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Com mais de dois mil inscritos, a maior edição da história do XXI ENANPUR – Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional contou com a presença marcante do INCT Observatório das Metrópoles. Foram cerca de 100 pesquisadores e pesquisadoras engajados em mais de 80 atividades. O expressivo número de participantes se dividiu entre 62 Sessões Temáticas (ST), 18 Sessões Livres (SL) e cinco Sessões Especiais (SE), três Mesas Redondas (MR), uma Mostra Fotográfica, lançamentos de livros e uma reunião de planejamento. O XXI ENANPUR ocorreu de 19 a 23 de maio, no Centro Politécnico da UFPR, e contou com a participação do Núcleo Curitiba na Comissão Organizadora. Realizado a cada dois anos, o evento é o principal fórum de debate científico-acadêmico na área do planejamento urbano e regional do Brasil.

O tema desta edição foi “Ideias, Políticas e Práticas em Territorialidades do Sul Global”, cuja proposta era fortalecer o intercâmbio acadêmico Sul-Sul e refletir sobre políticas públicas, práticas urbanas e a descolonização do pensamento territorial. Na oportunidade, o Observatório promoveu o lançamento de livros de autoria dos integrantes da rede. Na terça-feira, dia 20, a coletânea “A nova urbanização dependente no capitalismo rentista-neoextrativista”, escrita por 40 autores e organizada pelo coordenador nacional do Observatório, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro e pelo pesquisador Nelson Diniz, foi lançada no espaço reservado para a rede no co-working em frente à Biblioteca do Centro Politécnico.

Somando a esse novo livro, também foram lançadas as obras “Estrutura social familiar nas metrópoles brasileiras”, “Padrões de produção do espaço na longa duração do capitalismo”, “Novos espaços de Estado, infraestrutura e território fluminense”, “Dinâmicas urbanas e desafios sociais”, “The games of land dispossession: urban Governance and sports mega-events”, “Periferias, reprodução social crítica e urbanização sem salário” e “O circuito imobiliário na América Latina: dependência, ditadura e neoliberalismo no Chile”. Todas as obras estão disponíveis e à venda no site da Letra Capital Editora. Na quarta-feira, 21, também foram lançadas as obras “Federalismo e gestão metropolitana no Brasil e no México”, “Inventário da habitação pública no RN: os conjuntos habitacionais da Cohab” e “Habitação e cidade: trocas latino-americanas”. Estes três livros estão disponíveis para download gratuito na Biblioteca Digital do site do Observatório.

O livro “Estrutura social familiar nas metrópoles brasileiras”, de autoria do coordenador do Núcleo Rio de Janeiro, Marcelo Ribeiro, trata-se de uma inovação a partir da compreensão das famílias, por meio de cinco dimensões, utilizando dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE. “É uma inovação porque, normalmente, se trata das famílias sobre uma das perspectivas, e aqui se constrói essa interação entre cinco dimensões: do arranjo familiar, da configuração de classe, da composição racial da família, do clima educativo e da composição de renda. O livro tem uma inovação interessante porque trabalhou com os dados da POF e permitiu fazer uma análise para o conjunto das metrópoles brasileiras”, pontuou Ribeiro.

Cerimônia de abertura e entrega dos prêmios ANPUR 2025

No dia 19, ocorreu a cerimônia de abertura do XXI ENANPUR, no Teatro Guaíra, em Curitiba. Durante a solenidade, foi realizada a entrega dos Prêmios ANPUR 2025 (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional). Do Núcleo Rio de Janeiro do INCT Observatório das Metrópoles, o pesquisador Vitor Boa Nova recebeu menção honrosa no prêmio de Tese de Doutorado, com o trabalho “Socialismo chinês, do planejamento aos projetos urbanos e de transporte: a planificação do desenvolvimento [urbano-regional] desigual como expressão [territorial] da “Nova Economia do Projetamento”, orientado por Hipólita Siqueira e coorientado por Elias Jabbour. Já Sandra Lencioni, do Núcleo São Paulo, em coautoria com Saint-Clair Trindade, venceu o prêmio de melhor livro por unanimidade, com o trabalho “Pesquisa socioespacial: reflexões sobre métodos e técnicas de investigação científica”.

Após a entrega das premiações, a programação seguiu com atividades culturais e a conferência de abertura, que contou com a apresentação do professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e professor colaborador convidado nas Universidades Federal de Goiás e Autônoma de San Luis Potosi (México), Carlos Frederico Marés de Souza Filho. Na ocasião, o atual presidente da ANPUR, José Júlio Ferreira Lima, ressaltou que o planejamento urbano deve se posicionar como uma prática ética. “Precisamos nos voltar e olhar para as potencialidades da cooperação Sul-Sul, construindo saberes e práticas urbanas mais sensíveis às nossas realidades. A resistência urbana é um ato de existência e a ANPUR tem um papel estratégico, pois é uma ponte entre a universidade e os territórios de luta”, salientou.

