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“Urbanismo tático” — uma alternativa ao urbanismo neoliberal?

Estamos em meio a uma enorme crise – ecológica, social e política – de urbanização planetária sem que, aparentemente, consigamos conhecê-la ou mesmo delimitá-la. Para debater esse tema, a nova edição da Revista eletrônica e-metropolis divulga para os leitores brasileiros o artigo “Seria o urbanismo tático uma alternativa ao urbanismo neoliberal?”, do profº Neil Brenner da Harvard Graduate of Design (GSD/EUA). A partir de uma exposição realizada no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) entre o final de 2014 e meados de 2015, Brenner propõe um exame crítico do discurso em torno da noção de “urbanismo tático” como alternativa aos paradigmas modernista-estatista e neoliberal de intervenção urbana.

O INCT Observatório das Metrópoles vem difundindo para o público brasileiro os trabalhos do professor Neil Brenner e do seu Urban Theory Lab (http://urbantheorylab.net), que tem um papel relevante para o pensamento crítico em relação aos processos capitalistas de urbanização com foco na construção de uma nova Teoria Urbana mundial.

No novo número da Revista e-metropolis (nº 27) o artigo de capa aborda o tema do “urbanismo tático” como um modo mais progressista e produtivo de influenciar a urbanização mundial.

EDIÇÃO 27

Revista eletrônica e-metropolis é uma publicação trimestral que tem como objetivo principal suscitar o debate e incentivar a divulgação de trabalhos, ensaios, resenhas, resultados parciais de pesquisas e propostas teórico-metodológicas relacionados à dinâmica da vida urbana contemporânea e áreas afins.

É direcionada a alunos de pós-graduação de forma a priorizar trabalhos que garantam o caráter multidisciplinar e que proporcionem um meio democrático e ágil de acesso ao conhecimento, estimulando a discussão sobre os múltiplos aspectos na vida nas grandes cidades.

INTRODUÇÃO

POR NEIL BRENNER

Quais tipos de benefícios o “urbanismo tático” poderia oferecer às cidades que vivem sob a tensão do rápido crescimento populacional, que intensifica a reestruturação industrial (agravando a situação das infraestruturas físicas sociais – que passam a ser consideradas inadequadas), que aumenta em níveis cada vez mais crescentes a polarização das classes sociais (mantendo precariamente o funcionamento de instituições públicas em geral), e que ajuda a proliferar os desastres ambientais e a vertiginosa alienação popular?

Uma exposição apresentada sobre o crescimento desigual das cidades no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) pretendeu explorar essa questão através de intervenções especulativas formuladas por uma equipe de arquitetos cuja missão era apresentar propostas de desenho urbano para seis “megacidades” do mundo: Hong Kong, Istambul, Lagos, Mumbai, Nova York e Rio de Janeiro.

Essa exposição provocou um debate considerável a respeito da nossa condição urbana planetária contemporânea e, mais especificamente, sobre as capacidades profissionais dos arquitetos, designers, urbanistas e planejadores em conseguirem influenciar essa condição de forma mais progressista e produtiva.

Este debate é oportuno na medida em que os paradigmas herdados de intervenção urbana – desde aqueles presentes nos programas modernistas-estatistas da época do pós-guerra até as agendas “neoliberalizantes” e fundamentalistas do pós-1980 – parecem não ser mais viáveis de execução. Enquanto isso, como David Harvey observa em seu comentário sobre a exposição apresentada no MoMA, “a crise da urbanização planetária” está se intensificando. As megacidades e as economias territoriais mais amplas de que elas dependem parecem estar mal equipadas tanto em termos operacionais como políticos para resolverem os monstruosos problemas de governança e os conflitos sociais que enfrentam. Sob estas condições, Harvey declara sombriamente: “Estamos em meio a uma enorme crise – ecológica, social e política – de urbanização planetária sem que, aparentemente, consigamos conhecê-la ou mesmo delimitá-la”.

Contra esse pressentimento, os “urbanismos táticos” seriam capazes de oferecer soluções inteligíveis, ou, pelo menos, jogar luz sobre algumas perspectivas mais produtivas que ajudassem a delinear a projeção de futuros urbanos alternativos ao que se vê hoje? Seria irrealista esperar que qualquer abordagem única da intervenção urbana resolvesse os “problemas perversos” que enfrentam os territórios urbanizadores contemporâneos, especialmente numa época em que os modelos herdados para moldar as nossas condições urbanas são tão amplamente questionados.

Entretanto, apesar do tom cautelosamente exploratório dos textos opinativos de seus curadores no catálogo da exposição, o projeto do MoMA sobre o crescimento desigual articula um forte conjunto de reinvindicações sobre os potenciais do urbanismo tático. De fato, a própria decisão de dedicar as plataformas públicas do Departamento de Arquitetura e Design do MoMA a um conjunto de propostas em torno do que chamamos de “urbanismo tático” sugere uma afirmação desse conceito. Nos vários documentos e textos associados à exposição, a noção de urbanismo tático é apresentada a partir de um quadro interpretativo robusto para a compreensão de uma variedade de experimentos emergentes de projetos urbanos em megacidades contemporâneas.

