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Metrópole, Estado e Capital

By 27/03/2013dezembro 11th, 2017Eventos

Como entender a mudança ou não do papel do urbano nesta nova etapa de expansão do capitalismo brasileiro? Partindo desse questionamento o INCT Observatório das Metrópoles deu início ao ciclo de debates “Metrópole, Estado e Capital” com o objetivo de interpretar as transformações vividas pelas metrópoles brasileiras no século XXI e oferecer a análise mais completa sobre a evolução urbana do Brasil nos últimos 30 anos (1980-2010). O primeiro debate contou com a participação do professor Carlos Eduardo Martins que apresentou os resultados do seu livro “Globalização, dependência e Neoliberalismo na América Latina”.

O ciclo de debates “Metrópole, Estado e Capital: o urbano na atual etapa da ordem capitalista no Brasil. Mudanças? Fundamentos teóricos” é mais uma das ações que o Observatório das Metrópoles vem realizando em 2013 a fim de produzir um estudo comparativo sobre as 15 principais regiões metropolitanas do país, relacionando as mudanças econômicas, sociais e políticas às dinâmicas urbanas nacionais, regionais e locais. Vinculado ao Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), o projeto tem como objetivo oferecer uma análise mais completa sobre a evolução urbana brasileira, servindo assim de subsídio para a elaboração de políticas públicas nas grandes cidades e para o debate sobre o papel metropolitano no desenvolvimento nacional.

 

Globalização, Dependência e Neoliberalismo na América Latina

O ciclo “Metrópole, Estado e Capital” realizou o seu primeiro debate, na última terça-feira (19/03), na sede do Observatório das Metrópoles no IPPUR/UFRJ, e contou com a palestra do professor Carlos Eduardo Martins – um das principais vozes a investigar o fenômeno da globalização.

Carlos Eduardo Martins e Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro

 

Ele apresentou os resultados do seu livro “Globalização, Dependência e Neoliberalismo na América Latina”, no qual cumpre a difícil tarefa de atualizar as teorias sobre esses três conceitos-chave para o pensamento contemporâneo e a compreensão das sociedades, principalmente as periféricas. Em uma época de grandes incertezas e enorme aceleração do tempo histórico, o autor se propõe o desafio de captar o movimento de crescente articulação entre o global e as particularidades regionais, nacionais e locais, bem como os choques entre forças sociais, políticas e ideológicas.

Mapeando as forças dinâmicas de um mundo paradoxal, Martins parte dos estudos de Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi sobre o capitalismo histórico e avança para uma discussão rigorosa da crise do moderno sistema mundial. “Estruturas, tendências seculares e ciclos permeiam o nosso trabalho, que não tem a pretensão de oferecer certezas matemáticas”, afirma o professor sobre a análise retrospectiva e prospectiva do livro.

Logo no início da obra, Martins apresenta uma introdução metodológica à globalização, com ênfase nas teorias do sistema mundial e da dependência. Nesse percurso, incorpora um elemento explicativo fundamental para a compreensão do processo de globalização: a teoria de Marx sobre a tendência decrescente da taxa de lucro provocada pela revolução científico-tecnológica, quando ciência e tecnologia entram no processo como meios de acumulação do capital.

O professor também busca identificar as tendências seculares e os ciclos para situar o espaço histórico da etapa atual do capitalismo e do sistema mundial em que vivemos. “Defendemos que a globalização é uma força revolucionária e, como tal, destrói e constrói. Entretanto, destruição e construção são processos relativamente autônomos e estabelecem uma dialética de desdobramentos imprevistos, onde um dos polos pode prevalecer e condicionar o outro”, afirma. “No momento em que estamos, a globalização não encontrou ainda sua estrutura institucional e societária criadora. Os períodos de crise sistêmica são épocas de bifurcações históricas, e nossa tese é a de que caminhamos nos próximos dez a quarenta anos para uma bifurcação totalmente nova, em relação às que se estabeleceram no moderno sistema mundial”.

Para discutir as relações entre dependência e desenvolvimento no moderno sistema mundial, Martins utiliza a análise empírica e as principais teses formuladas pelo pensamento latino-americano. Assim foi possível avaliar o papel do capital estrangeiro nesse processo, a persistência do subdesenvolvimento e da pobreza, os efeitos do neoliberalismo sobre a base econômica e social e os caminhos da elevação da renda e do bem estar dos latino-americanos.

O estudo contempla ainda uma análise minuciosa da crise do sistema mundial e da hegemonia norte-americana decorrente do desenvolvimento desigual e da superexploração dos trabalhadores, além de uma analise prospectiva das possibilidades da América Latina no século XXI e da influência sobre seu desenvolvimento da projeção da China na economia mundial. “O balanço da questão da hegemonia e das perspectivas do século XXI permite ao autor abordar um capítulo extremamente novo na história das ideias sociais ao estudar as relações entre a teoria da dependência e a teoria do sistema mundial”, diz Theotonio dos Santos no prefácio. “Creio que o leitor compreenderá rapidamente que este é um livro essencial e necessário, com grandes possibilidades de se converter num clássico das ciências sociais latino-americanas, sobretudo neste momento histórico, em que a região necessita de um rigoroso aparelho teórico para fundamentar suas políticas progressistas em marcha com crescente apoio popular”.

 

Última modificação em 27-03-2013