Mais de 70 pesquisadores(as) participaram de reunião da rede

Mais de 70 pesquisadores(as) dos Núcleos Regionais do INCT Observatório das Metrópoles participaram de reunião da rede dia 21, no Centro Politécnico da UFPR. Aproveitando as presenças durante a realização do XXI Enanpur, a reunião foi agendada para apresentar o novo projeto INCT, intitulado “Transformações da ordem urbana e desafios para o desenvolvimento urbano igualitário, justo, inclusivo, democrático e ambientalmente sustentável”; o IBEU (Índice de Bem-Estar Urbano), com o intuito de debater a execução de um comparativo do período de 2010 a 2025 baseado nos novos dados do Censo; além de discutir o planejamento 2025 e transmitir informes gerais da rede.

Logo no início do encontro, o coordenador do novo INCT, Orlando Santos Junior, confirmou que três novos núcleos estão sendo criados: Manaus, São Luís e Florianópolis. “Vamos realizar oficinas com os novos núcleos para consolidar a entrada no Observatório”, mencionou. Isso significa que ainda em 2025 a rede passará de 18 para 21 Núcleos Regionais. “Com o novo INCT e a criação dos núcleos, pretendemos continuar realizando um trabalho de protagonismo, mas também investindo na preparação teórica, conceitual e organizativa. Em julho, teremos um Seminário Nacional, onde serão discutidos o quadro teórico da hipótese da transformação da ordem urbana através da dominância rentista neoextrativista”, comentou o coordenador nacional do Observatório, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro.

Em seguida, o coordenador do Núcleo Rio de Janeiro, Marcelo Ribeiro, fez uma apresentação sobre as dimensões e o conceito do IBEU. Segundo ele, a construção foi a partir da divulgação dos dados do Censo 2010, que ocorreu em 2012. Naquela ocasião, o Observatório começou a trabalhar esse instrumento de análise de bem-estar urbano nas metrópoles. “Construímos o IBEU incorporando questões urbanas e não os atributos pessoais e individuais, ou seja, não é só pelo que as pessoas conseguem obter com recursos próprios, mas também o que a cidade oferece”, explicou. O IBEU é analisado em cinco dimensões: mobilidade urbana, condições ambientais urbanas, condições habitacionais urbanas, atendimento de serviços coletivos urbanos e infraestrutura urbana.

Agora, de acordo com Ribeiro, com a divulgação dos dados do Censo de 2022, a ideia é trabalhar a possibilidade de fazer uma análise evolutiva entre 2010 e 2025. “A estratégia é retomar este projeto e começar a partir de uma oficina, onde discutiremos o índice e faremos acordos para adaptações necessárias, com o objetivo de divulgá-lo em 2026”, vislumbrou. Lembrando os dados divulgados em 2012, Marcelo Ribeiro comentou que na comparação entre metrópoles, o Rio de Janeiro estava entre as piores do Sudeste; as metrópoles do Norte figuravam como as piores em geral e as melhores eram as do Sul. O município de Presidente Sarney, no Maranhão, era o município com pior IBEU do Brasil. “O IBEU tenta capturar a dimensão coletiva da vida urbana, é uma contribuição importante e é um índice simples que comunica com facilidade, o que nos interessa muito em termos do nosso ativismo acadêmico”, concluiu Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro. Ao final da reunião, foi aberto um debate sobre o IBEU com dúvidas dos participantes em relação à possibilidade de construir esses indicadores.

Sessões Livres (SL) abordaram temas diversos

Com relação às Sessões Livres (SL) que ocorreram no XXI ENANPUR, os temas foram desde a estrutura social familiar, papel do estado e do planejamento, impactos das mudanças climáticas nas metrópoles brasileiras – especificamente tratando do caso do Rio Grande do Sul, periferias, planos comunitários de redução de riscos e adaptação climática, ilegalismos e regimes urbanos, produção social do habitat e direito à cidade. Durante a SL 27, intitulada “Impactos das mudanças climáticas nas metrópoles brasileiras: o caso do Rio Grande do Sul”, realizada dia 20, o pesquisador do Núcleo Porto Alegre, Paulo Roberto Soares, falou sobre a catástrofe climática que atingiu a cidade-região de Porto Alegre em 2024. Soares destacou os múltiplos efeitos da tragédia, que afetou a economia local e expôs desigualdades socioespaciais, como no caso de Canoas, principalmente no bairro periférico de Mathias Velho.

A apresentação abordou ainda a complexa organização territorial do estado, marcada pela exploração de recursos naturais, como a extração de areia e os monocultivos, além de apontar a ausência de estrutura nos governos municipais diante de uma “policrise” agravada por disputas políticas e racismo ambiental. Mesmo com o PIB do estado crescendo 4,9% em 2024 – impulsionado pela safra e pela injeção de recursos pós-enchente, permanece o desafio do retorno das populações mais vulneráveis aos seus territórios. Soares chamou a atenção para a necessidade de um novo marco teórico e para os projetos em disputa entre governo federal, estadual, municípios, setor privado e sociedade civil.

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