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Economia social e suas conexões com a metrópole

By 25/11/2012janeiro 29th, 2018Chamadas

Entre os dias 18 e 20 de maio o Observatório das Metrópoles recebeu o Investigador-Docente Titular do Instituto del Conurbano (ICO) da Universidad Nacional de General Sarmiento (UNGS), José Luiz Coraggio,  que palestrou sobre o tema da economia social e suas conexões com a economia urbana. O encontro foi um desdobramento de intercâmbio e parcerias de pesquisas com o Observatório das Metrópoles, em torno da discussão sobre as grandes metrópoles da América do Sul.

De acordo com o pesquisador, há várias definições para economia social, como economia popular, solidária, comunitária, social e solidária, etc. O conceito desta forma de economia se contrapõe ao das teorias neoclássicas da economia de mercado. A economia capitalista que temos hoje está deslocada da sociedade, no sentido que se converte em um sistema de leis próprias desvinculada do controle político e social. Este tipo de economia vem demonstrando ser desastrosa pois gera um desenvolvimento desigual, excludente e que fragmenta as comunidades locais. Este tipo de desenvolvimento também provoca desastres ecológicos.

Para Coraggio, a economia deve ser social, não só por produzir e distribuir bens e serviços materiais, mas também por gerar e possibilitar outras relações sociais, outras relações com a natureza, outros modos de (re) produção, outras opções de vida em sociedade, diferente do paradigma capitalista.

Esta economia social se contrapõe ao livre mercado, à criação de monopólios e é definida como sistema de princípios, instituição e práticas que se dão na sociedade para organizar o processo de produção, de distribuição, de circulação e de consumo, garantindo da melhor maneira possível as necessidades humanas de todos os membros da sociedade.

Durante a palestra, o pesquisador argentino destacou três princípios da economia social:

– Os sistemas econômicos não são naturais: as economias são processos que se dão na sociedade, isto quer dizer que os sistemas econômicos não são naturais, e sim são construídos. Nesse sentido é necessário entender o processo de constituição da acumulação capitalista para se pensar nas economias hoje estabelecidas. Portanto é necessário pensar criticamente a economia propondo sua reestruturação.

– Princípio ético de responsabilidade cidadã: a economia necessita de um princípio ético, de responsabilidade social, garantindo que toda a população esteja incluída nos processos de produção e reprodução social.

– A compreensão da economia deve ser pluralista: existem muitas maneiras de se organizar a produção. O que se pretende é uma sociedade com mercado, mas não de mercado. Isto implica que o paradigma da empresa eficiente e de mercado autorregulado não pode guiar as práticas socioeconômicas, é necessário se reconhecer formas alternativas de economia.

Como bem ressaltou o pesquisador, esta corrente de pensamento vem sendo discutida em alguns países da América do sul, como Brasil, Bolívia, Equador e Venezuela. Na Bolívia e Equador encontram-se movimentos sociais muito atuantes na discussão de reconhecimento do sistema econômico social na legislação do país. Na Bolívia há um sistema plural, no qual se reconhece a economia de mercado, mas também a economia comunitária. Nas experiências do Equador, se reconhece a família, ou seja, a unidade doméstica como forma de organização econômica.

O conceito de economia social antes de tudo é uma proposta de um modo de pensamento que rompe com o pensamento dominante, pautado pela ideia de que vivemos em uma sociedade com a finalidade de produzir e trocar. Esse sistema tem força devido a naturalização do mercado e da economia capitalista, portando os fins da produção não são colocados em discussão, já está dado pelo mercado, só é produção apenas o que passa pelo mercado, o que não passa pelo mercado não é produção.

A economia social é também um projeto político de transformação societária, pois será necessário transformar a organização, o funcionamento da sociedade para se ter uma economia baseada na produção como um meio e não como um fim. Neste sentido é preciso mudanças de maneiras de pensar e nos valores dessa nova sociedade.

Este pensamento pode-se conectar a uma economia urbana, porque é na cidade que se coloca de maneira mais aguda esse mal estar da contradição de uma sociedade que se organiza com a lógica mercantil, com a mercantilização das relações sociais. É na cidade se tem a renovação dos valores, das aspirações, através das discussões e movimentos políticos e sociais.

Trata-se de construir uma sociedade superando o nível empresarial singular, gerando um conjunto complementar e progressivamente orgânico e autogestionado de atividades econômicas, com graus crescentes de auto-suficiência e reflexibilidade.

Por fim, Coraggio conclui que o processo para uma cidade orgânica e autogestionada requer a orientação tanto para a crítica ativa do sistema existente, como a perspectiva de uma utopia realista, da ideia fundamerntada nas multiplicidades de iniciativas populares, uma economia baseada no trabalho autônomo do domínio da hegemonia capitalista e dos mecanismos de exploração, uma economia cujo significado seja a reprodução de melhores condições de vida para todos os cidadãos.

Para ler mais sobre o tema acesse o website de José Luiz Coraggio: http://www.coraggioeconomia.org