Skip to main content

Luiz Cesar Ribeiro

Em entrevista para o Internacionalização Descentralizada em Foco (IDeF), Luiz Cesar Ribeiro, coordenador nacional do Observatório das Metrópoles, falou sobre o histórico e a atuação da rede, assim como a pandemia e seus reflexos sobre os espaços metropolitanos.

Ribeiro destacou o cenário pós-pandemia, prevendo uma agudização dos problemas sociais e econômicos referente às metrópoles, já que são espaços de concentração dos tradicionais problemas estruturais e sociais do país e, especialmente, pela inexistência de uma autoridade pública que tenha de fato a competência e a capacidade de agir na escala metropolitana.

O IDeF é um projeto de extensão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e funciona na forma de um observatório da cooperação internacional descentralizada, com foco em temáticas específicas voltadas para a governança local.

A seguir, confira alguns trechos da entrevista:

IDeF – Por que o foco do Observatório tem sido as metrópoles e como são conduzidas as pesquisas e a escolha específica dos temas dentro do Observatório?

A metrópole não é só uma cidade grande, ela tem uma dinâmica distinta da cidade stricto sensu. Então nós passamos a compreender a questão urbana na escala metropolitana em função da percepção que o Brasil é um país que tem um sistema urbano altamente complexo e que nesse sistema nós temos cidades com essa característica de se constituir na escala metropolitana.

Isso nos levou a pensar o recorte metropolitano como foco do nosso trabalho. Mas isso também se deve a compreensão que apesar da importância econômica, social e ambiental da questão urbana na escala metropolitana, pudemos perceber que há uma ausência acentuada de políticas públicas que criem uma intervenção coordenada dos entes públicos na metrópole. Ela na verdade é uma escala da urbanização brasileira completamente órfã de governabilidade – investidura de autoridade pública que possa ser considerada responsável pelo que sucede nas metrópoles. Então a ausência de uma governabilidade e de um sistema de governança na escala metropolitana foi um fato que nos levou a escolher o recorte metropolitano como nosso foco. Nós consideramos também, para entender vários aspectos da metrópole e do processo de metropolização, o que não está na metrópole, embora ela seja o nosso foco.

IDeF – O Observatório também tem atuado internacionalmente por meio de parcerias. Como funciona essa atuação internacional do Observatório e o processo de cooperação internacional de forma mais ampla?

Olha, nós temos uma diversidade muito grande de atividades de cooperação e intercâmbio e fazemos uma distinção entre elas. Intercâmbio significa circulação de pessoas, às vezes doutorandos e pesquisadores de um lado ou de outro que realizam intercâmbio entre instituições que participam dos projetos de pesquisas alinhados com os nossos. Isso é uma frente de atividades de relações internacionais que nós temos e essas atividades são mais fragmentadas, pulverizadas. Ao lado disso, possuímos as atividades de cooperação, e elas podem ser divididas em cooperação de um projeto de pesquisa comum – uma parte do nosso programa é objeto de estudo de um grupo de pesquisa comum, um grupo de pesquisadores do observatório e o grupo de pesquisadores de outra entidade internacional que, geralmente desenvolvem uma pesquisa comparativa entre metrópoles na Europa, EUA ou Brasil. Então significa projeto de pesquisa em cooperação. E outra frente de atividade na área de cooperação é cooperar com um projeto já existente, então um grupo de pesquisa possui um projeto que é afinado com um dos nossos e a partir daí se estabelece uma cooperação acerca dos resultados de cada projeto, de um lado ou de outro. Isso se difunde na rede, entre os núcleos e entre os programas de pesquisa, podemos dizer então que é uma grande quantidade de atividades de cooperação e intercâmbio que são realizadas de forma descentralizadas num projeto nacional. Embora alguns possam ter uma amplitude nacional, os projetos são descentralizados. A cooperação e intercâmbio são descentralizados entre os núcleos e dentro deles através dos programas de pós-graduação.

IDeF – Durante a pandemia de COVID-19, pudemos perceber que os grandes centros urbanos foram os mais afetados, como São Paulos e Rio de Janeiro no Brasil; Nova York nos EUA e Buenos Aires na Argentina. Na sua concepção, o que faltou às grandes metrópoles para terem maior sucesso no controle da pandemia? 

Por um lado, acho que vale a pena destacar esse fato, essas grandes metrópoles que possuem as características de uma metrópole global, pelas suas conexões econômicas, políticas e culturais passaram a ser o canal de transmissão da COVID-19 para dentro do país, exatamente pela característica de serem espaços globais, espaços que condensam as relações de cada país com o exterior. Então essas cidades passaram a ser o canal pelo qual a COVID-19 chega, aterrissa e se expande a nível nacional. Depois as metrópoles foram germinadoras da difusão, pois além de serem canais de comunicação com o espaço global são também um lugar em que se tem características sociais e urbanas que facilitaram muito a difusão do vírus. Então a aglomeração, a circulação e além disso as precariedades de todo tipo que caracterizam esses espaços urbanos. Foram lugares onde o meio urbano e social também facilitou muito a difusão, a nível nacional, do nível metropolitano para nacional, do polo para o interior. Então, as grandes metrópoles, mesmo as dos países ditos desenvolvidos, também tiveram uma dificuldade de enfrentar, porque elas foram as primeiras assaltadas pela dinâmica da expansão da COVID-19.

Rapidamente ela se difundiu, então a reação foi complicada de ser feita, e também o próprio controle através dessa ideia de uma disciplina social que permita diminuir a dinâmica de difusão é mais complicada no meio metropolitano, no meio social característico da metrópole. Além disso, você tem como marca dessa realidade a ausência de autoridade pública. Você tem autoridade em nível municipal, que integra a metrópole, mas não tem uma autoridade na escala metropolitana. As metrópoles tiveram dificuldade de reagir, não só pela forma como ela absorveu rápida e intensamente a circulação do vírus, mas também porque há uma ausência de autoridade pública. Então elas tiveram dificuldade de reagir por essa fragilidade institucional. Isso, eu acredito, é uma marca não só do brasil ou das metrópoles latinoamericanas, mas também de outros países, vejamos o caso de Nova York, que explodiu de casos.

Para conferir o conteúdo completo, acesse: idefufpb.com