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Urbanização, migração e sustentabilidade no semiárido nordestino

No artigo “Urbanização, dinâmica migratória e sustentabilidade no semiárido nordestino: o papel das cidades no processo de adaptação ambiental”, Ricardo Ojima questiona as prevalentes visões negativas do crescimento urbano quando vistas pela ótica ambiental, argumentando que contextos territoriais distintos produzem respostas distintas, a exemplo da dinâmica urbana e migratória recente do semiárido nordestino brasileiro, apontando potencialidades e limitações para pensar o processo de adaptação diante do desastre natural mais significativo da região que é a seca.

O artigo “Urbanização, dinâmica migratória e sustentabilidade no semiárido nordestino: o papel das cidades no processo de adaptação ambiental?”, de Ricardo Ojima, é um dos destaques do Dossiê: “Sustentabilidade e Justiça Socioambiental nas Metrópoles”, da Revista Cadernos Metrópole nº 29.

Resumo

A problemática ambiental urbana costuma dar atenção aos centros metropolitanos, deixando às regiões de emigração tradicionais no Brasil o estigma de áreas rurais estagnadas. Entretanto, a transição urbana no país já é generalizada e tais regiões hoje se consolidando como urbanas exercem um papel decisivo na retenção da população. Do ponto de vista da sustentabilidade, o crescimento urbano não deve ser visto como uma questão negativa em si mesma, pois as transições urbanas refletem resultados distintos em contextos e momentos distintos. O artigo busca apresentar elementos que problematizem essa discussão dentro do processo de urbanização recente do semiárido nordestino apontando as potencialidades e limitações para pensar a adaptação diante do desastre natural mais recorrente na região: as secas.

Abstract

The urban environment issue usually focuses on metropolitan areas, leaving the traditional regions of emigration in Brazil stigmatized as stagnant rural areas. However, the urban transition in the country is already widespread and such regions, which have been consolidating as urban areas, play a decisive role in the retention of population. From the standpoint of sustainability, urban growth should not be seen as a negative issue in itself, because urban transitions reflect distinct results in different contexts and moments. Therefore, the article aims to introduce elements that problematize this discussion in the context of the recent urbanization of the Brazilian Semi-Arid Region, located in the Northeast of the country, showing the potentials and limitations to think about adaptation regarding the most common natural disaster in the region: droughts.

 

Introdução

Por Ricardo Ojima

Quando se discute a problemática ambiental urbana no Brasil, surge imediatamente a imagem de uma grande cidade localizada no contexto de uma região metropolitana cercada de poluição, áreas contaminadas, congestionamentos, etc. De fato, essa é uma realidade de praticamente metade da população urbana brasileira e, por essa razão, justifica-se todo o investimento e preocupação tanto dos estudos quanto das políticas públicas específicas. Entretanto, poucas vezes nos preocupamos com as questões ambientais urbanas de algumas regiões do país, tornando tais “problemas” muitas vezes invisíveis. Assim, muitas vezes relegamos a população dessas regiões à políticas públicas desarticuladas de acordo com as prioridades setoriais e arriscamos aprofundar injustiças sociais regionais.

A região nordeste é uma dessas regiões.Segundo os dados do Censo Demográfico 2010, é morada de 27,8% da população brasileira (53 milhões de pessoas) e é a segunda região em termos populacionais. Proporção que pouco se alterou desde o Censo Demográfico de 1980, quando os 34,8 milhões de habitantes da região representavam 29,3% do total do país. É ainda a região brasileira menos urbanizada (73,1%, em 2010), com uma proporção da população vivendo em áreas urbanas um pouco menor do que na Região Norte do país, mas que nos últimos anos tem se urbanizado rapidamente, trazendo com isso algumas preocupações.

Mas a análise da Região Nordeste não pode ser homogênea, pois possui contextos muito distintos, desde econômicos até ambientais.Do ponto de vista ambiental, foco central deste artigo, a dinâmica da urbanização apresenta situações não apenas distintas, mas que podem ser consideradas praticamente antagônicas, pois os desastres naturais ora afetam a população nordestina com eventos de extrema precipitação pluviométrica (chuvas) concentradas na porção litorânea, enquanto recorrentemente na região do Semiárido o principal desastre natural está associado às estiagens severas e prolongadas. Característica essa que costuma ser generalizada para toda região Nordeste no imaginário social.

Quando analisamos a distribuição da população nordestina a partir do recorte ambiental, a população residente na região do Semiárido correspondia a 40% do total da Região Nordeste no ano de 2010. Fato que não deve ser considerado irrelevante em termos de população afetada, pois são cerca de 21,3 milhões de habitantes vivendo em um contexto ambiental complexo e de extrema fragilidade social e econômica. Tais fatores teriam motivado a emigração de grandes contingentes populacionais ao longo dos últimos 50 anos; entretanto, poucas vezes tais fatores puderam ser devidamente comprovados, pois a existência de fatores de atração migratória na região Sudeste do país sempre tornavam complexa a análise dos fatores de expulsão da população dessas regiões do Semiárido. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é analisar o processo de transição urbana (passagem de uma população predominantemente urbana) da Região Nordeste a partir deste recorte ambiental de modo comparativo para melhor compreender a relação dinâmica dos fatores ambientais com aspectos migratórios, especialmente os fluxos rural-urbano.

Com isso, pretende-se argumentar a respeito do potencial positivo que as cidades exercem no sentido de favorecer a capacidade adaptativa dos habitantes da Região Nordeste e especificamente no Semiárido. Inicialmente, será desenvolvido um panorama dos fluxos migratórios recentes privilegiando o processo de urbanização; em um segundo momento, a partir das características sociodemográficas da população e das cidades, levantaremos hipóteses sobre o processo de adaptação aos fatores ambientais na região do Semiárido. Por fim, avaliaremos esse papel e a capacidade das cidades diante dos cenários de agravamento das condições ambientais.

Para ler o artigo completo “Urbanização, dinâmica migratória e sustentabilidade no semiárido nordestino: o papel das cidades no processo de adaptação ambiental?”, acesse a Revista Cadernos Metrópole nº 29.

http://cadernosmetropole.net/edicao/29