propostas no livro “Rio de Janeiro: Transformações na Ordem Urbana”para formular uma síntese interpretativa que elucide as mudanças ocorridas na metrópole do Rio de Janeiro no período compreendido entre 1980 e 2010.

Segundo Ribeiro, o artigo retoma alguns elementos históricos, teórico-metodológicos e analíticos que funcionaram como referências contextuais e pontos de partida para a consolidação da obra sobre a metrópole fluminense. Um desses elementos é a construção do conceito de ordem urbana e como este se expressa na organização do território da metrópole do Rio de Janeiro. “A análise mostra as relações específicas de poder social, econômico e político que sustentam a ordem urbana do Rio são baseadas em padrões de segregação como “distância social/proximidade territorial, distância social/distância territorial” entremeados pela manutenção da escassez urbana e relativa”, afirma o professor.

A seguir a Introdução do artigo.

Introdução

Métamorphoses, dialectique du même et du diferent; dégager les transformations historiques de ce modèle, souligner ce que ses príncipales cristallisations comportent à la fois de nouveau et de permanent, fût-ce sous des formes qui ne les pas immediatement reconnaissables.(Castel, 1995, p.16)

A epígrafe deste texto contém a essência da nossa síntese sobre a trajetória da metrópole do Rio de Janeiro nos últimos 30 anos. Contrariamente ao senso comum ordinário e mesmo erudito – que embalado por metáforas retumbantes negativas e positivas (tais como cidade partida ou cidade olímpica) vem buscando marcar rupturas e descontinuidades na ordem urbana em função de sucessivos ciclos de crise e de crescimento – cabe dizer que o Rio de Janeiro do século XXI continua o mesmo. Uma cidade-metrópole que reproduz em seu interior o modelo urbano desigual constituído quando da sua incorporação na segunda onda da modernização periférica nacional iniciada nos anos 1930.

Modelo urbano simultaneamente produtor e reprodutor de relações sociais de dominação e de lutas cujo epicentro é a apropriação do território como base de acesso seletivo aos recursos urbanos escassos, sejam eles materiais ou simbólicos. Mas se esta substância da ordem urbana do Rio de Janeiro tende a manter-se, por outro lado, observamos tendências à emergência de novas formas pelas quais ela se expressa.

O presente artigo se constitui como uma crônica da evolução histórica da metamorfose da ordem urbana no período 1980-2010, conforme a dialética do mesmo e do diferente. Ele tem como base a síntese de pesquisa realizada pelo Observatório das Metrópoles entre 2009-2015 sobre as mudanças da ordem urbana na metrópole do Rio de Janeiro, como parte do programa de investigação intitulado “Metrópoles: coesão social, território e governança” que em seu escopo realizou um trabalho comparativo entre 14 diferentes contextos metropolitanos brasileiros. Como base para nossa discussão partimos das seguintes indagações: quais os impactos na metrópole fluminense das mudanças econômicas e políticas ocorridas no Brasil nos últimos 30 anos? Podemos identificar sinais de transformações na ordem urbana? Qual a pertinência de tomar como referência em nossa análise o período compreendido entre 1980 e 2010?

O texto está divido em seis partes. Após esta introdução, a segunda parte apresenta de maneira sumária a formulação do conceito de ordem urbana que norteou a nossa análise. Por ele, buscamos analisar a articulação da organização social do território com os mecanismos de produção e reprodução das relações sociais. Na terceira parte, descrevemos os traços gerais dessa ordem urbana no Brasil como integrante das condições que presidiram as transformações sociais da sociedade brasileira na fase da industrialização acelerada iniciada nos anos 1940.

Na quarta parte, apresentamos como esses traços gerais se traduziram na metrópole fluminense em uma ordem urbana na qual as relações de classe vão se expressando em um padrão segregado e desigual de organização social expresso em uma dupla gramática social de distanciamento, hierarquia e desigualdade. Na quinta parte, sintetizamos a análise empírica das transformações de várias dimensões da ordem urbana ocorridas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro no período a partir de 1980. Por fim, concluímos refletindo sobre os mecanismos explicativos da reprodução desta ordem urbana, não obstante o período analisado comportar diferentes conjunturas econômicas e políticas.

Acesse o artigo completo na Revista Sociologias.

Rio de Janeiro: Transformações na Ordem Urbana

Quais as principais transformações urbanas ocorridas na metrópole fluminense nos últimos 30 anos? O Rio de Janeiro conseguiu aproveitar o ciclo de expansão decorrente da economia do petróleo e dos megaeventos esportivos para concretizar o projeto de “cidade global” do século XXI – melhorando seus fatores econômicos, políticos e de desenvolvimento humano? Ou o seu território deve ainda carregar a denominação de “cidade partida” ou “metrópole partida”, geradora permanente de segregação e exclusão urbana?

O INCT Observatório das Metrópoles divulga o livro “Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana” com a análise mais completa sobre as mudanças urbanas ocorridas na metrópole fluminense, no período que vai de 1980 a 2010, a partir de temas como estrutura produtiva, transição demográfica, organização social do território, mobilidade urbana, moradia, saneamento básico, governança urbana, entre outros.

 

Publicado em Artigos Científicos | Última modificação em 08-09-2016 16:18:25