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O Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP) promove, entre os dias 15 e 16 de maio, o Seminário Internacional “Financeirização e estudos urbanos: olhares cruzados Europa e América Latina”. A proposta do seminário é debater as alterações estruturais ocorridas no setor imobiliário e de infraestrutura urbana desde os anos 1970. E contará com três conferências internacionais: Ludovic Halbert  (LATTS-CNRS), Manuel Aalbers (Universidade de Leuven/Bélgica) e Fabrice Bardet (Université de Lyon). A Rede INCT Observatório das Metrópoles é uma das apoiadoras do evento.

As inscrições vão até o dia 16 de abril.

O Seminário Internacional “Financeirização e estudos urbanos: olhares cruzados Europa e América Latina” contará também com duas mesas redondas com a participação de pesquisadores de diversas instituições brasileiras (USP, Unicamp, UFABC, UNESP, UFF, UFRJ) e seis grupos de trabalho, com trabalhos que vêm se destacando nos estudos urbanos latino-americanos.

A relevância científica do evento diz respeito à possibilidade de recriação da pesquisa urbana considerando de maneira conjunta o imobiliário e a infraestrutura, articulando Sociologia, Geografia, Economia, Arquitetura e Urbanismo. O evento busca ir além da interpretação do produto, abarcando a análise da produção do espaço inteiro. A sociedade urbana já adentra-se no século XXI e é preciso compreender de modo aprofundado as estratégias de produção imobiliária e de infraestruturas.

PÚBLICO ALVO

De um lado, o Seminário se destina aos professores e pesquisadores que se dedicam aos estudos urbanos, com ênfase nos processos recentes de reestruturação imobiliária e urbana. De outro, busca atrair pesquisadores em formação nos programas de doutorado, mestrado e iniciação científica sobre o tema.

SOBRE O SEMINÁRIO

A produção do espaço urbano se alterou profundamente nos últimos trinta anos diante da implementação de agendas neoliberais de desenvolvimento econômico e de políticas públicas e do aumento da importância dos circuitos transnacionais das finanças. Nesse processo, o setor imobiliário ganhou relevância na transformação estrutural do capitalismo contemporâneo, reconhecida por autores de diversos campos do conhecimento, como financeirização. De modo geral, a financeirização vem sendo tratada por três abordagens principais na literatura internacional: como regime de acumulação de capital; como lógicas e práticas de corporações pautadas pelo valor do acionista (shareholder value, “financeirização das corporações”); e como práticas das famílias (“financeirização do cotidiano”) (Van de Zwan, 2014; Aalbers, 2016).

Mais especificamente, em relação aos estudos urbanos, a financeirização vem sendo estudada por quatro escolas principais: economia do mercado imobiliário, infraestrutura urbana, políticas públicas e habitação (Attuyer e Halbert, 2016). Em comum, esses estudos revelam que a cidade não é mais somente financiada e produzida por atores urbanos históricos, tais como, proprietários, incorporadores, construtoras, Estado, bancos e, muitas vezes, habitantes (Lorrain, 2011).

Uma das maiores transformações está relacionada ao aumento progressivo do papel dos investidores financeiros na elaboração de grandes projetos urbanos e nos empreendimentos imobiliários. Mesmo em relação aos atores históricos, é possível notar adaptações e alterações em suas lógicas e práticas dentro desse contexto financeirizado, sejam eles privados (como no caso, os incorporadores – Coulondre, 2016) ou públicos (por exemplo, governos locais – Weber, 2015). Aalbers (2016) destaca que a habitação é um tema menos estudado no debate sobre financeirização, mas que vem ganhando destaque nos últimos anos considerando o contexto pós-crise subprime e os trabalhos sobre financiamentos e securitização de hipotecas, ao planejamento urbano, às residências privadas aliadas a serviços específicos e às políticas de subsídio.

Paralelamente a esse debate europeu, a literatura latino-americana também vem se dedicando à análise sobre a heterogeneidade nas formas de produção e de consumo da urbanização na região (Pirez, 2016). A intensificação da produção imobiliária e a expansão dos investimentos em infraestrutura nos países da América Latina, além de reforçarem a importância dessas atividades para a compreensão das mudanças urbanas e territoriais mais amplas, têm indicado uma crescente articulação entre os ramos e setores, impondo novos desafios para a compreensão da produção do espaço urbano, com crescente associação de agentes públicos e privados, que ora combatem a desigualdade – que no caso latino-americano, é estrutural – ora procuram se beneficiar. Neste sentido, há estudos que procuram associar ciclos imobiliários e crises econômicas (Daher, 2013; Socollof, 2015), valorização imobiliária e metamorfose urbana (Mattos, 2016), Estado e agentes privados na produção e na gestão de infraestrutura urbana (Conolly, 2015; Catenazzi, 2013).

No Brasil, o forte aumento do setor imobiliário suportado tanto pelo movimento importante de abertura de capital de grandes incorporadores e construtores quanto pela política habitacional e demais mecanismos institucionais de dinamização do setor, alimentou um campo acadêmico que vem se mobilizando recentemente. De um lado, há pesquisas sobre a aproximação entre setor imobiliário e finança, enfatizando a circulação de capitais e os efeitos territoriais das atividades imobiliárias (Fix, 2011; Sanfelici, 2013; Hoyler, 2014; Rufino, 2017). De outro, a construção da habitação e as estratégias das grandes empresas desde o canteiro de obras vêm ganhando destaque como objeto primordial de análise (Moura, 2011; Shimbo, 2012; Baravelli, 2017). Além disso, há os trabalhos que vão explicitar a financeirização da produção urbana (Sanfelici e Halbert, 2015; Rolnik, 2015) e da política da habitação (Royer, 2014).

Se a questão da financeirização da produção urbana está bastante consolidada no debate europeu, a identificação das convergências e dissonâncias entre os estudos latino-americanos e entre eles e o debate internacional ainda precisa ser discutida e amadurecida. Afinal, trata-se de uma reestruturação capitalista e de reconfiguração de cidades em nível mundial.

Neste sentido, o Seminário procura cruzar os olhares europeus e latino-americanos sobre as alterações estruturais ocorridas no setor imobiliário e de infraestrutura urbana desde os anos 1970. Busca, dessa forma, apresentar trabalhos que vem se destacando nos estudos urbanos e discutir sua articulação com as tendências que se fazem presentes no debate sobre a financerização, em dois eixos: i) Circuitos de capital, atores e conflitos na reconfiguração das cidades e ii) Estado, promoção imobiliária e valorização financeira.

Em termos metodológicos, este Seminário se organiza em dois momentos. O primeiro ocorrerá no período da manhã e se organiza em conferências de convidados internacionais, seguidas de mesas redondas com pesquisadores nacionais e internacionais, que são referências no debate contemporâneo nos estudos urbanos e financeirização.

O período da manhã será finalizado por um debate, procurando garantir uma articulação com as questões aqui propostas. O segundo momento será composto de três Grupos de Trabalho, em que o Comitê Científico escolherá 15 trabalhos sobre o tema do evento, procurando identificar pesquisas realizadas e em andamento e aumentar a interlocução acadêmica entre jovens pesquisadores da área. Ao final, haverá uma conferência de encerramento seguida de uma discussão geral, com mediação da Comissão Coordenadora, que buscará sintetizar as questões apresentadas e discutir agendas futuras de pesquisa.

Para mais informações, acesso o site do IAU/USP.