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Por Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro
Coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles

A entrevista do sociólogo José Cláudio de Souza, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), muito ilumina a atual manifestação no Rio de Janeiro das consequências da “miliciarização” do Brasil. Vai além das opiniões da mídia hegemônica e das análises fenomenológicas dos chamados especialistas nos temas da segurança pública e violência urbana. Nos ajuda a tornar visível a capitulação da classe dominante brasileira do controle da nossa matriz espacial e a consequente entrega de territórios e camadas populares empobrecidas à gestão violenta realizada por grupos armados e aos seus interesses econômicos e de poder.

De longe assistem a este processo de decomposição do braço esquerdo do Estado brasileiro as frações rentistas ancoradas nas finanças e no extrativismo modernizado agropop, sempre empenhadas em lutar pelo fortalecimento do braço direito deste mesmo Estado, expresso na bandeira das restrições à expansão dos compromissos sociais das políticas públicas. Do que resulta no abandono das maiorias segregadas do trabalho, dos direitos e dos bens públicos, valioso ativos da expressão urbana da “miliciarização” do Brasil.

Faz lembrar o conceito de urbanismo militar proposto por Stephen Graham em seu livro “Cidades sitiadas: o novo urbanismo militar”, em versão tropical na qual a sua dimensão panóptica é substituída pela violência direta e pelo terror como práticas de controle, dominação e extração do binômio riqueza-poder.

A sociedade hegemônica brasileira cinicamente convive com o entrelaçamento do legal-ilegal, formal-informal, lícito-ilicito, enquanto seus interesses permanecem intactos. Mas apenas se mobiliza e problematiza esta realidade quando falham os “arregos” constituídos entre os atores encastelados no Estado, no sistema político e nos mercados ilegais que fazem este moinho satânico funcionar.

Veículo queimado pela milícia no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva (Agência Brasil).

O INCT Observatório das Metrópoles, sob a coordenação de Orlando Alves do Santos Junior (IPPUR/UFRJ), integra a Rede Ilegalismos e a Produção da Cidade, formada em 2019. No ano passado, a rede promoveu o Seminário “Na mira dos ilegalismos: uma agenda para o enfrentamento da militarização e da milicialização da cidade”, com o objetivo de discutir a militarização e a milicialização do Rio de Janeiro.

Confira a série de vídeos do seminário:

Para saber mais sobre o tema: