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O INCT Observatório das Metrópoles disponibiliza em formato eletrônico o livro “Dinâmicas intrametropolitanas e produção do espaço na Região Metropolitana de Curitiba” (2009). A publicação é uma síntese do estado da arte sobre a produção do espaço da RM de Curitiba nas décadas de 1990 e 2000, a partir da abordagem de temas como internacionalização e globalização; direitos humanos; trabalho e economia; movimento pendular, ocupação urbana, entre outros. Uma das conclusões do estudo é que a metrópole curitibana transformou-se, nesse período, em um espaço único, diverso, heterogêneo e desigual.

O livro “Dinâmicas intrametropolitanas e produção do espaço na Região Metropolitana de Curitiba”, organizado por Rosa Moura e Olga Firkowski, foi publicado em 2009 pela Editora Letra Capital. A publicação é mais um resultado do trabalho da Rede de Pesquisa Observatório das Metrópoles.
A seguir parte do texto de “Apresentação” de “Dinâmicas intrametropolitanas e produção do espaço na Região Metropolitana de Curitiba”.
 APRESENTAÇÃO
Por Rosa Moura e Olga Firkowski

Na primeira parte do livro, intitulada A internacionalização da metrópole, anos 1990/2000, reúnem-se estudos temáticos, resultados de pesquisa direta com representantes de segmentos sociais diversos, depoimentos de lideranças de movimentos sociais, assim como as principais conclusões das atividades do projeto citado, realizado para a ONU avaliando o processo de internacionalização e seus efeitos na região. A riqueza dos artigos e das posições de representantes da sociedade civil metropolitana caracteriza esse momento de mudança, salientando seus custos e benefícios. Embora alguns dos textos sejam datados, no sentido de que trabalham com dados e informações referentes ao final dos anos de 1990, os mesmos representam o registro de importantes temas, que estão devidamente contextualizados para tal momento.
Desse modo, em “A internacionalização da metrópole e os direitos humanos”, Rosa Moura e Thaís Kornin resgatam e sintetizam parte das análises, discussões realizadas e conclusões obtidas no âmbito do projeto chancelado pela Comissão das Nações Unidas sobre Direitos Humanos. Oferecem um retrato da RMC na virada do século XX para o XXI, mostrando que Curitiba foi submetida ao mesmo processo de internacionalização que outras cidades brasileiras e latino-americanas, que produziu resultados também parecidos e que, mesmo sendo uma cidade planejada, não ficou imune às mazelas do processo, sobretudo na questão da moradia, cujo padrão excludente se manteve.
No texto “Considerações sobre o grau de integração da Região Metropolitana de Curitiba na economia internacional e seus efeitos nas transformações socioespaciais”, Olga Firkowski relaciona a intensificação da internacionalização da economia urbana de Curitiba às transformações socioespaciais, com ênfase na segunda metade dos anos de 1990, período no qual se acentuou a presença de capitais internacionais em atividades industriais e de serviços, sobretudo os especializados.
Em “Paraná: benefícios e custos do novo ciclo industrial”, Gilmar Mendes Lourenço apresenta uma reflexão sobre a emergência de um novo ciclo de transformações da estrutura produtiva paranaense, ancorado em seis vetores principais, respectivamente, a modernização do agronegócio; a ampliação do complexo madeireiro e papeleiro; a expansão da fronteira internacional; o aproveitamento das vocações regionais; a ampliação da infraestrutura a partir do tripé transporteenergia-telecomunicações; e a implantação do polo automobilístico na RMC. Nessa reflexão, o autor avalia as estratégias do modelo de internacionalização, pautado em isenções fiscais, que coloca o Estado do Paraná na arena da guerra fiscal em curso naquele final de século.
Em “A economia paranaense e o mercado de trabalho nos anos 90”, Sandro Silva e Cid Cordeiro analisam o mercado de trabalho paranaense do final dos anos de 1990, evidenciando as contradições existentes entre a propaganda oficial e a realidade da economia do Estado. Contestam a veiculação pelo governo da imagem de um Estado economicamente próspero, que tem como consequência da atração de investimentos uma elevada geração de empregos. Desmistificando essa imagem, apontam o desemprego presente e ressaltam que os empregos gerados aconteceram em maiorproporção no interior do Estado, e não primordialmente na Região Metropolitana, para onde estavam focados os novos investimentos incentivados.
“Globalização, municipalidades e direitos: o impacto nas políticas sociais da Região Metropolitana de Curitiba”, de autoria de Denise Ratmann Arruda Colin, Marcos Bittencourt Fowler e Sandra Mancino, analisa os impactos da globalização nas políticas sociais da RMC, com ênfase na política habitacional. Os autores partem do pressuposto de que os mecanismos de mobilização e participação popular devem funcionar como um mediador em face dos interesses do capital, e concluem que, em Curitiba, há omissão do Estado na garantia dos direitos sociais, entre eles, o direito à habitação – apesar de o slogan oficial adotado pela prefeitura de Curitiba, na época em que o texto foi produzido, ser o da “capital social”. A privatização, a terceirização e a baixa representação popular foram apontados como elementos centrais na análise. Para além da constatação dos problemas, ao final são oferecidas sugestões para a política habitacional em Curitiba.
Ainda na primeira parte do livro, há três textos relacionados a entrevistas e depoimentos. O primeiro, intitulado “Direitos Humanos e Globalização nas Regiões Metropolitanas do Mercosul: resultados das entrevistas na RMC”, de autoria de Rosa Moura e Thaís Kornin, sintetiza os resultados da pesquisa realizada em 2002, sobre os efeitos da internacionalização dos direitos humanos na população da RMC. Para tanto, as autoras se utilizam da aplicação de dois tipos de questionários, que versam sobre temas relevantes para a problemática dos direitos humanos e estão voltados a segmentos específicos da sociedade, a saber, policymakers, atuantes nas três esferas do governo, pesquisadores e executivos, e militantes dos movimentos sociais, originários dos vários municípios da RMC.
As conclusões perpassam manifestações positivas e negativas do processo, mais ou menos enfáticas de acordo com o segmento em questão. O segundo texto, “Situação dos direitos humanos na Região Metropolitana de Curitiba”, constitui um depoimento de Luiz Herlain, militante da Central de Movimentos Populares, que trata de sua experiência à frente de organizações populares, entre as décadas de 1980 e 1990, voltadas à luta pela educação, saúde e moradia dignas, revelando as particularidades de tais ações em Curitiba. O terceiro, “Mobilização na RMC”, constitui o depoimento de Hilma de Lourdes Santos, militante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM); após constatações sobre os efeitos nocivos do processo de internacionalização para a questão da moradia em Curitiba, enfatiza as ações propostas pelo MNLM, que vão além da oferta da habitação, incluindo a organização socioeconômica e política dos bairros, como forma de enfrentar a violação do direito à moradia.
A segunda parte do livro, intitulada A metrópole transformada: primeira década dos anos 2000, reúne artigos produzidos no âmbito de variadas pesquisas, algumas ainda em curso e relacionadas ao Observatório das Metrópoles/Instituto do Milênio/CNPQ. Pelo fato de tais pesquisas estarem sendo desenvolvidas no interior de institutos de pesquisa, universidades e organizações não-governamentais, revelam uma salutar multiplicidade de visões acerca das questões que envolvem a Região Metropolitana de Curitiba na atualidade.