O curador do MoMA, Pedro Gadanho, justifica a escolha desse conceito como base para estimular o debate e a experimentação prática sobre possíveis caminhos futuros de intervenção no design urbano e, acima de tudo, como meio de promover a “justiça social na concepção e apropriação do espaço urbano”. À medida que a busca por novas abordagens para reorganizar nosso futuro urbano planetário coletivo ganha urgência crescente, esses discursos amplamente afirmativos em torno de um urbanismo tático exigem um exame crítico

Leia o artigo completo de Neil Brenner no site da Revista e-metropolis.

Leia também:

Implosão/Explosão: rumo a uma Teoria da Urbanização Planetária

Revista e-metropolis nº 25 — Neil Brenner: a hinterlândia, urbanizada?

The urban age in question | Neil Brenner

EDITORIAL — REVISTA E-METROPOLIS 27

Apresentamos mais uma edição da Revista e-metropolis ao público, reafirmando a nossa preocupação em englobar diferentes aspectos da vida urbana. Nessa edição, fazemos um passeio por temas diversos que vão da apropriação do espaço público por skatistas à relação entre industrialização e urbanização, enfatizando mais uma vez o caráter abrangente da nossa publicação.

Começamos pelo artigo de capa, no qual, partindo de uma exposição realizada no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) entre o final de 2014 e meados de 2015, Neil Brenner propõe um exame crítico do discurso em torno da noção de “urbanismo tático” como alternativa aos paradigmas modernista-estatista e neoliberal de intervenção urbana. Com este artigo esperamos contribuir com o debate também no Brasil.

Continuamos pelos artigos, iniciando com o artigo escrito por Nelson Diniz e Luciano Hermes da Silva, “Contra-uso skatista de espaços públicos no Rio de Janeiro”, no qual os autores fazem uma análise comparativa de casos particulares de apropriação de espaços públicos por skatistas na cidade do Rio de Janeiro. A reflexão sobre o tema possibilita compreender aspectos mais gerais dos conflitos relativos à apropriação e à produção social do espaço e que, dependendo dos contextos e interesses envolvidos, o skate pode ser visto desde prática reprimida e intolerada a uma prática absolutamente aceita nos movimentos mais amplos de promoção da cidade.

No segundo artigo desta edição, “A cidade como problema sociológico: uma análise do pensamento de Georg Simmel e Louis Wirth”, Gabriel Tardelli busca tecer relações entre esses pensadores a partir dos textos seminais A metrópole e a vida mental (1902) e de O urbanismo como modo de vida (1938). Tendo as relações sociais na cidade como objeto, Simmel e Wirth, com suas abordagens específicas, ainda contribuem para ativar a potência do pensamento crítico sobre a cidade e o sujeito urbano.

Em nosso terceiro artigo, “Sobre a relação indústria e urbanização”, Ricardo A. Paiva analisa a relação entre urbanização e industrialização fordista e flexível no contexto da produção e consumo do espaço. Para isso, o autor discute algumas teorias acerca do vínculo entre o processo de urbanização e a lógica da produção industrial desde seu surgimento até chegar a chamada “produção flexível”, destacando o impacto da urbanização desigual nos países periféricos.

Prosseguindo, no ensaio fotográfico, Elena Lucía Rivero nos apresenta “Monumentos abertos à dinâmica urbana”, que busca apreender os múltiplos significados e usos possíveis de um importante monumento da cidade de Belo Horizonte. Inaugurado em 1930, o Monumento à Terra Mineira, em toda sua natureza materialmente rígida, se mostra envolto, apropriado e reapropriado em função das dinâmicas sociais.

Na seção especial, a socióloga Ana Luisa Queiros oferece um relato do processo de produção do curta documentário “Garimpando Memórias: olhares femininos sobre o Morro D’Água Quente”. Esse encontro entre antropologia e cinema – como a autora o define – trata-se de um projeto audiovisual que procura reconstruir, a partir da perspectiva feminina, as narrativas do cotidiano do garimpo na década de 80, no distrito do Morro D’Água Quente, localizado na cidade de Catas Altas em Minas Gerais.

Nesta edição, contamos com a entrevista “Gentrificação na França. Considerações sobre a gênese e história do conceito na sociologia urbana francesa”, realizada com a socióloga Catherine Bidou Zachariasen, uma das primeiras pesquisadoras a analisar os processos de gentrificação nos grandes centros urbanos na França. Durante a entrevista, realizada pelos pesquisadores e editores da Revista e-metropolis, Patricia Novaes e Samuel Jaenisch, a pesquisadora relata sua trajetória acadêmica na sociologia urbana e como o conceito da gentrificação foi incorporado nas análises sobre as estratégias residências das novas classes médias.

Com mais esse número somado ao conjunto de edições da e-metropolis nos despedimos de nosso leitor, sempre convidando-o a aproveitar os diversos aspectos da vida urbana que colocamos em nossas páginas para refletir sobre esse que é um dos temas atuais mais fascinantes: as cidades e suas dinâmicas. Até a próxima edição!